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março 24, 2005
Pros que estão em casa
(Romulo Portella e Flávio Murrah)
Até bem cedo esperei pelo telefonema
Tapando com peneira o sol que vai nascendo
Não vou tomar café nem escovar os dentes
Vou de aguardente como o sol que queima a praça
Bom dia, boa tarde, good night, quero dar um tapa
De topete e cara, vi Nova Iorque internada
Meu amor não deu em nada
Minhas sobrancelhas eriçadas
E a essa altura do fato
Nem fumaça tem cano de descarga.
Escute - Pros que estão em casa
Posted by Sandino at 11:40 PM | Comments (8)
março 22, 2005
O caso das melancias
Decisão proferida pelo juiz Rafael Gonçalves de Paula nos autos nº 124/03 - 3ª Vara Criminal da Comarca de Palmas/TO:
DECISÃO
Trata-se de auto de prisão em flagrante de Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, que foram detidos em virtude do suposto furto de duas (2) melancias. Instado a se manifestar, o Sr. Promotor de Justiça opinou pela manutenção dos indiciados na prisão.
Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos: os ensinamentos de Jesus Cristo, Buda e Ghandi, o Direito Natural, o princípio da insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado Direito alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados que sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na Universidade do Crime (o sistema penitenciário nacional),...
Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem nem empobrecem ninguém. Poderia aproveitar para fazer um discurso contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário. Poderia brandir minha ira contra os neo-liberais, o consenso de Washington... Poderia dizer que George Bush joga bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam fome pela Terra - e aí, cadê a Justiça nesse mundo? Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar diante de tamanha obviedade.
Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas: não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir.
Simplesmente mandarei soltar os indiciados. Quem quiser que escolha o motivo. Expeçam-se os alvarás. Intimem-se
Rafael Gonçalves de Paula
Juiz de Direito
Posted by Sandino at 01:20 AM | Comments (1)
março 21, 2005
Fulano e beltrano invitation...
Eu odeio o Orkut!
Por Carolina de Hollanda*
Não aderi, embora tivesse recebido vários convites, mas vi muita gente considerada culta, inteligente, bem informada, aderir. Para quem não conhece, Orkut é uma rede de relacionamentos onde uma pessoa convida outra para fazer parte de seu grupo de “amigos” e, uma vez lá dentro, participar de comunidades específicas de acordo com a afinidade de temas e assuntos.
Trata-se de uma das mais descaradas ferramentas a serviço da globalização e da neobarbárie que o capitalismo moderno já produziu. Infelizmente, essa nova mania engole um número cada vez maior de pessoas, os ciberviciados, que se constituem, aliás, uma nova demanda para psicólogos e psiquiatras.
A primeira demonstração disso é que a interface é totalmente escrita em inglês, claro. As pessoas ali podem não saber uma palavra do inglês sequer, mas para entrar e navegar no Orkut elas até respondem um questionário na língua do Tio Sam.
A segunda constatação é que o Orkut aliena e vicia, um de seus maiores problemas. Sob o pretexto de procurar amigos ou mesmo conhecer um pouco da vida do outro, nem que você nunca tenha visto esse outro “mais gordo”, as pessoas passam horas e horas ali, sentadas na frente do computador, quando poderiam estar se relacionando na vida real com seus filhos ou marido, mulher, lendo um livro, andando de bicicleta, tomando cerveja, sorvete, dormindo, enfim, fazendo qualquer coisa mais inteligente, saudável ou sociável que aquilo.
Em terceiro lugar, trata-se de um imenso banco de dados de consumidores em potencial, já que ali eles declaram praticamente tudo: idade, estado civil, credo religioso, modos de vestir e agir, seus gostos, enfim, exercendo gratuitamente a quem quer que seja a até então privada pesquisa de mercado, ferramenta usada pelas empresas para descobrir onde estão seus consumidores.
No Orkut, o privado vira público. Como celebridades nas páginas dos falaciosos tablóides ingleses, cada um tem sobre si um grande holofote. Em uma página própria, falam de si, elogiam a si próprios e são elogiados publicamente pelos amigos escolhidos para fazer parte de seu grupo. Como bem exemplificou o compositor carioca Ivo Meirelles num artigo publicado no site Viva Favela, “é quase como se fosse um BBB virtual, todo mundo dá uma espiadinha em todo mundo”.
Há no Orkut exemplos gritantes de desserviço prestados a uma comunidade, raça e até a uma nação. Um deles é o uso incorporado da língua inglesa, num clássico exemplo de dominação ianque e ataque à língua-pátria. Outro dia, uma pessoa agradecia a outra por o ter “add” em sua lista de amigos. Ora, o que é add senão adicionar em inglês? Isso nada tem de inocente, visto que uma das formas de dominação de um povo sobre outro se dá pela imposição da língua.
Hoje já não apagamos, mas “deletamos”; não anexamos, mas atachamos; não começamos um projeto, o “startamos”; as empresas não chamam mais seus clientes, fazem “recall”; nos eventos, o café da manhã virou “coffe-break”; o restaurante é “self-service”; e o banco na intenet é “net banking”; isso para citar apenas alguns exemplos.
É a cultura mundial americana, que o cientista político Benjamin Barber chamou de cultura McWorld, uma sociedade universal de consumo.
Proliferam também no Orkt comunidades racistas e reacionárias como: “Eu odeio negros”, “Eu odeio o MST”, “Eu odeio o PT”, “Eu odeio Judeu”, “Associação Neonazista”, “Mulheres Brancas Orgulhosas”, e por aí afora.
Só para citar um exemplo, a descrição da primeira é: “Essa comunidade foi criada para unir todos aqueles que sentem nojo, ódio, raiva e que repudiam esses negros fedidos. Então se você ODEIA NEGROS, faça parte da comunidade!!!” No final, o organizador da comunidade chega a pregar: “Faça algo de útil, mate um negro!!!”.
Não é à toa que o Orkut surgiu na internet. Só a www permitiria a reunião de milhares de pessoas tão diferentes em torno de uma verdadeira “aldeia global”.
A tecnologia não é boa, nem ruim, muito menos neutra. Muito antes do advento da internet, Marshall McLujan, um canadense estudioso da comunicação e uma das principais influências intelectuais do nosso tempo já escreveu: o meio é a mensagem. É o veículo e não a somente a mensagem em si, que realmente transforma a vida das pessoas. Seu uso, os hábitos que impõem, as mudanças que trazem ao cotidiano independem do conteúdo veiculado, da mensagem transmitida - o meio por si só é determinante.
Polêmico e profético.
Para quem achar que eu teorizei demais: os teóricos servem exatamente para isso. Como passam vidas inteiras estudando, se especializam em observar coisas que nós, “cidadãos comuns”, não conseguimos enxergar.
*Carolina de Hollanda é jornalista e mestranda em Comunicação
Posted by Sandino at 11:40 AM | Comments (26)
março 17, 2005
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
A própria revolução
Por Marcelo Teixeira*
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é um movimento social organizado e legítimo. Está à procura e uma sociedade mais justa e digna. Não há mal nenhum nisso. Dessa forma, busca terra improdutiva dada a fins especulativos e, na maioria das vezes, adquirida por meio de grilagem de terras públicas, portanto, de posse sem qualquer legitimidade. Há quase 20 anos, onde há latifúndio e a terra é usada para especulação, o MST faz pressão social para atingir seus objetivos.
