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janeiro 29, 2009
Mr. President
Negro na Casa Branca
por Alexandre Braga
Barack Obama e sua família entraram, com maciço apoio popular, pela porta da frente da Casa Branca. A presença deles consolida e é resultado da luta histórica de gerações de militantes negros, as quais eram engajadas em diferentes pólos da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Portanto, Obama chegou lá porque seu país proporcionou-lhe uma acertada política de ações afirmativas.
Agora um setor avançado da intelectualidade negra tem pela frente o grande desafio de gestar a administração obamista. Esta se inicia tendo o desbloqueio econômico à Cuba como possível tarefa de relevo, cuja restrição atrapalhou a edificação societária da ilha socialista. Também ronda a seara do presidente negro, a necessidade de imediata retirada das tropas norte-americanas do Iraque, pondo um ponto final na ocupação.
Outros temas da agenda das relações internacionais ainda são uma incógnita, afinal não se sabe como o presidente eleito vai proceder sem desacordar seus aliados de primeira linha. Desses assuntos, o que mais interessa ao Brasil é a política de subsídio agrícola dada pelos Estados Unidos a seus agricultores. Para Brasil e Mercosul, essa questão tem importância delicada, já que uma política menos restritiva pode destravar a produção e comercialização de alimentos no mundo.
Se esses temas terão uma resolução ainda incerta, outros não demandam dúvidas quanto qual postura Obama vai seguir. Na área cultural, por exemplo, ele não pretende diminuir a hegemonia norte-americana no setor. Sua aliança com o super-poderoso grupo Fox News é resultado sintomático da continuidade da indústria cultural estadunidense sobre os demais países do Globo.
Muito provavelmente ainda, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos não vai alterar a atual rota dos acontecimentos do Consenso de Washington, muito menos os rumos da Doutrina Bush. Além disso, não vai mudar a Nova Ordem Mundial, pela qual os Estados Unidos impõem sua dominação bélico-financeira perante o resto dos países mundo afora.
O governo de Obama representa, sim, a possibilidade de construção de diálogos pontuais que envolvam a necessidade de haver urgentíssimas inversões de prioridades nas políticas públicas governamentais para atender significativa parcela dos excluídos do capitalismo. Essa é a principal missão dele enquanto clamor popular.
O fato de o governante ser negro é dos menores elementos desse jogo político, na medida em que, para manter o atual status imperialista e belicista, todas as matizes étnicas são bem vindas ao processo eleitoral dos Estados Unidos. Afinal, só nos interessa a questão racial quando essa discussão está a serviço de um projeto de emancipação social como perspectiva de construção de uma nova sociedade fraterna e igualitária. Barack Obama, por enquanto, está restrito apenas a construção desses diálogos paliativos. Porém, ao contrário das opiniões esquerdistas, sabemos a importância que essas eleições têm para o avanço da luta ideológica e política.
Ademais, termos um presidente - no centro do mundo globalizado - aberto ao diálogo fraterno com os movimentos sociais e demais blocos que não comungam a opressão geopolítica e ambiental provocada pelos últimos governos na América do Norte é passo histórico nesse caminho.
Obama tem a chance de reverter o quadro da estagnação sócio-ambiental para construir uma nova correlação de forças, direcionando o país para a governança realmente democrática e antenada aos anseios da paz e respeito à autodeterminação dos povos. Além disso, tem a obrigação de anunciar medidas efetivas para superar a hodierna crise do capitalismo.
* Alexandre Braga, coordenador de Comunicação da Unegro - União de Negros Pela Igualdade-MG e membro do Fórum Mineiro de Entidades Negras
Posted by Sandino at 04:19 PM | Comments (0)
Guantanamera
por Luciano Rezende*
Na década de 40, em Havana, era muito comum ouvir pela rádio a voz de Joseíto Fernández que, em um programa de enorme sucesso chamado La Guantanamera (mulher de Guantánamo), alternava trovas havaneiras com notícias extraídas das páginas policiais. Ao final de cada assunto se podia ouvir o famoso bordão “Guantanamera, guajira guantanamera”. Daí o dito popular cubano “me cantó una guantanamera” quando se quer dizer que alguma pessoa disse algo triste.
Já a famosa canção Guantanamera, tal como a conhecemos na atualidade, surgiu em 1963. Uma alegre música guajira (camponesa) embalada pelos “versos sensillos” de José Martí que nos mostra outra Guantánamo, distinta desta que é conhecida mundialmente por sediar um campo de detenção (ou concentração) e representar um dos mais infames crimes contra os direitos humanos cometidos pelos EUA sob o tacão de George W. Bush.
