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setembro 30, 2005
Que fim levou Paris...
Maio de 1968
Por Marcelo Xavier
1871. Toda a França está ocupada pelo exército prussiano. Ao tentar interferir na sucessão da Espanha, Napoleão III desagradou a Prússia, que mantinha os ibéricos sob sua influência. Os desentendimentos entre o imperador prussiano culminaram na Guerra Franco-Prussiana (1870-71). Durante a progressão do conflito, as tropas francesas sofriam derrotas sucessivas, sendo que o próprio imperador já havia se rendido e se encontrava prisioneiro. Toda a França está ocupada. Toda? Não! Cercado pelo inimigo, os parisienses revoltaram-se num feroz movimento que passou para a história com o nome de Comuna. O fator culminante para a criação daquele estado “citadino” foi a humilhante capitulação dos monarquistas em favor da Prússia. Os adeptos de Napoleão, apoiados pelos camponeses e por grandes proprietários, davam um cavalo para não voltar à revolução social de 1848. Por cinco meses, o inimigo cercou a futura Cidade-Luz. A derrota do exército francês havia selado a guerra. O povo de Paris, ao perceber que o governo provisório (instalado em Versalhes) nada faria por eles, decidiu levantar barricadas, fechando a cidade. Apesar da patriótica resistência, Versalhes já havia assinado a rendição, em janeiro daquele ano. Em conseqüência disso, Paris se fechou para si mesmo, criando um regime político particular contra tudo e contra todos, como os gauleses das histórias de René Goscinny. Em maio de 1871, uma violenta repressão promovida pelas forças reacionárias derrubou as barricadas e tomou a cidade, executando milhares de trabalhadores amotinados: pelo menos 20 mil parisienses foram mortos durante o ataque. Depois que a poeira assentou, ficou um porém: o temor de que, mais cedo ou mais tarde, novas barricadas fossem erguidas. Para evitá-las, a prefeitura destruiu todos os prédios nos bulevares e ruas avenidas centrais foram todas alargadas. Com tamanha largura, seria impossível fechá-las com barricadas. Mas Paris seria sempre Paris — como diria Bogart em Casablanca — e maio seria sempre maio. Quase um século após a Comuna, o atavismo “revolucionário” foi mais forte. Tanto que, nas trágicas noites de 10 e 24 de maio de 1968 — há exatos trinta e cinco anos, nada menos de 40 barricadas foram erguidas nos quartiers da margem esquerda do Sena. Entre recordações nostálgicas dos anos 60 e declarações de desilusão a respeito dos fins e meios daquele momento histórico, a rebelião dos jovens é sempre lembrada.
O COMEÇO — De 1960 até maio daquele ano (que, segundo Zuenir Ventura, não acabou), surgiu na França um movimento contestatório da juventude contra a sociedade dos seus pais e avós. De acordo com o historiador Alexandre Roche, tal contestação nascia do abandono dos ideais de liberalismo e comunismo, da revolução sexual, da democratização dos costumes, das modificações da Igreja e de uma abordagem existencial da vida. “A França de 1958 era uma sociedade do século 19, sobretudo no interior”, diz Roche. Ele sustenta que, de 1946 a 68, o movimento jovem foi sustentado e impelido por uma explosão demográfica pela qual a França não passava desde os tempos do Iluminismo: em 1964, a proporção de jovens que entravam na universidade deveria ser multiplicada por dez em relação a 1946. “Foi esse peso que deu aos jovens a sua força”, revela.
A Rue d’Ulm, onde fica a Escola Normal Superior, exercia uma grande influência sobre a Universidade. Pensadores daquela instituição liam de Proudhon e Malthus, de Lênin a Taylor e achavam que esses autores seriam tão revolucionários quanto negligenciados. Junto a estes, os métodos de Foucault, Lacan, Barthes, Levi-Strauss e Sartre serviam para que eles criticassem o comodismo e a mistificação. Havia agitação no ar. Roche entende que o movimento se dividiu em três partes: a primeira, com o “Não” otimista, em maio; a utopia e o político, em junho; a contestação sistemática ou o “Não” radical. Os movimentos de abril e maio dividiam facções de esquerda, liberais e conservadores. Também por isso, a tentativa de trazer camponeses e operários ao movimento fracassou e perdeu o combate. Por fim, veio a última fase do conflito, a esquerda, solitária e radical, libertária, anarquista, maoísta, guevarista, socialista, comunista e sem poção mágica, foi atacada pela polícia, perseguida, detida, condenada e desterrada. Como em 1871, a esquerda do “Nós Iremos até o Fim” e do “Início de uma Luta Prolongada” acabou pagando caro por suas utopias.