O movimento surgiu em 1984, no Rio Grande do Sul, depois que a grilagem e o processo da mecanização das lavouras expulsou cerca de 30 milhões de agricultores do campo na década anterior. Rapidamente alastrou-se pelo país tornando-se cada vez mais forte, agressivo. Seus 50 mil militantes transformaram o campo num barril de pólvora, com marchas, ocupações de terras, rodovias, prédios públicos. Causam tanto incômodo que sua determinação serviram de estímulo para a criação da Associação dos Produtores Rurais, no Mato Grosso; o Primeiro Comando Rural, no Paraná; e ainda o ressurgimento da União Democrática Ruralista (UDR) e do Movimento Nacional dos Produtores.
Marcha do MST por projeto popular - 1999.
Neste ano, as ações do movimento já resultaram em 17 invasões em 23 estados, 13 mortes em conflitos com guardas armados, ocupações de 11 praças de pedágio no Paraná, reunião com o presidente. E o MST não pára. Reivindica o assentamento de 1 milhão de colonos até o final do mandato e Lula. Hoje há 100 mil acampados no país em situação de penúria. Mas os militantes estão dispostos a enfrentar a miséria dos acampamentos em troca de terra e dignidade.
Os opositores não devem se enganar. Os militantes não são baderneiros nem caipiras que só sabem trabalhar na roça, mas sim pessoas politizadas e conscientes da situação de injustiça social do país. Obviamente, o MST atualmente transcende a questão agrária, legitimamente. É um movimento que prega uma revolução. Trata-se dele próprio a revolução.
*Marcelo Teixeira é Jornalista
Posted by Sandino at 09:24 PM | Comments (14)
Picolândia - a cidade (capítulo V)
Bush é desmascarado e tropas recuam
Por Rodrigo Alves de Carvalho
Devido ao corte nas comunicações provocado pela invasão norte-americana em Picolândia, as histórias dessa cidade foram abruptamente tiradas do ar devido à falta de Internet na cidade. Afinal Picolândia não é Sud Mennucci.
O fato é que muita coisa mudou nesse espaço de tempo entre a invasão ianque e o restabelecimento da comunicação na cidade. O Blog Seresteros mudou de layout e a famigerada guerra em Picolândia esfriou. O inevitável se tornou apenas fogo de palha.
Como vimos no capítulo anterior, as forças norte-americanas haviam invadido a cidade e uma reunião na Câmara Municipal que iria tratar de promover a paz teve que ser suspensa. Tudo indicava que muito sangue iria ser derramado pelos soldados do diabo Bush e milhares de inocentes seriam jogados vala abaixo, como acontece nos países em que os Estados Unidos invadem.
Entretanto, o novo comendador tem uma idéia para que a paz voltasse a reinar em Picolândia. Em seu gabinete, o novo comendador ordena a seus secretários que fosse chamado mais que imediatamente o Retratista da cidade que estava exilado, juntamente com o autor da história e o Hacker Bisbilhoteiro que entra em qualquer lugar.
Nos recônditos ensolarados de São Paulo, próximo dos grandes rios, o retratista de Picolândia recebe um telegrama pedindo sua volta.
Chegando em Picolândia, o Retratista convoca o Autor da História e o Hacker Bisbilhoteiro para encontrarem um meio de expulsar as tropas ianques da cidade.
Fotos comprometedoras de soldados norte-americanos tratando mal ao povo picolandense tiradas pelo Retratista, juntamente com gravações das besteiras faladas no rádio por um vereador que estava com dor de cotovelo e principalmente as fotos que o Hacker bisbilhoteiro puxou na Internet onde George Bush aspirava farinha com uísque, louco pra dar ré no quibe... foram mais que suficientes para que o presidente norte-americano recuasse e retirasse imediatamente suas tropas de Picolândia.
O povo eufórico dava boas vindas aos novos heróis que voltavam para cidade. A ameaça da guerra por hora estava descartada, mas o mal ainda não estava por completo eliminado. Os cinco cavaleiros do mal ainda estão infiltrados na Câmara Municipal e esperam por ordens do velho comendador do mal que ainda tem planos para retomar o poder custe o que custar.
O Retratista no exílio: telegrama de Picolândia muda a história
Posted by Sandino at 09:01 PM | Comments (1)
março 12, 2005
Morena dos olhos d'agua
O folhetim de Chico
Por Marcello Lujan*
Era batata. Bastava conhecer uma menina interessante para ouvir: Gosto de Chico Buarque!
Como passei minha juventude trancafiada no punk-rock, achava a MPB tão chata. Para mim, era puro marketing, dava status gostar de Música Popular Brasileira.
O tempo vai quebrando algumas resistências, acoplando bits e hits, despertando outros sons, outros amores...Não se trata de traição, aquela balela toda... É aprender.
Sigo achando que Caetano Veloso é egocêntrico demais, Djavan é o profeta do apocalipse com suas letras criptografadas e Milton Nascimento só tem música velha para funeral. Hoje, vejo também que existe uma infinidade de músicos, que assim como Tom Zé, Macalé... foram mais punks que todos os Pistols e seus herdeiros.
Tem Chico Buarque de Hollanda também... um caso à parte.
Através de sua obra, podemos pontuar a história contemporânea de nosso país. Sem Chico, o Brasil seria mais pobre, mais vazio, sem semana, sem tijolo, sem desenho, sem construção.
Politicamente, Chico sempre foi pontual e íntegro. Quando solicitado, deu sua contribuição e jamais pelegou. Peladeiro dos bons, com vasto repertório, deu grandes dribles e olés monumentais nos marcadores da ditadura. Reza cada lenda...
Chico Buarque e bela morena: ao vivo Leblon Le Zenith
Chico também é o responsável pelo resgate da dignidade da mulher na música brasileira, abolindo as amélias serviçais. Ninguém jamais havia cantado a alma feminina dessa maneira. Tamanha certeza, profusão de imagens...As dores, desejos, surpresas, mistérios, dissabores, contrariedades, inquietações, latitudes...Elas possuem belos nomes, declamados em palavras cirúrgicas, em proparoxítonas viscerais. Chico definitivamente entende de mulher. De Atenas ao Leblon.
Como compositor, trafegou pelo universo da bossa nova, samba e MPB com a mesma desenvoltura. Nos últimos anos, Chico tem consolidado uma carreira literária de sucesso.
Em meio a uma obra irretocável, o sempre reservado abusou. Esse moço tá diferente, amando sobre os jornais! Chico não é um aventureiro. Trocando em miúdos: isto não abalará em nada o mito. Vai passar...
Já as meninas mais interessantes, como a Pitty (nenhum trocadilho infame), continuarão nascendo embaladas e apaixonadas por Chico Buarque.
B.O - Notas do caso polícial
Deu no jornal
Os amigos de Chico se mobilizaram para abafar o caso, alegando que Chico estaria em maus lençóis. É assim que funciona...nenhuma novidade! Operação abafa. Que tipo de pressão, aliás, um assessor de Chico Buarque pode fazer? O “caso” colocou novamente nossa mídia na berlinda. A hipocrisia apareceu com todas suas letras. Quem sempre fez isso, alegou que não divulgaria o fato em virtude da linha editorial adotada. A Folha de São Paulo, inexplicavelmente, publicou o fato em apenas 20% de sua tiragem. Trombada na certa! Se não é bom em um tipo de jornalismo, não queira se aventurar no outro! Já os fofoqueiros, invocaram a cantada liberdade de imprensa para venderem horrores.