Essa introdução pode ser útil para entender a contradição de Guantánamo: uma província (estado) da ilha revolucionária de Cuba que abriga uma base militar dos EUA desde 1903. Há mais de um século a alegria contagiante dos guajiros guantanameros e a truculência militar yankee convivem em um mesmo torrão de uma nação soberana.
São exatos 117,6 quilômetros quadrados (ou 11.760 hectares, para facilitar a conta), incluindo grande parte das melhores baías do país, ocupados pelos Estados Unidos. Mas a título de aluguel e de escárnio, o Tio Sam paga todos os anos a quantia de 4.085 dólares (cerca de dez mil reais), ou seja, 34,7 centavos por hectare em cheques anuais que o governo de Cuba se recusa a receber por elementar dignidade e absoluto desacordo com o que ocorre nesse espaço do território nacional. Mesmo assim os cheques são encaminhados anualmente, de forma provocativa, ao Tesoureiro Geral da República de Cuba, cargo e função que há muito já não existem.
Porém, esse aluguel é a provocação menor entre uma série de outros deboches que partem ininterruptamente do vizinho imperialista (com gargalhadas da mídia hegemônica mundial) que só não tem graça para as nações que almejam verem respeitadas suas soberanias.
Como bem lembra o governo de Cuba em célebre nota intitulada “Declaração do Governo de Cuba à Opinião Pública Nacional e Internacional”, datada de 11 de janeiro de 2002, a base naval norte-americana de Guantánamo é ocupada, desde 1903, como resultado de Convênio para as Estações Carvoeiras e Navais, assinado entre o Governo dos Estados Unidos e o Governo de Cuba, então presidido por Tomás Estrada Palma, em circunstâncias que o país não tinha praticamente nenhuma independência, e pela imposição de uma emenda draconiana aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos e assinada pelo presidente McKinley, em março de 1901, conhecida como Emenda Platt. Importante que se diga que tudo isso ocorreu quando Cuba estava ocupada pelo exército dos Estados Unidos, que ali se estabeleceu depois de uma intervenção militar para “ajudar” Cuba em sua guerra de independência contra a metrópole espanhola. Muy amigos!
A referida Emenda dava aos Estados Unidos o direito de intervir em Cuba e foi imposta ao texto da Constituição como condição para a retirada das tropas americanas do território cubano. Em virtude desta cláusula, foi subscrito o mencionado Convênio para as Estações Carvoeiras e Navais de fevereiro de 1903, em Havana e Washington, que incluía duas áreas do território nacional de Cuba: Baía Honda e Guantánamo.
Trinta e um anos mais tarde, em 29 de maio de 1934, com o espírito da política norte-americana de “boa-vizinhança”, sob a presidência de Franklin Delano Roosevelt, foi assinado um novo Tratado de Relações entre a República de Cuba e os Estados Unidos da América, que revogava o de 1903, e com ele a emenda Platt. Nesse novo Tratado a Baía Honda ficava definitivamente excluída como possível base, mas se mantinha a permanência da base naval de Guantánamo e a plena vigência das normas que a regiam.
Com o triunfo da Revolução em Cuba a situação piorou e essa base se converteu em causa de numerosos atritos entre os dois países. A imensa maioria dos mais de três mil cidadãos cubanos que ali trabalhavam foram expulsos de seus postos de trabalho e substituídos por pessoal de outros países. Eram freqüentes os disparos a partir dessa instalação, a ponto de matarem soldados cubanos.
Ao longo de todo o período revolucionário, por decisão unilateral dos governantes dos Estados Unidos, dezenas de milhares de migrantes, haitianos e nacionais cubanos, que tratavam de viajar aos Estados Unidos por seus próprios meios, eram concentrados nessa base militar. Durante cinco décadas esta tem sido empregada para múltiplos usos e nenhum deles está contido no acordo com que se justificou sua presença em território cubano.
Cuba, por todo esse tempo, vem conduzindo habilmente a situação a ponto de não cair na armadilha do inimigo e tampouco entrar na provocação, apesar de toda a sorte de afrontas. Aliás, o governo de Cuba sempre alertou que essa base militar é precisamente o lugar onde soldados norte-americanos e cubanos se enfrentam frente a frente e, por essa razão, onde se necessita mais serenidade e senso de responsabilidade. Afirma que embora dispostos a lutar e morrer em defesa sua soberania e de seus direitos elementares, o mais sagrado dever do povo cubano e de seus dirigentes tem sido preservar a nação de evitáveis, desnecessárias e sangrentas guerras. Ali é o ponto onde pessoas interessadas em criar conflitos entre os dois países poderiam, com maior facilidade, instrumentar planos que servissem para provocar ações agressivas contra Cuba.