A HISTÓRIA — A guerrilha urbana de maio de 68, em Paris, começou dois meses antes na Universidade de Nanterre, por um motivo reles: em março, a reitoria da instituição (12 mil alunos) baixou norma proibindo que rapazes visitassem moças em seus dormitórios. De carona, um jovem estudante judeu-alemão, Daniel Cohn-Bendit, reuniu um grupo de cem colegas, e invadiu a secretaria da escola. Assustado com a represália, o reitor Pierre Grappin suspendeu as aulas chamou a polícia. O incidente foi, de início, apenas um fato isolado. Porém, foi ali que nasceu a estrela de Bendit no meio estudantil, que se transformou em Dany le Rouge (Daniel o Vermelho, por causa da cor dos seus cabelos), um Robespierre de centro acadêmico. Ele era bolsista do governo alemão, filho de pais judeus que emigraram para a França fugindo do Nazismo. Contra a estudantada de esquerda, um grupelho fascista, formado por ex-pára-quedistas, o Occident, apelava para a ignorância seus adversários. Estes, não se intimidavam: enchiam as paredes brancas da universidade com grafites. Muitos ficaram famosos: Aqui termina a liberdade! Nem Mestre nem Deus! O Vietcongue vencerá! Amemo-nos uns sobre os outros. Somos todos enragés (raivosos). E o mais célebre: Corre, camarada, o velho mundo está atrás de ti!... No dia três, os estudantes de Nanterre organizam uma manifestação na Sorbonne. No local, corria o boato de que os baderneiros do Occident pretendiam invadir a escola. Logo, esquerdistas ululantes começam a demolir classes e mesas. Rilham os dentes e se armam. A polícia é chamada. Conflitos entre estudantes e a tropa de choque ocorrem no Quartier Latin. No rabo de arraia, a polícia faz 596 prisões.
Para organizar a arruaça, os estudantes precisavam de um líder. No meio da bagunça, La Rouge aparece, entre apupos e assovios. É Daniel Cohn-Bendit, que conclama a todos, e discursa: “A Sorbonne deve transformar-se numa nova Nanterre!”. Os aplausos chegam aos ouvidos até então ensurdecidos do reitor Jean Roche, que toma uma decisão inédita na história da Universidade de Paris: escreve ao Comissariado de Polícia do Quartier Latin exigindo medidas para acabar a patacoada naquela histórica instituição. À tarde, é a vez dos gendarmes invadirem o pátio da faculdade, como iconoclastas furibundos. Se Deus não existe, tudo é permitido. No rescaldo do dia seguinte, as aulas são suspensas, a União dos Estudantes da França (Unef) e o Sindicato Nacional de Ensino Superior (Snesup) convocam greve por tempo indeterminado.
Seis de maio de 1968. Cresce a escalada da violência em Paris. Uma multidão sobe a Rue St. Jacques, disposta a retomar a Sorbonne ocupada por policiais. Rodolfo e Mimi não viveram para ver a cena: La Rouge, Alain Geismar (secretário do Snesup) e Jaques Sauvageot (vice-presidente da Unef) lideram mais uma baderna no Quartier Latin. As primeiras barricadas aparecem. Um poderoso efetivo da tropa de choque impede-lhes a passagem. A batalha começa. De um lado, rapazes e moças jogam nos policiais paralelepípedos arrancados das ruas. Estes respondem com granadas de gás lacrimogêneo. A vanguarda dos estudantes é formada por rapagões, a cabeça protegida por capacetes de moto. As moças repõem a munição, com paralelepípedos e pedras. Durante a batalha, que durou quase duas horas, 350 policiais foram feridos, a maioria com fraturas. Os estudantes se aperfeiçoam: protegem os olhos com óculos de mergulhadores e bicarbonato de sódio, como antídoto contra o gás. Rádios portáteis transmitem-lhes ordens da liderança. É o prenúncio das barricadas que deixariam Paris em chamas nas noites de 10 e 24 de maio.