Sorria, você está sendo corneado
O maridão da mulher (muito bonita por sinal!) é músico. Pelo que tudo indica o triângulo já dura anos. O cara deu sopa pro azar, levou Chico Buarque para ensaiar em sua casa. Só está sapateando porque o fato virou um estorvo. Ser corneado por Chico não desabona em nada a dignidade de ninguém! Poderia ser um emergente do futebol, um cantor de dupla sertaneja...
Você não gosta de mim, mas sua mulher gosta
No Orkut, já existem comunidades explorando o episódio. A comunidade “Minha mulher também gosta do Chico Buarque”, defende a tese que 11 entre 10 mulheres intelectualizadas gostariam de ter um tête à tête com Chico Buarque. Casadas ou não, as mulheres morrem de inveja da moça fotografada. Não são poucas as pragas rogadas na moça, forte concorrente ao título de musa do verão 2005. Tem meu voto!
A equação de Chico
A conta é simples: 1 de 60 vale mais do que 3 de 20.
* Marcello Lujan é amigo interpessoal de Sandino desde os tempos da maternidade.
Posted by Sandino at 08:06 PM | Comments (16)
março 05, 2005
E ainda aprovar a pena capital...
Diante do aumento da violência, a adoção da pena de morte passou a ser vista por muitas pessoas como a única solução para reduzir o número de crimes. Os argumentos em favor da pena de morte, no entanto, baseiam-se em justificativas inconsistentes tanto nos aspectos ético, moral e religioso, como do ponto de vista prático da redução da criminalidade e da diminuição de gastos processuais e carcerários. Além disso, existe a possibilidade do erro judicial, dano que não pode ser reparado, no caso de uma punição irreversível.
Esse instrumento não solucionou o problema da criminalidade violenta sequer nos países que o adotaram ou ainda o adotam. Nos Estados Unidos, único país desenvolvido do Ocidente no qual a pena de morte ainda existe, o índice de criminalidade é um dos mais altos do mundo.
A punição com a morte, executada pelo Estado com o respaldo da lei, acompanha a história da humanidade. Infrações como conspiração ou rebelião contra o poder estabelecido, oposição política, heresia, terrorismo, prostituição, e até mesmo infidelidade conjugal já foram (ou continuam a ser) punidas com a pena capital, de acordo com as relações de poder nas quais cada sociedade está inserida.
No caso do Brasil, as evidências negam que a pena de morte exerça uma “pedagogia do medo”, intimidando a ação dos criminosos. O país convive, na prática, com a institucionalização da pena de morte extralegal: setores da polícia e organizações paramilitares – os esquadrões da morte, os justiceiros – matam impunemente nas cidades e no campo.
Posted by Sandino at 05:36 AM | Comments (3)
Estou cansado de ouvir falar em Freud, Jung, Engels ou Marx
Papo de boteco
Por Marcelo Teixeira*
Com o perdão dos amigos que apreciam filosofia tradicional, pois é incontestável sua genialidade e sapiência, mas prefiro o conhecimento popular, os ditados, as sentenças proferidas no bar. E que não se engane quem imagina que não há elaboração no processo de arremate desse tipo de pensamento. As conclusões dessa gente de alma simples são baseadas em observações da labuta diária.
Não há teórico grego, alemão, italiano que seja, mais preciso, compreensível e útil que os conceituais e práticos motoristas, cobradores, taxistas, ascensoristas, recepcionistas, diaristas, jornaleiros, vendedores, seguranças, garçons. Desconhecidos do processo de criação filosófica, são pensadores contemporâneos informais.
A partir de desamores falam de amor. Quando são traídos percebem o que é desilusão. Ao passarem por frustrações familiares pensam em repressão. Assim que perdem uma pessoa amada analisam a morte. A dor física e a truculência os lembram da violência. Tudo ocorre a partir de emoções pessoais.
Sendo assim, o desenvolvimento do raciocínio leva tempo, mas sua finalização pode ocorrer em um momento, em frente à TV, tomando banho, indo para o trabalho, como ocorre um insight. Nada é anotado, escrito, gravado para depois ser burilado, decantado, ruminado. A simplicidade da sabedoria popular fica no coração das pessoas. E de tão simples pode ser resumida em uma frase.
Esse conhecimento é rápido no que quer dizer, ocupa pouco espaço, não despende debate teórico, é altamente prático e não concentra necessariamente conceitos morais. O melhor de tudo é que pode ser propagado em qualquer ocasião cotidiana, como numa rodada de chope, e acaba provocando risos. Bom mesmo é filosofia de boteco.
* Marcelo Teixeira é jornalista.
Posted by Sandino at 04:43 AM | Comments (1)
março 04, 2005
London calling to the faraway towns...
Feliz aniversário: London Calling, o LP duplo e maior clássico do The Clash está completando 25 anos!
Na época do lançamento, o impacto musical foi pouco sentido, mas a mistura de ritmos, o maior legado de London Calling, foi ganhando espaço na geração de bandas dos anos 1980 e continua forte até hoje, com tendência a prosseguir. Red Hot Chili Peppers, Faith No More e Living Colour seguiram essa linha. O Clash influenciou também toda a geração do rock nacional dos anos 80, desde Plebe Rude a Ira!, passando pelos Paralamas do Sucesso e Capital Inicial. Nos anos 1990, o Skank também bebeu na fonte.
Hoje, o culto ao álbum é tão grande que só faltava um bom pretexto para se voltar a falar dele exaustivamente.
A síntese do conceito do álbum está na introdução da faixa-título – não por acaso, a primeira do repertório de 19 faixas: guitarras e bateria duras, linha de baixo escorregadia, sonoridade inclassificável!
A essência punk está na acidez da letra e no jeito agressivo de tocar, porém, musicalmente, o Clash desobedece a cartilha dos três acordes e da velocidade desenfreada. London Calling apresenta a agressividade em andamento cadenciado e arejada por harmonias mais elaboradas.
As 18 faixas seguintes reforçam a idéia de expansão do punk rock. "Brand New Cadillac" é rockabilly nervoso. "Guns of Brixton" é um reggae perturbado por guitarras imundas. "Lost in Supermarket" oferece sonoridade suave para versos ácidos. E "Train in Vain" encerra o disco com uma espécie de tributo punk ao legado soul das gravadoras Stax e Motown.
Com a palavra Nasi, vocalista do Ira!: “Foi o disco mais esperado da minha vida. Eu já era fã do Clash e li várias resenhas sobre o London Calling antes de ser lançado no Brasil. Eu pressentia que seria meu disco preferido mesmo antes de escutá-lo. Encomendei ao Museu do Disco e fiquei esperando de manhã a loja abrir. Quando ouvi, foi dito e feito. É o álbum que concede ao punk contornos artísticos: tem ares jazzy, de blues, do Caribe, de rockabilly... E a qualidade das letras? Jones e Strummer, para mim, são Lennon e McCartney do punk”, derrete-se Nasi.
