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outubro 26, 2009
O galo e o porco...
Do jornal 'Super Notícia' de Belo Horizonte
Posted by Sandino at 05:55 PM | Comments (0)
Uruguai: Mujica e Lacalle se enfrentarão no segundo turno
O ex-guerrilheiro José Mujica, da governista Frente Ampla, e o ex-presidente Luis Alberto Lacalle, do opositor Partido Nacional, disputarão o 2º turno nas eleições presidenciais do Uruguai. A informação foi confirmada nesta segunda (26) pela Corte Eleitoral. Mujica venceu a 1ª rodada do pleito, com 47,5% dos votos. Seu adversário obteve 28,5%. Para tentar barrar o claro favoritismo da Frente Ampla, as forças conservadoras estarão unidas no segundo turno, dia 29 de novembro. Em terceiro lugar na disputa, com 16,7%, ficou Pedro Bordaberry, do Partido Colorado. Pablo Mieres, do Partido Independente, teve 2,4%. Foram às urnas 89,86% dos eleitores, um percentual considerado elevado.
Bordaberry, filho do ex-ditador Juan María Bordaberry (1973-1985), assegurou ainda ontem que convocaria seu partido sobre o segundo turno, mas que "pessoalmente" votará em Luis Alberto Lacalle. Nas eleições de 2004, a vitória de Tabaré Vázquez por estreita margem já no primeiro turno evitou a união dos dois partidos históricos, que existem desde a separação do Uruguai do Brasil, em 1828. "Eu só posso agradecer muito ao gesto do doutor Bordaberry, que anunciou seu apoio sem condições por causa da nossa coincidência de valores e de ideias", disse Lacalle a jornalistas em seu comitê eleitoral no centro de Montevidéu.
Segundo turno sem ódio
Diante de uma diferença de poucos votos para definir a eleição no primeiro turno, Mujica fez um discurso conciliador, pedindo votos de todos os partidos naquilo que chamou de “plebiscito sem ódio” entre as gestões dos partidos tradicionais e a da Frente Ampla. "A sociedade exige de nós mais um esforço, de participar de um segundo turno. Trata-se de uma questão de fórmula política e assim vai continuar nesses próximos 30 dias", disse em entrevista a jornalistas.
Do lado de fora do hotel onde deu sua entrevista coletiva, Mujica era esperado por milhares de frenteamplistas que se dividiram sobre o resultado: uns se frustraram, pois queriam resolver tudo no primeiro turno, e outros consideraram a perspectiva justa para ampliar o apoio ao governo que virá. Em meio a gritos de "Si, se puede", inspirados no mote de campanha do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, eles passaram a noite nas ruas de Montevidéu pedindo votos no 2º turno. "Ninguém nunca nos deu nada de presente. O impossível sempre custa um pouco mais. Agora não é pela bandeira tricolor. É por esta, do Uruguai", disse Mujica de um palanque onde esteve acompanhado de seu candidato a vice, o ex-ministro da Economia Danilo Astori. "Serão trinta dias de luta, mas não de ódio. Queremos que nosso povo pense não em partidos, mas no país."
Segundo Astori, a votação de domingo "indicou que nos dirigimos para a vitória, só que a vitória exige de nós um pouco mais." Pesquisas de intenção de voto para o segundo turno apontavam nova vitória de Mujica antes do sufrágio deste domingo, com cerca de 65% dos votos.
Mesmo com a união dos partidos conservadores, o ex-guerrilheiro tupamaro deve agora receber votantes de grupos à sua direita, dizem especialistas locais, uma vez que muitos uruguaios sem partido político preferido gostariam de manter o estilo da atual gestão, aprovada por 60% da população, em vez de voltar aos tempos de crise econômica do ex-presidente e agora rival de Mujica, Luis Alberto Lacalle.