Naquela altura, a cobertura do incidente pela Imprensa (eram mais de mil repórteres, a maioria pega de surpresa) foi realizada apenas por emissoras periféricas, com transmissores localizados em Luxemburgo ou em Monte Carlo, e com unidades móveis em Paris. Com o silêncio da Office de la Radio Télévison Française, (ORTF, estatal), os franceses só ficaram sabendo da situação “por fora”. Censura? O constrangimento foi tanto que, envergonhados e revoltados, seus funcionários se declararam em greve geral em prol da liberdade de informação.
Um dos 1.434 correspondentes da rebelião é o jornalista Flávio Alcaraz Gomes, que escreveu A Rebelião dos Jovens (editora Globo, esgotado) sobre os incidentes de maio em Paris. Enviado à Cidade-Luz para cobrir uma conferência diplomática, se viu no meio de uma guerra civil. Como testemunha ocular, ele pôde descrever, com riqueza de detalhes, o que aconteceu durante a balbúrdia estudantil de 1968: “Acabei de despachar pelo teletipo meu serviço para o Correio do Povo e volto ao Boulevard St. Michel, foco da rebelião. Uma multidão de jovens está entrincheirada em pelo menos 20 barricadas, de onde grita insultos contra o governo. 'De Gaulle assassino’ é a frase repetida em uníssono. A Polícia se decide: é preciso 'limpar' o quartier antes de o dia nascer. 2h50min. A polícia ataca. Parece uma carga de infantes medievais. A primeira barricada, na metade da avenida, cai com pouca resistência. As próximas ao Jardim de Luxembourg, porém, parecem inexpugnáveis. Quando as tropas se aproximam, são recebidos com uma saraivada de pedras e por dezenas de automóveis incendiados, jogados lomba abaixo. Gente chora, devido ao gás e às pancadas. Sirenes rasgam a noite. Fogueiras por toda parte. Moços e moças bradam desesperados por socorro - e a guerra prossegue até às 6h da primeira manhã em que Paris esteve em chamas”.
A Paris dos amantes agora arranca paralelepípedos das ruas e enche os muros de dizeres: Soyez solidaires et non solitaires! (Sejam solidários, e não solitários!); Même si Dieu existait il faudrait le supprimer (Mesmo se Deus existisse, seria preciso suprimi-lo); À bas les journalistes e ceux qui veulent les ménager (Abaixo os jornalistas e aqueles que querem manejá-los); Les syndicats sont des bordels (Os sindicatos são bordéis); La liberté est le crime qui contient tous les crimes (A liberdade é o crime que encerra todos os crimes); Ceux qui font les révolutions à moitié ne font que se creuser un tombeau (Aqueles que fazem as revoluções pela metade nada mais fazem do que cavar seu túmulo); E, destacando-se das demais, a que ficou como marca registrada: Défense d`interdire! (É proibido proibir).
“CHIENLIT” — A segunda noite das barricadas aconteceu a 24 de maio de 1968, logo depois de o presidente Charles de Gaulle ter proposto um referendo para decidir se permaneceria ou não no governo. Ao mesmo tempo, o movimento estudantil tentava contaminar os operários. Uma semana antes, centenas de fábricas foram ocupadas pelos trabalhadores. No dia 20, o número total de grevistas chagou a 10 milhões. La Rouge foi proibido de permanecer na França. Dois dias antes, a oposição não conseguiu obter votos necessários para a moção de censura a Georges Pompidou, primeiro-ministro, na Assembléia Nacional. Estudantes se manifestam contra a expulsão de Cohn-Bendit. Um a um, os serviços públicos essenciais interrompiam o trabalho. O aeroporto de Orly fechou. Os vôos eram obrigados a descer em Le Bourget. Mas as coisas se complicaram mesmo quando as garotas do famoso cabaré Lido declararam-se também em greve.