Posted by Sandino at 05:36 PM | Comments (2)
Correria lúdica
Os apreciadores do bom futebol estão de luto, morreu Rinus Michels. Escolhido em 1999 pela Fifa como o "técnico do século", Michels criou o conceito de "Futebol Total". No comando da seleção holandesa que foi vice-campeã da Copa de 1974, o treinador maravilhou o mundo com um estilo de jogo inovador, logo apelidado de "carrossel" (esquema tático de ataque e defesa em bloco, sem posições fixas).
Sem Rinus Michels, o futebol fica ainda mais chato, burocrático e hipócrita.
O holandês Rinus Michels: comando firme e inovador.
Posted by Sandino at 04:28 PM | Comments (1)
Que fim levou Orwel...
Big Brother prepara a sociedade de controle
Por Ilana Feldman
O “Big Brother Brasil” tem revelado, dia após dia, uma capacidade estrondosa de repercussão. Seja através dos números de Ibope, seja através do “retorno de mídia”, “BBB 5” provoca acalorados debates, no mundo real ou virtual, incitando manifestações e tomadas de partido, de anônimos à personalidades.
Tal impacto não deveria ser deixado ao acaso. 31 milhões de votantes e mais de 51% de audiência em noite de paredão repercutem, inegavelmente, no imaginário de um país, na estimulação de novas formas de subjetivação e nas conseqüências estéticas e políticas engendradas pelo formato.
Os reality shows, no caso, o “Big Brother”, não devem ser tomados como irrelevante “espetáculo de entretenimento”, consideração que não contribui em nada para uma análise crítica, além de desmobilizá-la. Ao contrário, buscar entender os signos audiovisuais produtores do imaginário deve ser, mais do que nunca, o foco da ação política contemporânea, pois o imaginário não é a irrealidade, algo abstrato, e sim “a câmera de produção da realidade por vir”.
Muito se tem falado, mas de fato muito pouco se analisa. Existe uma tendência por parte da crítica de ir aos programas sem levar em conta as complexidades e contradições do formato implicado, sendo escassas as iniciativas de análises mais complexas. Em geral, assume-se uma posição de superioridade em relação ao objeto criticado. À expressão da “realidade”, muitas vezes cabe o enfado, o deboche e o julgamento de olhos vendados. Olhos que vão às análises com conceitos já prontos, afirmando preconceitos de classe e não levando em consideração que os questionamentos podem ser mais ricos do que as certezas.
É curioso perceber o quanto o formato reality show é subjugado, de saída, pelo seu caráter “reality”. Se os mesmos “personagens” fossem ficcionais, certamente seria legítimo analisá-los como produções estéticas sintomáticas da contemporaneidade. Brasileiros são sempre os outros, e a evidência de conflitos, mesquinharias, ressentimentos e intrigas só é bem digerida quando travestida da ficção que, na maior parte das vezes, apazigua o desconforto e sofrimento do espectador.
Aos espectadores dos realities cabe a crueldade da vida posta em cena, em uma exposição que não ameniza nossas baixezas, nem ameniza a lógica econômica, produtora de tantas existências e tantos sonhos. Sonhos de visibilidade, de sucesso mercantil, de êxito empresarial, de ascensão social, mas também de inserção, reconhecimento e pertencimento.
A crueldade do “Big Brother” não ameniza nem mesmo os afetos, negativos e positivos, que se desenvolvem entre os personagens, capazes também de criar vínculos de amizade, amor e solidariedade. Não enxergar isso é cerrar a percepção para as sempre positivas contradições e ambigüidades de sentidos produzidos pelo programa. Que a crueldade seja então, como quer Clément Rosset, um princípio, uma ferramenta do pensamento para destrinchar os sentidos já dados e as verdades preestabelecidas. Afinal, todo sentido é um apaziguamento do conflito.
Categorias aprisionantes
A categoria identitária sempre foi peça fundamental para os Estados totalitários que, em momentos distintos da história, tiveram como projeto a eliminação de categorias inteiras, quando estas não “interessavam” ao sistema político vigente.
Sintomaticamente, a composição identitária dos personagens do “Big Brother Brasil” parece ser, em princípio, uma mistura da categorização policialesca dos Estados totalitários com os sistemas de classificação do IBGE. E, ainda, poderíamos considerar que as estratégias de seleção e composição dos participantes do “BBB” são herdeiras dos Estudos Culturais, com suas políticas identitárias baseadas em origem e gênero.
No “BBB5” isso é muito claro. De início, todos os participantes responderam à mesma entrevista e ao mesmo perfil que se encontram acessíveis no site do programa. São definidos por um preciso e ajustado inventário de consumo, gosto pessoal, comportamento e atributos, como se todos os itens revelassem a mesma coisa: o posicionamento do participante em uma hierarquia social e cultural.
É uma espécie de Censo mais nuançado. Vale como experiência antropológica, mas isso só tem algum sentido se se parte do princípio de que o outro é objeto de análise. Se a expectativa for contrária, é preciso ir cotidianamente aos programas exibidos para tentar captar uns sopros de vida que contradigam as ferrenhas e aprisionantes categorias.
Alguns participantes receberam, de Pedro Bial ou dos próprios participantes, os nomes de suas categorias. A paranaense Grazielli e também Miss Brasil é chamada pelos colegas antagonistas, na maior parte do tempo, de “Miss”. O diminutivo Grazie tem sido proferido apenas pelos muito próximos, Jean e Pink. A carioca Tatiana, da Ilha do Governador, é chamada por Bial de Tati Rio, ou Tati Ilha, em parte porque uma quase homônima existe, a Tatiane Pink, mais conhecida por sua cor predileta e jeito vibrantes, o que dispensaria, na prática, as terminações “Rio” ou “Ilha” do nome de Tatiana. Mas parece que os personagens com menos interioridade elaborada no programa, ou cujas categorias são menos ficcionalizadas, são os mais carentes de alcunhas identificatórias.
Algumas personagens competem pela origem, para saber quem irá, por exemplo, melhor representar o Nordeste. Pink e Karla, de Pernambuco, e Natália, do Ceará, brigam para saber quem vai ocupar a posição de “nordestina legítima”.
A carismática cabeleireira Pink sai em vantagem, porque, desde o início do programa, tendo consciência da categoria, já disse não votar em conterrânea, nem em mulher. Ela ressalta, de modo incisivo e cômico que, além de nordestina e mulher, é pobre, digna, leal e de bom coração. Uma espécie de Heloísa Helena debochada e colorida, que soube ficcionalizar sua categoria, tendo sua imagem intensificada pela edição. Já a dançarina Karla se pergunta, em conflito: “O que será que Pernambuco vai pensar de mim?”.
Também o professor universitário e baiano Jean expressou e politizou sua “condição”. Alegou que estava indo ao primeiro paredão por ser gay, e não por ser um intelectual, articulado e manipulador, como foi justificado. Já o técnico de informática P.A, paulista e negro, e a dona de casa carioca, também negra, Aline inspiraram agressivos debates no fórum virtual de discussão do “BBB”.
Eram acusados de estarem envergonhando sua “classe” ao agirem de modo condenável. Mas condenado mesmo foi o médico paulista Rogério (Gê), rejeitado com recorde histórico (92% de 31 milhões de votos) por seus atos e que, parece, vai dar continuidade a seu projeto de comportamento e aparência nazifascista: quer se especializar em cirurgia plástica estética.