Entretanto, a maior das ações provocativas vem de 2002, quando os EUA decidem por efetivar um campo de detenção na base naval de Guantánamo. A partir daí, a soberana ilha de Cuba se vê obrigada a sediar um verdadeiro centro de torturas. Os EUA aproveitam, assim, o vazio jurídico existente para deter, interrogar e torturar centenas de prisioneiros, privando-os dos direitos mais elementares, tais como o de saberem de que são acusados, terem acesso a advogado de defesa ou ao menos contatar as suas famílias e informá-las de sua localização.
Assim, a iniciativa do presidente eleito Barack Obama de fechar em até um ano o centro de detenção de Guantánamo, a despeito de ser uma ótima peça publicitária para seu governo, merece ser saudada. O governo de Cuba considera como “bom sinal”, mas reclama, por direito, a devolução de todo o território ocupado ilegalmente.
As forças progressistas de todo o mundo não devem se contentar apenas com essa decisão. Há de se cobrar também o fechamento de outros campos de detenção americanos espalhados por todo o mundo, onde existem prisioneiros em condições similares, vítimas de torturas, e dezenas de outras prisões que circulam em navios em alto mar, por águas internacionais, com regime jurídico indefinido. Ademais, há de se julgar os Estados Unidos por todos os seus crimes de guerra.
Só assim, quando o último yankee partir de Guantánamo, o canto da guajira deixará de simbolizar mau agouro para anunciar a boa nova que virá. A Guantanamera, então, mais uma vez fará jus à letra de seu herói nacional, José Martí, que deu a própria vida pela independência de Cuba.
Até lá continuaremos a postos denunciando a política belicista do imperialismo e exigindo a incorporação de todo o território ocupado de Guantánamo ao seu legítimo dono: o povo de Cuba.
*Luciano Rezende, Engenheiro Agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Da Direção Nacional da UJS.
Posted by Sandino at 03:57 PM | Comments (0)
janeiro 20, 2009
Diário de Bordo (Bahia)
O jornalista Marcello Lujan acaba de retornar da Bahia, onde esteve de férias com sua família. Ao todo foram percorridos 4.200 km em 20 dias de viagem, visitando as cidades de Teixeira de Freitas, Vitória da Conquista, Itabuna, Ilhéus, Itacaré, Una e a Península de Maraú. Confira abaixo o que é que a Bahia tem...
Teixeira de Freitas (fome a beira do caminho)
Caminho para praias, a cidade tem aproximadamente 100 mil habitantes sendo a maior do extremo sul da Bahia. Chamam a atenção às crianças que ficam pedindo comida às margens da BR 101. Há dezenas de placas com a mensagem “preciso de alimento” espalhadas na beira da estrada. Corta o coração e remete para um Brasil que ainda persiste. Até quando?
Una (jabá para o Mico Leão)
A cidade tem cerca de 35 mil habitantes e possui a maior biodiversidade vegetal do planeta. Praias exuberantes, rios, banho de lama negra, mata Atlântica e as corredeiras do rio Una estão entre os principais atrativos do município. Destaque para “Ecoparque de Una”, onde se pode avistar uma das mais belas florestas do mundo por uma passarela de mais de 20 metros de altura, construída na copa das árvores. No parque, não é raro trombar com um Mico Leão da Cara Dourada. Localiza-se em Una a famosa “Ilha de Comandatuba”, onde está construído o Hotel Transamérica (aquele hotel que o Bolinha - falecido apresentador de TV vivia fazendo um jabá).
Ilhéus (Gabriela, cravo, canela e sol)
É a cidade com o mais extenso litoral entre os municípios baianos. As “praias do sul” possuem mais infra-estrutura. Ilhéus é considerada por seus moradores como a “Capital do Cacau”. A cidade já foi o primeiro produtor de cacau do mundo, mas depois da enfermidade conhecida como vassoura-de-bruxa que infestou as plantações, reduziu muita a sua produção. A cidade ambienta diversos romances de Jorge Amado, como “Gabriela, Cravo e Canela” e “Terras do Sem Fim”. Casarões, palacetes e igrejas em estilo neoclássico emolduram o “Centro Histórico de Ilhéus” e remetem aos tempos áureos do ciclo do cacau (início do século XX). Entre os exemplares estão à “Casa de Cultura Jorge Amado”, instalada na residência onde o escritor morou e os templos de “São Sebastião” e “São Jorge dos Ilhéus”. O passeio completo pelo Centro Histórico inclui ainda o “Bar Vesúvio”, que ganhou fama internacional com o romance de Gabriela e o cabaré “Bataclan”- hoje transformado em espaço cultural. Ilhéus também abriga um Pólo de Informática e seu chocolate artesanal é famoso. Nos últimos 4 anos a cidade teve 3 prefeitos diferentes e o clima político ferveu mais que o sol. Muitos dizem que a falta estabilishiment prejudicou a cidade, que “parou nos últimos anos”.