Decepção
Os uruguaios rejeitaram, no plebiscito realizado junto à votação para presidente, a anulação da Lei de Caducidade, que deixou impunes os crimes de Estado cometidos pela ditadura uruguaia, reconheceu a chefe da campanha pelo fim da lei.
Num primeiro momento, os dados apontados por pesquisadoras de boca-de-urna pareciam dar a vitória do "sim" ao fim da impunidade para as violações de direitos humanos cometidos por policiais e militares a serviço da ditadura (1973-1985).
Mas, em seguida, Luis Puig, porta-voz da Coordenadoria pela Nulidade da Lei de Caducidade admitiu o fracasso. Ele reconheceu que o resultado freia a tentativa der julgar policiais e militares acusados de tortura, mas assinalou que "a luta pela verdade e pela justiça não termina nem se menospreza" com a negativa ao fim da Lei de Impunidade. "O tema da memória e da justiça teve um grande apoio nos jovens uruguaios", disse Puig, também secretário de Direitos Humanos da principal central operária do Uruguai. Era preciso superar 50% dos votos emitidos para conseguir a nulidade da Lei de Caducidade, mas segundo as pesquisas manuseadas pela coordenadoria, não ultrapassaram 48%.
A Lei de Caducidade foi aprovada em 1986 no fim do regime cívico-militar (1973-1985) e já fora referendada em um primeiro plebiscito, em 1989. A anulação da Lei de Caducidade tinha se transformado em um motivo de disputa na campanha eleitoral, com acusações cruzadas de utilização eleitoreira de um assunto tão delicado.
Pesquisas também indicavam que o outro plebiscito realizado no domingo, para decidir se os uruguaios residentes em outros países podem votar pelo correio, também não teria sido aprovado.
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outubro 25, 2009
Sandino Acústico - "Ditadores, putas e doutores"
Posted by Sandino at 04:10 AM | Comments (1)
Sente São Paulo...
Manhã de sol, dia de frio, madrugada de gelo e amanhã incerto
Por Joelma do Couto*
Terça-feira, 2 de junho de 2009. São Paulo amanhece com céu azul, ar limpo, um lindo e gelado dia de outono. Pelas ruas da capital financeira do país pessoas caminham elegantes e bem vestidas, cachecóis, casacos, botas. Muitas paradas ao longo de elegantes lojas comentam “adoro o inverno, que estação elegante”.
Na região da Rua Vinte e Cinco de Março, carros da companhia de luz fazem reparos, gente indo e vindo com mãos cheias de sacolas, de repente, correria, lá vem o rapa. Camelôs que vendem suas mercadorias no chão ou em pequenas mesas juntam tudo e saem correndo na tentativa de preservar o ganho pão da família. Uma senhora de aproximadamente 50 anos, moradora da Pedreira zona sul da cidade, comenta “Vida de pobre é assim mesmo, quanto mais os ricos ficam ricos mais ódio eles tem dos pobres. mas eu tenho fé, acredito em Deus, vou continuar trabalhando assim mesmo. Quer comprar um carrinho de mim moça?”
A cada hora que se passa, o frio aumenta. Na Praça do Correio dezenas de pessoas encolhidas, sem botas, sem casacos, sem luvas, sem a elegância da estação. Sentadas, deitadas, sobre caixas de papelão ou embaixo de cabanas improvisadas com pedaços de lona ou papelão, tentam abrigar-se do frio. A cidade de São Paulo tem mais de 16 mil pessoas em situação de rua e, oito mil vagas em albergues. Metade não tem onde pernoitar. Esse número cresce a cada dia. As favelas estão sendo urbanizadas, onde têm 900 famílias o governo constrói 300 apartamentos, e o resto? O resto, recebe 3,5 8 mil reais de indenização pelo barraco e some, para a rua ou lá prós confins da cidade. A periferia se expande!!!