Flávio Alcaraz Gomes conta que ele também viu elementos estranhos ao movimento estudantil infiltrarem-se em seu meio, usando motosserras. “Em questão de minutos, os plátanos centenários do boulevard Saint Michel eram abatidos para engrossar as barricadas, nas quais se empilhavam móveis, pedras e automóveis”, revela. “Ao mesmo tempo, outros grupos profissionais, empregando compressores de ar, literalmente descascavam a rua, retirando-lhes os paralelepípedos, para munição dos rebelados”. Após a convulsão, a Prefeitura de Paris passou a asfaltar todas as ruas e avenidas. Foi nesse momento que, voltando de uma viagem à Romênia, De Gaulle, furioso, exclamou: “La réforme oui, la chienlit non”. Pouca gente entendeu o chienlit. Depois, descobriram: defecar no leito. “É o que o general-presidente iria evitar que acontecesse”.
Nas catacumbas, o Partido do Medo se insurgia. Não possuía programa nem estatutos, mas se transformou na mais poderosa agremiação política do país. Seus integrantes eram a maioria silenciosa, que temia o pior. “Nos dias imediatos à segunda noite das barricadas, porém, de Gaulle parecia um moribundo ao ver as dificuldades internas derrubarem seus sonhos de liderança européia”, conta Alcaraz.. “Por mais que seus porta-vozes literários e filosóficos alardeiem o contrário, o francês é um dos povos mais aburguesados do mundo, e a perspectiva de ver instalada em sua terra uma república anárquico-vermelha começou a deixá-lo em pânico. A reação não tardaria a se fazer sentir”.
REI POSTO — Terça-feira, 28 de maio. De Gaulle não dá mais sinal de vida. François Mitterand, então presidente da Federação da Esquerda e adversário do general desde a Resistência, propõe a formação de um governo provisório dirigido pelos esquerdistas coligados. Também se apresenta candidato à Presidência da República. Já Pierre Mendès-France, ex-primeiro-ministro da 4a República, declara-se também candidato. “Tudo é procedido e divulgado como se a França estivesse acéfala e o seu velho rei, morto, a majestade perdida”, analisa o jornalista. A situação torna-se mais explosiva quando, naquela noite, cruzando a fronteira e com o cabelo pintado de preto, Dani (agora ex-vermelho) instala-se na Sorbonne e convoca a imprensa para proclamar o óbvio: a anarquia tinha se instalado na França.
Paris, 28 de maio de 1968. A França está paralisada. Nas ruas, multidões de estudantes e de operários (em manifestações distintas, já que os trabalhadores consideram a estudantada um bando de filhinhos de papai) substituem o slogan “De Gaulle assassin” por “De Gaulle démission”. As pessoas abandonam as cidades. De repente, o suspense e, logo, o pânico: De Gaulle havia desaparecido. No dia anterior, sindicatos, empresários e governo negociavam um acordo que previa aumento de salários, redução de horas de trabalho e a participação dos trabalhadores na gestão das empresas. No dia 29, todos souberam: De Gaulle havia partido secretamente para Baden-Baden. O objetivo era encontrar-se com o general Massu e os principais comandos, num quartel-general das forças armadas francesas na Alemanha. Fez um apelo dramático: ou o Exército o apoiava ou a subversão totalitária tomaria conta do país. Os oficiais se comoveram, e o general Metz, comandante da praça de Paris, jurou lealdade ao presidente.
“RETOUR A LA NORMALLE” — De Gaulle sentiu-se vencedor. Voltando do encontro secreto, o primeiro mandatário francês dirige-se à nação pelo rádio e televisão. Com firmeza, anuncia a dissolução da Assembléia nacional e diz que não renuncia e convoca eleições gerais, que são realizadas em dois turnos, a 23 e 30 de junho de 1968. No mesmo dia, cerca de 800 mil pessoas manifestam-se em apoio a De Gaulle em Paris. A rebelião dos jovens passou a ter seus dias contados. No dia 31 de maio, governo é reorganizado. A nova equipe tem 19 ministros e secretários de Estado remanescentes da anterior, mas doze deles apenas trocam de função — é o chamado ‘seis por meia-dúzia’. Como dizia um cartaz, com um desenho de um rebanho de ovelhas, afixado na Sorbonne: de volta à normalidade.