Itabuna (Sente São Paulo)
A comparação é inevitável: Ilhéus está para o Rio de Janeiro assim como Itabuna está para São Paulo. Ou seja, Itabuna é o coração comercial da região e está situada às margens da BR-101. Devido à proximidade com Ilhéus (apenas 25 km), muitos moradores possuem um imóvel na praia onde passam os finais de semana.
Itacaré ($arkozy)
Desembarcamos na cidade durante à visita do presidente francês Nicolas Sarkozy e sua esposa Carla Bruni. Em Itacaré tudo é caro e falta infra-estrutura. De legal, destaque para as belas praias como Havaizinho e Itacarezinho.
Península de Maraú (Caribe Brasileiro)
Este santuário ecológico revela uma variedade de ecossistemas, com belíssimas praias, restingas, recifes coralinos, manguezais, campos naturais e tipos florestais da Mata Atlântica com uma variada fauna/flora. A praia de Taipus de Fora é deslumbrante, reunindo dezenas de piscinas naturais e ondas perfeitas para o surf num mesmo local. O marqueteiro Duda Mendonça possui uma mansão na localidade, capaz de deixar qualquer petista de carteirinha de boca aberta. O que isso, companheiro? Em Taipus de Fora também são feitos mergulhos com lanternas para se observar à fauna marinha noturna. Na península também está situada a “Ilha da Pedra Furada”. De formação rochosa, a ilha tem um arco de pedra feito pela natureza coberta por palmeiras e árvores. Na maré seca formam-se vários aquários ideais para mergulho. A região é conhecida como a “Costa do Dendê”, mas poderia perfeitamente ser chamada de Caribe Brasileiro.
O que é legal na Bahia
- A culinária baiana é rica em sabores. Para quem gosta de uma “pimentinha” é um prato cheio.
- Hospitalidade do povo, que também é muito prestativo e educado.
- A Bahia possui muita história e cultura. Há arte em todo lugar.
- Ver uma baiana devidamente trajada contar algumas estórias de Gabriela. Pura arte, sedução e profusão de imagens.
- Comer chocolate caseiro.
- A rivalidade entre as equipes do Itabuna (papa jacá) e do Colo-Colo de Ilhéus (papa caranguejo).
- Os passeio de barco pelos rios da região. A “Lagoa Encantada” é muito bonita.
- A estrada Ilhéus/ Itacaré é uma das mais belas do Brasil. Em alguns trechos, as placas de sinalização lembram que trata-se de uma área pertencente a Unesco.
- A água do mar é quente.
O que não é legal
- O Aeroporto de Ilhéus é surreal. Não precisa ser vidente para prever problemas. Ao aterrizar os aviões passam raspando pelos carros que circulam por uma importante avenida. De tão absurdo, o local atrai curiosos e turistas.
- A cidade de Itacaré está inflacionada, tudo é muito caro e falta infra-estrutura.
- O funk carioca invadiu a Bahia. Para quem revelou ao mundo nomes como João Gilberto, Dorival Caymmi, Caetano, Gil, Bethânia, Tom Zé, Raul...soa como uma afronta. Como cantou os baianos do Camisa de Vênus, “isso é só o fim”.
Agradecimentos
Além de conhecer novos lugares, toda viagem representa uma oportunidade de fazer amizades, encontrar pessoas boas e honestas. Agradeço ao pessoal que colaborou de uma forma ou outra, dando dicas de passeios, prestando socorro (o carro quebrou em Taipus de Fora e foi preciso chamar o guincho). Muito obrigado ao Walmir (condomínio Mar de Ilhéus), Professor Ivan de Maringá (vizinho de apartamento), Dino (Dino Imóveis), Vilmo (mecânico da Concessionária Columbia), Erica (lojinha e lan house em Taipus de Fora) Casal das motos e bikes de Taipus (que abrigaram as crianças até a chegada do guincho, que durou 12 horas) e Gilmar (nosso anjo da guarda em Taipus de Fora, que saiu de sua casa e foi até uma estrada esperar pelo guincho, que estava perdido).
depois vou legendar as fotos...
Posted by Sandino at 06:05 PM | Comments (1)
janeiro 16, 2009
Back to Bahia
De volta da Bahia, fim de férias. Há muito a dizer, comentar, mostrar... Por ora, vou descansar só mais um tiquinho e organizar as idéias. Depois conto tudo.
Posted by Sandino at 09:58 PM | Comments (0)