No meio disto tudo está Mara Sobral, ex menina de rua, mãe de 12 filhos, nove adotados, caminhando com olhos tristes, desanimada, cansada, revoltada. Mara se diz cansada se ser violentada “Quando escapamos da violência da família caímos nas ruas e daí por diante passamos a ser violentadas diariamente pelo sistema”. A central de catadores onde Mara trabalhou por alguns anos sofreu um incêndio criminoso em dezembro de 2008 e desde então Mara e seus companheiros lutam para tentar reabrir o local.
Parece simples,queimou,apagou-se o fogo,reformou,voltou-se a trabalhar. Não, não é assim tão simples. A partir do momento em que a cooperativa foi incendiada os cooperados perderam a chance de continuar trabalhando. A cooperativa foi fechada, o que aconteceu ninguém sabe. Quem vai perder tempo investigando incêndio em cooperativa de catadores? A quem interessa?Afinal ali só trabalha o refugo da sociedade. O lixo humano produzido pelo capitalismo, os párias da modernidade, segundo afirma o sociólogo polonês Zygmunt Bauman em seu livro Vidas desperdiçadas.
Depois de muita repercussão, muita luta e muita promessa a cooperativa talvez fosse reabrir as portas provisoriamente em um pequeno galpão de 320m nos próximos dias. Mas, apareceu mais um problema, Wagner, conhecido como Sting, responsável pela coleta seletiva na cidade de São Paulo resolveu que, a cooperativa só terá os caminhões da Limpurb disponíveis para coleta do material doado pelos condomínios a central da Granja Julieta, quando os catadores quitarem a dívida de 18 mil reais com o INSS. A promessa de reabrir a cooperativa para que os catadores pudessem começar a trabalhar foi por água abaixo? E agora?Como é que eles vão arrumar oito mil reais para saudar esta dívida?Como vão saudar as dívidas pessoais que não são poucas?Como ficam essas vidas?
No final do dia o frio já era de fazer doer os ossos. Mara caminhava em direção ao terminal Bandeira para pegar um ônibus rumo à zona sul. Quando de repente viu um sorriso a sua frente. Era Sorriso, ex cooperado. Filho da rua, Sorriso perdeu a mãe nas ruas, morta a pauladas. Ele, doente mental, ex albergado da região de Santo Amaro, teve a chance de ter um lar. Com o trabalho da cooperativa, Sorriso pagava o aluguel de seu cantinho, agora sem emprego Sorriso voltou às ruas. Ficaram longes os tempos em que ele podia comprar e pagar suas contas.Sorriso tem dificuldades,não se adapta a qualquer lugar,precisa de apoio,carinho.
Para ficar longe das lembranças Sorriso deixou Santo Amaro e foi dormir no berço esplendido das ruas da região central. Mara chora pede para que ele volte para Santo Amaro, para o albergue da Ceninha. Tem medo que ele morra de frio, ou que alguém o mate. Ele é uma criança grande.
Na cidade dos lucros, no coração financeiro do país, não há lugar para os menos favorecidos. A aqui não é a cidade dos sonhos onde todos podem trabalhar e crescer. Aqui se escolhe quem pode trabalhar, não basta querer. Aqui os sonhos se queimam, os corações são frios e o lixo deve desaparecer da frente dos olhos dos mais favorecidos. Não importa a que custo e muito menos se o lixo é o que ou quem. Que nesta madrugada gelada o Bento do Portão proteja a todos os Sorrisos jogados nas calçadas da paulicéia desvairada.
*Joelma do Couto é estudante de jornalismo.
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Sandino - "Grândola Vila Morena"
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Em terras de Simón Bolívar
Por Michelle Amaral da Silva*
Escrevo diretamente de Caracas, na Venezuela, onde tive a honra e o prazer de ministrar uma oficina de Literatura para um grupo de jovens profissionais da Vive-TV, emissora estatal que difunde e estimula as lutas e iniciativas comunitárias em todo o país. O clima por aqui é de enorme efervescência: há um processo de mudanças em marcha, liderado pela figura polêmica e singular de Hugo Chávez, ao qual ninguém consegue ficar indiferente, o que estimula a crescente politização da vida pública nacional.