No entanto, contradizendo muitas vezes suas categorias, os personagens do “BBB” são existencialistas: constroem-se também por aquilo que fazem e falam. Como peixinhos no aquário, vivem e morrem pela boca. Aline já não é mais, apenas, negra, pobre e mãe de família. É agora a “fofoqueira”, “leva-e-trás” e “traíra”. Pode ser uma visão muito restrita e nada singular de alguém, mas é o preço que se paga quando se entra no jogo da imagem capitalizada.
Ratificando esse regime audiovisual de identidades fabricadas pelas ações dos personagens e tornando-as evidentes ficcionalmente, o “BBB5”, com talento e habilidade, criou uma animação, fazendo a paródia dos super-heróis animados.
O grupo dos “Gigantes” ou “Tropa de Choque” foi representado como “Os Inacreditáveis”, e o grupo do “bem” como “Os defensores”. No primeiro grupo, Rogério era o “Capitão Gê”; P.A, o “Mr. Paranóia”; Alan, o “Kid Pamonha”; Karla, a “Mulher Capacho”; Tati Rio, a “Garota Volúvel”, e Aline a “Agente X9”. No segundo, Jean era o “Homem Maravilha”; Pink, a “Incrível Pink”; Grazie, a “Miss Charada” e Sammy o “Ninja Ensaboado”.
Em uma das festas do “BBB5”, a “Soltando os Bichos”, o mesmo procedimento de ficcionalização se deu, mas, desta vez, a estratégia foi menos indolor para os confinados.
Cada participante recebeu uma fantasia de um animal, de acordo com sua índole e postura na casa, como se o Big Brother explicitasse a metáfora do “zoológico humano” que está na origem do conceito hobbesiano de convivência violenta e forçada. Jean era o leão, rei da floresta; Pink, a gata escandalosa cor-de-rosa; Grazie, uma doce borboleta, e Sammy, um anódino esquilinho.
Já no outro grupo as caracterizações foram, novamente, mais maliciosas. Karla era uma macaca cansada; P.A., um gavião; Natália, uma onça ambígua; Tati Rio, a cobra insatisfeita, e Aline, um corujão. Se, em princípio, através do confinamento de seres diversos, estava em questão uma tentativa de conciliação das diferenças, o retorno a uma velha visão “harmoniosa” de brasilidade, o que fica, ao final, é a explicitação das divergências ou, como escreveu o crítico Cleber Eduardo, a impossibilidade da idéia de cordialidade brasileira.
Pedagogia de mercado
Alguns autores defendem que o romance foi um gênero literário que refletiu, em grande medida, as relações de dominação coloniais e imperiais, reproduzindo, como produto histórico, a ideologia da dominação em sua forma, mesmo quando esta era nacionalizada por grupos dominados.
Herdeiras do romance, as grandes narrativas cinematográficas produzidas por Hollywood também exerceram, e exercem, sua dominação econômica e cultural, evidenciando, mais uma vez, que a forma ideológica da dominação é reproduzida mesmo quando nacionalizada pelos países periféricos.
Com o “formato narrativo Big Brother” acontece algo semelhante, pois se trata de um modelo de audiovisual internacionalista, exportado para todo o mundo, do Ocidente ao Oriente, dos países centrais aos periféricos. A diferença, em relação ao romance, é que o “Big Brother” não está vinculado a uma identidade de Estado-nação específica.
Sua origem não se concentra em um povo, nem em um território, mas em uma corporação transnacional que, por acaso, surgiu na Holanda -talvez até como fruto de uma tradição de representação de interiores.
Assim como o romance, o Big Brother reproduz uma relação de dominação, seja no pagamento de patentes para a empresa matriz, seja na própria lógica de funcionamento do programa, baseada na ideologia empresarial. Uma “dramaturgia da exclusão” é assim transformada em pedagogia.
Desse modo, no âmbito do capitalismo pós-industrial, o Big Brother naturaliza e tende a consolidar uma lógica própria às chamadas “leis de mercado”, estimulando novas formas de subjetivação e reforçando novos sistemas de valoração em consonância com essa pedagogia de mercado alicerçada no curto prazo.
Gilles Deleuze, em “Post-Scriptum para as Sociedades de Controle”, já havia escrito: “Se os jogos de televisão mais idiotas tem tanto sucesso é porque exprimem adequadamente a situação da empresa”. E no “Big Brother” está claro: as gincanas competitivas que “movem” a narrativa -e aqui caberia um paralelo entre as gincanas e o “cinema das atrações”- vinculam-se às dinâmicas seletivas das grandes companhias, através das quais os concorrentes ao emprego, ou à permanência na “casa”, serão testados.
Como empresa, os realities estão sempre se flexibilizando, se adaptando às demandas de mercado, de público e dos próprios competidores. Também usam o espaço para divulgar empreendimentos de organizações não-governamentais, incentivando a “responsabilidade social” e premiando, com estalecas (a moeda corrente da casa), o trabalho “voluntário”, no caso, voluntariamente imposto.
No “BBB5”, o personagem de Paulo André, o P.A., técnico em informática, enquanto discursava em nome de parcerias, foi incisivo: “Aqui é igual lá no emprego. Quem tá comigo sobe junto, quem não tá vai pra fora”. No seu grupo de parceiros, se encontrava o médico Rogério (Gê), mentor do complô e do grupo chamado de “Os gigantes”. Gê também realizava seu recrutamento baseado em sua teoria: “Quem joga junto vence e quem joga individualmente dança”, ou, ainda, “voto individual é voto nulo”.
Os integrantes do grupo defendiam, assim, as decisões corporativas e apresentavam, ao repudiar a diferença e a independência, matizes protofascistas. Alardeavam que “no jogo vale tudo” e que, por isso, era legítimo agir como jogadores, profissionalmente. Talvez eles tivessem destino melhor se participassem do reality show “O Aprendiz”, cópia brasileira de “The Apprentice”, idealizado pelo multimilionário americano Donald Trump, de quem se costuma ouvir a frase já transformada em bordão: “You are fired!”.
A contradição que se coloca é que no “Big Brother Brasil” os premiados não são os mais eficientes, mas o mais simples, humildes, coerentes e independentes, aqueles que “jogam com o coração”.
O padrão ou estatuto de julgamento da audiência brasileira, mais apropriadamente, do público votante, leva em conta o perfil social e a conduta moral dos participantes, isto é, os personagens construídos têm o desafio de serem competitivos sem passar dos limites, havendo aí um paradoxo: ao mesmo tempo em que se faz apologia dos atributos inatos e conquistados, da competitividade e da adaptabilidade, premia-se os ingênuos, os não-manipuladores e menos “aptos”. Elabora-se, assim, um projeto de hierarquização moral e de “justiça social” em um fórum privado publicizado.
Também não se pode deixar de perceber que as atitudes de afeto e solidariedade entre alguns personagens acabam se transformando em uma pedagogia positiva, de repercussão muito mais ampla do que a simples defesa verbal da ética e do respeito mútuo.
Jean e Pink, personagens do “BBB5”, são a prova desta relação fraternal e se transformaram, ao menos por enquanto, em referências em matéria de ética, sinceridade e compromisso. A questão é saber até quando eles poderão permanecer unidos, sem se indicarem ao paredão. Está aí a maior perversidade do programa: o “salvo-me se puder”, corrosivo de qualquer possibilidade de relação.