A pá-de-cal na Rebelião de Maio ficou a cargo da maioria silenciosa, quando o Partido do Medo demonstra a sua pujança. Concluídas as apurações, os resultados foram surpreendentes: os gaullistas conquistam 297 das 387 cadeiras no parlamento. Seus aliados Republicanos, 53, e as esquerdas reunidas, 137. O Partido Comunista tem seus 73 assentos reduzidos a 34 e a Federação da Esquerda, do ex-candidato-a-candidato François Mitterrand, que antes da crise tinha 121 deputados, consegue eleger apenas 57. Falando ao France Soir, seus inconsoláveis líderes praguejam: “Pagamos pelas barricadas que não erguemos”.
CONCLUSÕES — Flávio Alcaraz Gomes conta em suas memórias que, terminada a guerrilha de maio de 1968, partiu em peregrinação profissional pela Europa, retornando a Paris um mês mais tarde. “Quando desci no aeroporto de Orly, completamente normalizado, e dali me dirigi ao meu bairro - o Quartier Latin - fui percebendo, ao longo dos 14 quilômetros do caminho, que as coisas haviam mudado. As bandeiras vermelhas e negras tinham sumido”, descreve. Em seu lugar, guirlandas tricolores drapejavam ao vento ameno de uma primavera a substituir o inverno de sombras e de medos de maio. “Desço o boulevard Saint Michel e o noto fisicamente diferente: seus plátanos centenários, serrados criminosamente pelos anarquistas, estavam substituídos por mudinhas novas, e o antigo calçamento de paralelepípedo coberto por espessa camada de asfalto para evitar que fosse novamente descascado. Sorbonne e Odeon estavam fechados para reparos. Enfim, as mudanças aparentes eram essas. E as mudanças essenciais: teriam elas acontecido na cabeça das gentes?”.
O filósofo Allain Finkielkraut, que participou das manifestações, entende que era preciso “desestabilizar certas convenções e denunciar uma certa ordem repressiva” mas, segundo ele, não se pode exagerar a importância de maio. “A substituição do ideal hedonista pelo ideal ascético estava inscrita na propaganda da nossa sociedade”, explica. “O episódio acelerou um processo já em curso, ligado ao individualismo”. Para Finkielkraut, 1968 não foi uma revolução: “o movimento surpreendeu os próprios atores, não foi fomentado”, entende o filósofo. “Isso explica em parte a nostalgia existente. Acontecimento é o termo mais adequado como definição”. A respeito dos “atores”, Flávio Alcaraz tece sua crítica no sentido de que os protagonistas da revolta, como Cohn-Bendit, se transformaram num ícone mais do lirismo da aura de 68 do que num homem que manteve sua convicção ao espírito de Maio.
O próprio Dani le Rouge se defende. Hoje ex-prefeito-adjunto de Frankfurt e deputado europeu eleito pelo Partido Verde alemão, Cohn-Bendit corrobora a tese de que, como todos, foi pego de surpresa pelos acontecimentos e entende que a revolução é um fantasma das sociedades: para ele, elas só precisam mudar. Quanto à batalha campal pelas ruas de Paris, ele acredita que elas são “falsas”: “elas não são nada comparadas com as revoltas de camponeses, ainda atuais”. Ao invés de revolução, a revolta juvenil canalizou perspectivas. “[1968] abriu uma brecha para um movimento social heterogêneo que procurava expressar-se”, revela. Sobre o “fracasso” eleitoral, ele defende que não havia força capaz de fazer a revolução, muito menos capaz de obter maioria parlamentar. “Até os que participaram da greve geral acabaram votando em De Gaulle: não queriam comunistas no poder, e Mitterand entendeu que uma esquerda radical jamais seria maioria”, diz le Rouge. “Perdemos no [terreno] político, mas ganhamos no sócio-cultural”, conclui.
Posted by Sandino at setembro 30, 2005 11:50 PM
Comments
ótimo
Posted by: angélica at novembro 13, 2007 06:09 PM