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maio 05, 2005
Underground guaçuano
Moshpit - Underground guaçuano em destaque: Collapse NR
Por Toinzé
Convenhamos, ao contrário do que possa parecer, não é nada fácil fazer música pesada de verdade num país onde Pitty, CPM 22, Charlie Brown Jr. e afins (argh!) são considerados grupos de rock (que?) e/ou hardcore (valha-me Deus...). Pior ainda é a triste constatação de que o grande público, em inquestionável manifestação de mediocrização intelectual e completa ausência de espírito crítico, somente valoriza quem se submete a aparecer nos “Domingões” da vida.
Aqueles que, porém, nestes últimos três ou quatro anos andaram freqüentando os shows de metal daqui da região (Sul de Minas e interior paulista), têm se deparado com bandas que realmente representam a música pesada brasileira, sendo que um dos melhores e mais promissores grupos do gênero é o Collapse NR.
Collapse NR: 2000 mil demos vendidas
Formada no ano de 1996 e praticante de um metal (realmente) extremo que mescla influências de várias vertentes do underground, depois de muitas mudanças de formação, a banda, constituída com membros do Inhuman Crimes, Dementia Access e Godzilla, estabilizou-se em 2000 com Donegá (vocal), Djamy Arenghi (guitarra), Tomaz (bateria) e Marcelo A. Almeida (baixo), lançando em dezembro daquele ano um CD-demo 100% independente – que, aliás eu ouço até hoje! -, gravado “ao vivo” em 2 canais nos fundos da casa de um dos seus integrantes.
Em fevereiro de 2001, após se apresentar em vários shows por todo o Estado de São Paulo e outras capitais do país (Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, etc), o Collapse NR contabilizou a incrível marca de 2000 demos vendidas, quantia absolutamente impressionante para uma banda avessa a qualquer forma de compromisso junto à mídia mainstream.
Prosseguindo em sua cruzada em prol da brutalidade musical, entre 2002 e 2003, e tendo o apoio da Tumba Records, os caras iniciaram a gravação de seu primeiro full-lenght. Concomitantemente à atividade de estúdio, a banda ainda arranjou tempo pra se apresentar em importantes festivais do circuito underground, como o Datribo Rock Festival, o Tributo ao Sepultura, o Setembro Negro, a Rota do Rock, dentre outros.
Já em 2004, matando a sede dos fãs de carteirinha da banda (dentre os quais se encontra este que vos escreve), o Collapse NR lança o álbum Faces Of Exploration, garantindo a sonoridade vanguardista do play a oportunidade para que a banda dividisse o palco com verdadeiros medalhões da música pesada mundial, como Hate Eternal e Napalm Death.
Como se vê, a despeito de todos os empecilhos impostos à sua progressão na cena extrema nacional, leia-se absoluta falta de apoio dos meios de comunicação, infra-estrutura precária, dificuldades para agendamento de shows etc, contra tudo e todos, segue o Collapse NR marchando com determinação em sua já vencedora trajetória, tanto que a banda inclusive apareceu na seção Up Coming da Rock Brigade nº 223, edição de fevereiro deste ano, comprovando mais uma vez que com honestidade e perseverança naquilo que se faz nenhum objetivo mostra-se inalcançável.
Pra encerrar, em resposta aos que continuam achando que rock de verdade são aqueles grupelhos pop citados no início desta matéria, só recordo que o sucesso não passa da habilidade de compactuar com um padrão de obediência e conformismo.
Vida longa ao underground!
CD Review: Faces Of Exploration (2004, Tumba Records) - Se sua intenção sempre foi fazer sangrar copiosamente os delicados ouvidos daquele seu vizinho chato que sempre pega no seu pé por causa do barulho, eis aqui o produto perfeito. E olha que isso não é só força de expressão, meu caro, pois o extremismo metálico perpetrado pelo Collapse NR neste seu debut realmente é capaz de atordoar até mesmo o deathbanger mais escolado. Numa primeira audição, o som da banda pode não passar de um grind/death muito bem trabalhado, entretanto, após uma aclimatação inicial, a gente nota que o buraco é muito mais embaixo, visto a infindável gama de influências que encerra o som do Collapse NR. Imaginem vocês uma batida de frente entre o maravilhoso Lock Up e o Machine Head (fase Burn My Eyes/The More Things Change), agregando uma ou outra influência vanguardista à Meshuggah, mais umas pitadas de neo thrash e letras socialmente engajadas e pronto, eis aí o holocausto sonoro que sai dos auto-falantes quando você aperta o play do aparelho de som. E dá-lhe pancadaria na orelha! Todo o CD é extremamente bem feito, a execução das músicas é precisa, o trabalho vocal é exemplar, e a produção é primorosa, tanto na parte sonora quanto gráfica. Menção especial merece a faixa multimídia que encerra o CD, contendo um clip para a faixa sold, uma das mais brutais. Destaques? Praticamente todas, especialmente I See The Truth (hino nos shows da banda!), Crust, Lifeless, Caos Humano e P.M. (furioso libelo contra a violência policial-militar). Quer saber? Se eu fosse você, parava agora mesmo de ler isso aqui e descolava rapidinho esse espetacular petardo metálico!
Posted by Sandino at maio 5, 2005 07:20 PM