Um estado de exceção
A presença do “paredão” e de todo um vocabulário beligerante, como a convocação que invade nossos telefones celulares para que enviemos um “torpedo” para “detonar” algum participante, não por acaso se articula com um panorama de progressão contínua do que chegou a ser definido por alguns teóricos como “guerra civil mundial”.
Nesse contexto, o estado de exceção, segundo Giorgio Agamben, tende sempre mais a se apresentar como paradigma de governo dominante da política contemporânea, transformando-se, de uma medida provisória e excepcional, em técnica de governo. Assim, as práticas de exceção contemporâneas, engendradas por um Estado policial protetor, fazem da política do terror e da insegurança o principio gestor, estimulando, cada vez mais, a privatização dos espaços e o confinamento no interior deles.
Os reality shows de confinamento também são, a seu modo, sintomas de uma gestão midiática da insegurança que, implícita ou explicitamente, incita à vigilância, ao controle e à autoproteção em ambientes privados. Assim como na gestão midiática da insegurança, as guerras, civis ou militares, são transformadas em espetáculo, no “BBB” os conflitos também são capitalizados: tornam-se show.
Grosso modo, a diferença entre a condição de um estado de exceção e o confinamento do “BBB” é que este é hedonista e seus participantes lá estão voluntariamente. O que nos faz pensar que o “estado de exceção” do “BBB” é exercido não contra a sociedade, mas reivindicado por ela, em sua sede de competitividade, inserção, visibilidade e eliminação, mas também de implacável justiça.
Porém, para traçar um paralelo mais cuidadoso entre estado de exceção e reality shows de confinamento, é necessário ir ao primeiro e expor suas particularidades. O estado de exceção como definido por Agamben significa, na prática, a suspensão do ordenamento jurídico, isto é, a anulação dos direitos civis do cidadão e de seu estatuto jurídico como indivíduo.
O indivíduo deixa de sê-lo para se tornar uma categoria identitária, peça fundamental para os Estados totalitários, que, através do estado de exceção, podem propor e executar a eliminação de categorias inteiras que pareçam não integráveis ao sistema político. Contudo, precisa-se ressaltar que o estado de exceção não se dá necessariamente em uma ditadura, mas em um espaço vazio de direito.
De fato, o estado de exceção na sua forma moderna foi criado pela Revolução Francesa, pertencendo, portanto, à tradição da democracia e não àquela do absolutismo, ou, mais apropriadamente, pertencendo a “um patamar de indeterminação entre democracia e absolutismo”.
O estado de exceção realiza-se como uma gestão de uma nova desordem mundial, modulável segundo dispositivos de vigilância. Dentre esses dispositivos se encontram, além dos olhares maquínicos das câmeras de monitoramento (presentes em espaços públicos e privados), fichamentos eletrônicos das impressões digitais e da retina, tatuagem subcutânea, coleira eletrônica, prática do confinamento e, até, “coleira” auditiva (microfones) que os participantes do “BBB” são obrigados a usar (caso contrário serão punidos).
O que está em jogo, assim, é o estatuto normal de cidadãos dos Estados ditos democráticos, que são persuadidos a aceitar como naturais práticas de controle que sempre foram consideradas excepcionais e desumanas. Ou seja, o que está em jogo é uma nova relação biopolítica entre Estado e indivíduo, o qual passa a ser considerado um corpo, assim como a idéia de povo, outrora sujeito político, torna-se sinônimo de simples população.
Uma vez que a vida humana e o corpo biológico se tornam o alvo central dos difusos mecanismos de poder, todo o campo da política se transforma, e as oposições que anteriormente o definiam (como público-privado, esquerda-direita, democracia-absolutismo) começam a se atenuar. É, então, nessa impossibilidade de distinguir a democracia do absolutismo e o privado do público que se encontra uma fissura que nos interessa, capaz de criar um liame entre estado de exceção e reality show.
Assim como o estado de exceção, que “se apresenta como um patamar de indeterminação entre democracia e absolutismo”, o “Big Brother” -identificado com uma idéia totalizadora e homogeneizada de Brasil, o qual é sempre evocado pelos participantes- configura-se como um poder absoluto em tempos de institutos de pesquisa, cujo próprio modelo de medição se reflete, além dos índices de audiência e votação, nos índices de popularidade dos personagens, expostos em números de estrelas no site do programa.
“O Brasil inteiro está vendo”, sempre escutamos dos participantes, e a ele nada passará impune. Assim, a interatividade proporcionada pelo jogo, através da qual é o público votante quem exerce o voto de exclusão, torna-se uma maneira de saciar uma sociedade que se sente impotente politicamente e que tem sede de punição. É ela quem vai proclamar a sentença toda a semana, fazendo o papel do “Estado absoluto” num jogo em que tudo é resolvido por plebiscito, logo, o absolutismo é relativo.
Fazendo uma analogia com o romance de Orwel, o formato televisivo “Big Brother” é “1984” banhado em uma cultura democrática, na qual a vigilância e a visibilidade não mais coagem, nem aprisionam (como no romance), mas, ao contrário, libertam da condição do anonimato rumo à celebridade, conferindo existência social aos participantes.
Valendo-se de uma inspiração tirânica e adotando procedimentos híbridos, o “Big Brother” ainda apresenta a figura do Big Boss -quando é novamente a audiência quem escolhe, como um patrão impiedoso, as possibilidades de constrangimento e humilhação que serão impingidas aos “brotheres”. Após a votação, ganha sempre em milhares de votos o “mico” mais ridículo e os participantes, como empregados de uma empresa, não podem demonstrar mau humor ou insubordinação.
Trilhando ainda o pensamento de Agamben, ele defende que o paradigma político do Ocidente não é mais a cidade, e sim o campo de concentração. Mas se trata de uma tese filosófica, e não historiográfica, o que quer dizer que o campo de concentração serve como um modelo paradigmático que norteará sua crítica.
Os reality shows de confinamento, tendo em vista suas particularidades e guardadas as devidas proporções, também podem ser encarados como um modelo midiático e econômico-político de “concentração”: concentração espetacular de corpos confinados, geridos por uma relação de poder biopolítica, concentrada porque transformada em linguagem e imagens.
Diferentemente do estado de exceção, nos reality shows, obviamente, não há suspensão dos direitos civis e da lei, como ocorreu em Auschwitz -segundo Agamben, o espaço biopolítico mais total que jamais se concebeu e que, agora, vem sendo implementado na base militar americana de Guantánamo-, e de maneira nenhuma se propõe aqui banalizar, ou atenuar, essas experiências de horror. Contudo, é necessário chamar atenção para algumas semelhanças.
Assim como, segundo Agamben, o campo de concentração é o paradigma para se compreender a cidade biopolítica em que vivemos, os realities são paradigmáticos da transposição dessa gestão biopolítica para um formato audiovisual baseado no confinamento. Também, assim como o “campo”, o reality show é formatado na indeterminação entre espaço público e privado, ambigüidade que está na base da experiência do cidadão contemporâneo.
Essa ambigüidade constitutiva faz do reality uma esfera de visibilidade absoluta atravessada pelo isolamento físico, violação do decoro e espetacularização da intimidade, como se aquelas vidas a que assistimos nos pertencessem, sem que desfrutassem de direitos.
De fato, cada “indivíduo” inserido no programa perde o direito sobre sua imagem, em termo assinado por contrato, o que nos faz pensar que a lei que há nos realities retira do humano sua condição de autonomia e autoria.
