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janeiro 30, 2006

A hora da vingança
por Jairo Lavia

Os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, na antiga Alemanha Ocidental, desenvolviam-se em clima de paz e harmonia até que na noite de 5 de setembro 11 atletas israelenses são seqüestrados e mantidos reféns pelo grupo de guerrilheiros palestinos Setembro Negro. Dois membros da equipe são mortos. A tensão cresce e um fracassado plano de resgate da policia alemã resulta em massacre. Aos olhos do mundo, o evento torna-se um trágico reality show, com mocinhos e bandidos. Após 21 horas e uma desastrada ação policial no aeroporto militar da cidade, terríveis palavras são pronunciadas pelos jornalistas: “Estão todos mortos”. Reféns, cinco seqüestradores e um policial.
Esse é o preâmbulo para o assunto principal do filme Munique, de Steven Spielberg: a contra-ofensiva israelense nos meses que se seguiram ao atentado terrorista. O filme é narrado pela ótica de Avner (Eric Bana), o oficial da inteligência que abandona a mulher, grávida de seu primeiro filho, e sua identidade para caçar e matar os 11 homens acusados pelo serviço de inteligência de Israel (Mossad) de planejar o ataque terrorista.
Spielberg pisou em terreno minado ao decidir levar às telas as ações do governo israelense depois do atentado de Munique e, de certa forma, reavivar o conflito entre judeus e palestinos. Não há dúvida de que um filme como esse provocaria grandes discussões entre os povos envolvidos em questões étnicas e religiosas. Quando da sua estréia nos cinemas mundiais, Munique provocou controvérsias, com reações dos dois lados, israelense e palestino, que o acusam de ser tendencioso, inverossímil e superficial na abordagem dos fatos da operação denominada Cesaréia. Para o correspondente da revista Time em Jerusalém e autor do livro Striking Back sobre o atentado em 1972, Aaron Klein, o filme é uma grande invenção do diretor.

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Filme de Steven Spielberg concentra-se na missão do Mossad para eliminar os mentores do atentado nas Olimpíadas de 72

Spielberg montou o roteiro com base no livro A Hora da Vingança, do canadense George Jonas, a partir do relato do próprio Avner e cercou-se de especialistas no assunto. Polêmicas à parte, ele construiu um thriller de espionagem inspirado, cuja força se deve a um roteiro que privilegia o âmago do agente, o que coloca o filme também como um excitante drama emocional.
O grupo de agentes liderado por Avner percorre vários países em busca de informações e à caça dos terroristas. À medida que os alvos vão sendo eliminados, cresce a crise de consciência nos próprios agentes e muitas perguntas ficam sem respostas. Aos poucos, percebemos que o herói de Munique agoniza e se esvaece em dúvidas. “Quem estamos matando?”.
Por outro lado, a primeira-ministra israelense Golda Meier se pergunta, ao despachar o agente para a missão: “Será que o único sangue que importa é o judeu?”
O que se vê na tela são cenas e diálogos longe de serem frívolos e passivos. Avner questiona a si mesmo a aos preceitos judaicos, como se perdesse a inocência conforme fortes imagens ricocheteiam na mente do espectador – ora com o clima de expectativa dos ataques sorrateiros do Mossad, ora com os flashes do atentado terrorista.
Não há vencedor – justamente por esse filme valorizar o espectador e deixar de lado o ego de seu diretor. Para os dois lados são dados valores parecidos - e essa é uma das principais críticas feitas por israelenses e palestinos. Pesado na balança, o discurso spielberguiano funciona bem como objeto de reflexão, mesmo que muitas vezes penda para um dos lados: o de que a vingança israelense foi absurda e questionável.
Em Munique o espectador ganha um thriller de espionagem, com boa dose de suspense (que envolve o grupo de justiceiros do Mossad e o elo criado por estes com os informantes e as relações de Avner com sua família). Pelo apresentado, pode-se chegar a conclusão de que houve sim uma noção de que a importância dos fatos se sobrepõe à polêmica e às facilidades partidárias. E essa é a grande sacada de Munique.
Spielberg está tão bom quanto em grande parte de sua filmografia. A diferença é que em Munique há uma dose cavalar de sobriedade e discrição em sua narrativa. O cineasta, descendente de judeus, tinha tudo para fazer um filme “chapa branca” e com clichês sentimentalóides. Ao contrário, há por trás do desenrolar político-cultural de Munique um enredo maduro, sem concessões, e menos espetacular, se for comparado a outras investidas do diretor em temas políticos como A Lista de Schindler (1993) e O Resgate do Soldado Ryan(1998).

Posted by Sandino at janeiro 30, 2006 09:36 AM

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