Também nos realities, à semelhança do “campo”, o indivíduo é encarado como categoria identitária. Responde por sua origem e seu gênero, assim como cada judeu de Auschwitz ou cada “terrorista” de Guantánamo responde por toda uma “classe”. No “BBB5”, a personagem Pink, se insurgindo contra as ações de suas colegas da “Tropa de Choque”, pontificou: “Isso envergonha a raça feminina”.
A associação entre estado de exceção e “Big Brother” também está na origem do conceito do programa, o “laboratório humano”. Na idéia de um "laboratório" há, sem dúvida, não só a tirania de fazer do outro sua cobaia, como a aniquilação de qualquer direito individual desse outro. No “Big Brother”, o outro tem direitos civis, embora existam regras claras a serem cumpridas, caso contrário há punição e/ou "eliminação". E, quando se elimina um, aniquila-se uma categoria inteira. E aqui não há exagero.
Deve-se entender as palavras em seus conceitos originais, e não apenas banalizá-las em seus usos. As palavras (assim como o imaginário) são produtoras de realidades e, nesse sentido, é inegável que a mentalidade eliminatória do “Big Brother” produz sistemas de valores, produz um mundo. O mundo do “BBB” é uma versão alegórica, atenuada, espetacular. Mas, se “todo mito é um projeto”, como já disse Cacá Diegues, então toda alegoria é também uma profecia.
Alguns outros reality shows vão além na explicitação do paralelismo com o estado de exceção. A emissora mexicana Televisa estreará, no final de fevereiro de 2005, uma versão do “Big Brother” com castigos corporais para aqueles que não cumprirem as regras do programa. As tarefas serão, assim, punidas e premiadas fisicamente, num novo espaço que contará com áreas de reclusão, como se fosse proposto aos participantes um retorno a uma tirânica Sociedade Disciplinar.
Também o Channel Four inglês deve exibir, em meados de março, um reality de tortura, intitulado “Guantanamo Guidebook”, no qual sete voluntários são submetidos às técnicas de interrogatório aplicadas aos prisioneiros da base americana de mesmo nome, em Cuba, onde seus direitos civis estão suspensos.
Dentre os testes, estão previstos privação de sono, exposição à temperaturas extremas, humilhação religiosa, além de um interrogatório de mais de 48 horas. Segundo o programa, a justificativa para tal disparate seria chamar a atenção para os efeitos devastadores que essas técnicas podem causar no ser humano.
No entanto, a conclusão que se tira é antagônica: se essas práticas de tortura podem ser reproduzidas em voluntários e demonstradas em programas de TV, isso significa que elas não são tão maléficas, ou seja, podem ser transformadas em mero espetáculo e ter sua barbárie esvaziada. Assim, ao incorporar a mesma linguagem e os mesmos procedimentos do alvo criticado, aquilo que seria crítica é transformado em legitimação.
O foco pornográfico
O “Big Brother Brasil” não está em decadência, muito menos em seus estertores. Legalmente, o contrato da Globo com a empresa holandesa Endemol vigora até 2007, quando possivelmente novos acordos serão firmados. Os reality shows vieram para ficar porque, além das vantagens econômicas -custam menos do que a tradicional teledramaturgia-, fazem da vida sua matéria-prima, sendo, portanto, uma linguagem audiovisual biopolítica por excelência.
Contemporâneos e sintomáticos, os realities souberam capitalizar, com uma força devastadora, as demandas do capitalismo imaterial, ou pós-industrial, por perfis identitários, corpos formatados e ajustados, intimidades publicizadas, desejos de visibilidade e “criatividade”, fazendo da própria vida o terreno mais fértil para seus investimentos.
No entanto, a vida é sempre mais rica e contraditória que as categorizações nos fazem acreditar -assim como o modelo reality show, que, ao tirar proveito da vida em sua condição de constante movimento e transformação, necessita também se transformar. Como linguagem biopolítica, o reality show vive o paradoxo entre a adaptação ao vivente e a adaptabilidade difundida como valor empresarial. O formato vive de seu próprio colapso, na medida em que nem sempre as categorias se sustentam. Também a afetividade não se controla, e muitas vezes é ela mesma a força de resistência a determinados processos de subjetivação e formatação identitária.
No plano estético e dramatúrgico, os realities de confinamento (“Big Brother” especificamente) também souberam capitalizar as demandas do cinema moderno, principalmente aquele documental. Cinema-direto e cinema-verdade são as grandes referências originais do formato. Do cinema-direto foi apropriado o uso da câmera como dispositivo invisível, testemunha oculta, sem interferência naquilo que é filmado: uma linha observacional que perseguia a neutralidade da forma e defendia o postulado da imagem roubada, por acreditar ser esta mais autêntica.
Já do cinema-verdade foi apropriado o uso da consciência da câmera como produtora de acontecimentos: uma linha que queria essa autenticidade, que nem sempre acontece, em reação à câmera. Segundo Jean Rouch, o grande mestre dessa vertente documental, “a câmera não deve ser um obstáculo para a expressão dos personagens, mas sim uma testemunha que irá motivar sua expressão”, ou, ainda, “a ficção é o caminho para penetrar a realidade”. E o “Big Brother Brasil” faz uso, cada vez com mais habilidade, de dispositivos ficcionais empenhados em produzir uma “verdade”.
No plano tecnológico e econômico, o modelo “Big Brother Brasil” soube como nenhuma outra “dramaturgia” fazer uso da convergência de mídias, inserindo-se como o produto central dentre uma rede de tecnologias e serviços.
Além da exibição em cadeia de TV aberta e fechada e da interatividade com o público votante, via telefonia fixa, móvel e site na internet, há ainda fórum de discussão virtual, chat de bate-papo com ex-participantes, serviço de notícias (pago, obviamente) através de telefone celular, exibição de vídeos para assinantes do portal Globo.com, compra de imagens de personagens para serem bichinhos amestrados virtuais dentro dos celulares, como aqueles espécimes tamagochis, e, para completar, a possibilidade não só de “espiar” os habitantes 24 horas por dia através do pay-per-view, mas também de escutá-los através de um “grampo” telefônico legitimado e de pretensões igualmente totalizadoras.
Não obstante, a indústria pornográfica também é contemplada pelo “BBB”, na medida em que já está prevista dentro da própria lógica de funcionamento do programa: destino certo para as saradas e sarados, todos estes “bombados”, de músculos e cotação no mercado. Ao contrário das famosas e inalcançáveis beldades produzidas pela teledramaturgia convencional, as garotas do “BBB”, não sendo atrizes profissionais, são mais conhecidas que famosas, estando mais próximas do imaginário popular e, assim, tornando-se mais alcançáveis como objetos de consumo.
Novamente, há uma convergência de mídias: a pornografia se faz presente em revistas impressas, internet, TVs aberta e fechada, telefonia fixa e móvel e em toda sorte de publicidade, não necessariamente especializada. Em suma, a pornografia vai constituindo-se, assim, como uma multiplicidade discursiva que tem os corpos, não necessariamente nus, como foco dos mais altos investimentos e dos mais incisivos agenciamentos. Afinal, um corpo “trabalhado” é o único que, mesmo sem roupa, está decentemente vestido. A lógica pornográfica pode ser também considerada uma forma de poder e de controle fundamental para a viabilização de nossa “era biopolítica”.
No entanto, é importante ressaltar que a pornografia não está restrita apenas ao açougue asséptico dos corpos humanos, mas é parte constitutiva das promessas de felicidade e prazer que nos rodeia e de um olhar que se pretende totalizador, construído sobre o dispositivo da onividência.
Tal dispositivo, ao multiplicar pontos de vista simultâneos, acaba por resultar em um excesso de olhares maquínicos e não-articulados, ou articulados em uma instância “divina”, fazendo da exploração do visível e da ausência de uma perspectiva subjetivada o alicerce da pornografia tecnológica. Seja nos reality shows de confinamento, seja em relação às câmeras de vigilância, ou, ainda, nos inúmeros exemplos do cinema contemporâneo imbuídos da missão de querer dar conta de todos os ângulos de um mesmo espaço, a “vontade de verdade” instaurada pela tentativa de totalização está mais próxima da obscenidade que da onisciência.
Porém, vale lembrar que esta perspectiva não é nova. Em “A Gaia Ciência”, uma das vozes do Nietzsche incorporava, graciosamente, uma menininha. Ao que ela perguntava a sua mãe: “É verdade que Deus está em toda parte? Mas acho isso indecente!”. Ver demais, desprovido de mirada, é talvez a causa do que chamamos de indecência. Portando, a promiscuidade do olhar está menos no que é filmado, mas no modo como se filma e na técnica empregada.
No caso do “Big Brother”, as imagens estão engendradas por toda uma amoralidade discursiva, cuja mise-en-scène, diz-se, foi suprimida. Entretanto, se há um esforço, na origem do conceito do reality show, para abolir a impressão de mise-en-scène, de interferência e de manipulação, a atuação dos competidores-personagens e as técnicas de edição tornam o objeto mais complexo.
No caso do “BBB5”, em corrente exibição, essa contradição entre o conceito original do formato e sua aplicação prática tem sido de extremo interesse para uma análise formal. As câmeras-olho, que tudo vêem, estão menos inertes, arriscando movimentos, e cada vez mais articuladas na edição, que tem assumido, de maneira explícita, um posicionamento moral.
Desse modo, a crença em uma suposta “imparcialidade” é minada em sua origem. Possui imagens quem “rende” mais cenas e quem sabe se vender como um bom personagem ou, ainda, como um personagem bom. Ou mau. Conseguir evidenciar um maniqueísmo, no caso do “BBB5”, é sinal de desenvolvimento das micronarrativas que, agora, estão, como nunca se viu antes, bem enredadas através de procedimentos ficcionais.
Closes, cortes, planos ponto-de-vista, montagens paralelas e o uso de animações têm produzido sentidos, criado espaços contíguos e descontínuos e fomentado toda sorte de conflitos. Também o uso do som está comprometido com a criação de climas e de clímax. Às vezes, as músicas soam tão incisivas que mais parecem fazer a paródia do cinema de gênero. Outras vezes, o som de um ambiente invade um outro que está sendo filmado, provocando ruídos entre som e imagem.
Assim como os editores, os operadores de câmera também estão empenhados na “construção” de cenas e na busca de um efeito-de-dramaturgia, a partir do improviso e do imprevisto. Para tanto, alternam focos, flagram detalhes e selecionam enquadramentos de modo a criar uma composição visual, desenvolvendo, assim, uma gramática possível e explorando seus limites.
O “BBB5” apresenta um incrível desenvolvimento de sua linguagem e seus participantes, por já terem sido espectadores dos números anteriores, estão cada vez mais profissionais na autenticidade auto-elaborada e na construção, com a palavra final da edição, de “kits-de-perfis-padão” identitários.
Há, contudo, um nível de conflito entre esses perfis-padrão e edição, quando determinadas falas e atitudes escapam ao “controle”, aos vários controles, seja pessoal ou institucional, e criam imprevisibilidades na construção e condução dos personagens. São essas narrativas em potencial que fazem do “BBB” uma dramaturgia de curto prazo absolutamente promissora para um público com sede de modelos alternativos baseados na indeterminação e improvisação dos “atores”, sem a programação prévia dos conflitos e sobressaltos narrativos da teledramaturgia tradicional.
Também é interessante notar que a dramaturgia do BBB e de muitos programas feitos na TV Globo atualmente (em especial no núcleo do diretor Guel Arraes, influenciado por Jean Rouch, de quem foi assistente) apresentam um parentesco com as inovações e propostas estéticas de grupos teatrais independentes dos anos 70, como é o caso, no Brasil, do Asdrúbal Trouxe o Trombone, cuja dramaturgia se apoiava nas noções de espontaneidade, autenticidade, improviso, obra aberta, antiilusionismo e na idéia de que “você é o melhor ator de si mesmo”.
O próprio Antonin Artaud, nos idos do século passado, já apregoava: “Sou eu quem interpretará o personagem de Artaud”. E ele era mesmo seu melhor personagem. Entretanto, se a crueldade deve ser buscada como ferramenta do pensamento, nos reality shows não há “teatro da crueldade” possível, pois é o lucro que dita as normas narrativas e é a acumulação de capital que define a estética. Voltamos à famosa frase de Guy Debord: “O espetáculo é o capital elevado a um tal grau de acumulação que se torna imagem”. R$ 1.000.000,00.
*Ilana Feldman é formada em cinema pela Universidade Federal Fluminense, onde faz mestrado. Dirigiu o documentário em média-metragem "Se tu Fores", que ganhou o Prêmio Itaú Cultural para Novos Realizadores.
Posted by Sandino at 10:34 AM | Comments (3)
março 03, 2005
Amigos do exílio
por Marcello Lujan*
O escritor português José Saramago costuma afirmar que “somos a memória que adquirimos”. Nestes 20 meses em que estive morando no oeste paulista, meu país estrangeiro, pude conhecer pessoas e lugares interessantes. Gravei na mente pra sempre!
Pereira Barreto, belo rio! Depois de anos e anos enfiados no ânus pela falta de estabelishment político, enfim um rumo certo! Que potencial tem a cidade!
Sud Mennucci – a verdadeira capital mundial da net, uma grande empresa! Em Araçatuba, o asfalto arde e a AEA mantém-se canarinho!
Foi naquelas bandas que conheci Gilmar (ponta firme e talentoso!), Josi (a maior “workholic mãe” que conheci), Marcelo Paya (grande coração, sujeito bom!) Darcio (serestero que democratiza o conhecimento digital) Arnaldo, Celso e Ângelo (grato pela oportunidade), Marcelo Correa (o maior contador de piadas que conheci), Dona Eli (não desanima não! eleição é eleição!), o casal Marcos e Lisandra (sucesso na firma!), Tim e Dr.Lara (grandes jams sessions!), Kativa (grande cidadão!), o pequeno Zé (amigo dos meninos), Janaína (atenciosa), Cleide (autêntica), Zuriel, Cacaio, Leonardo, Marquinhos, Marco Antônio - os amigos da nação corinthiana.
Também pude rever velhos amigos...Caetano, TT, Niltinho...
Sorte na vida!
Enfim...depois de quase uma década a democracia tem sua chance em Jacutinga. Cá estou, de volta. Fim do exílio!
* Marcello Lujan é amigo interpessoal de Sandino desde os tempos da maternidade.
Posted by Sandino at 01:03 AM | Comments (9)