O ambicioso projeto da “Revolução Socialista Bolivariana” segue seu curso, em meio a vários desafios e obstáculos cuja superação, por vezes, nos parece quase impossível. Apesar da Constituinte, a estrutura do Estado ainda é incapaz de impulsionar todas as medidas reclamadas pela população. Além disso, o poder dos monopólios e das corporações transnacionais permanece praticamente incólume, fato que soa como um paradoxo dentro de um regime que se pretende socialista. Nacionalizaram-se algumas empresas (entre elas, siderúrgicas, indústrias têxteis e até mesmo o afamado Hilton Hotel, que agora se chama Alba), é bem verdade, mas o capital privado continua a faturar milhões na terra de Simón Bolívar.
A trágica herança de décadas de submissão da burguesia aos interesses do imperialismo ianque está bem visível na própria fisionomia da metrópole. Quase todas as encostas de Caracas (situada em uma região montanhosa a poucos quilômetros do litoral) foram ocupadas por condomínios luxuosos, tal como ocorre na zona sul do Rio de Janeiro, ou por moradias populares. Estas configuram uma ampla malha de comunidades a que os habitantes locais chamam de barrios. Elas me evocam de imediato o cenário das favelas cariocas, mas com uma diferença básica: em vez do poder absoluto das ‘milícias’ ou dos bandos de traficantes que há nos morros cariocas, surgem nesses espaços os Conselhos Comunitários, uma forma ainda incipiente, porém efetiva, de inserir o povo venezuelano na revolução proposta por Chávez.
No asfalto, as seqüelas do capitalismo periférico também se notam. Com a gasolina a preço de banana, o número de carros não pára de crescer. O tráfego é caótico, os motoristas ignoram todas as regras de trânsito e os congestionamentos são insuportáveis até mesmo para um paulistano habituado à paranóia das marginais do Tietê. O novo alcaide da velha Caracas, Jorge Rodríguez (PSUV), promete investimentos no transporte coletivo e de massa (já existem seis linhas de metrô em funcionamento), mas esta batalha deverá ser bem mais árdua do que a própria Revolução Bolivariana... Isso sem falar na febre dos celulares (há casais que almoçam sem conversar entre si, presos ao telefone durante a refeição), um índice eloqüente da sedução que a sociedade de consumo pós-moderna exerce sobre a classe média.
No plano político, a efervescência não tem fim. A julgar pela quantidade de textos e análises que circulam pela internet, as eleições do último dia 23 são um exemplo cabal do fenômeno. Há quem jure que o chavismo agoniza, há quem se empolgue com os números do novo partido socialista (PSUV). Como fugaz observador do pleito, devo dizer que “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”... O PSUV logrou recuperar-se da derrota sofrida há um ano, quando a oposição venceu por estreita margem o referendo sobre as emendas constitucionais e barrou as alterações postuladas por Chávez. Com quase 1,2 milhão de votos a mais que os adversários, o partido elegeu 17 dos 22 governadores estaduais, mas amargou sérios reveses em algumas das províncias mais ricas do território, sobretudo em Zulia (região petrolífera), Táchira e Miranda. Mais além dos números, porém, o fato incontestável na Venezuela é a crescente inserção dos movimentos sociais na vida nacional, decerto o maior trunfo do projeto bolivariano em curso.
É evidente que uma parte da oposição já não cultiva o mesmo tom bélico e agressivo que levou ao golpe de 2003. Até na própria mídia, há sutis matizes dignos de atenção: enquanto a RCTV e a rede Globovisión seguem atacando ostensivamente o governo Chávez, a Venevisión resolveu adotar uma posição de “independência” ou “neutralidade”, evitando claramente provocações ou calúnias contra o regime. Chávez, por sua vez, insiste claramente na tática do confronto, não concedendo um minuto de trégua aos opositores. Alguns analistas julgam equivocada a tática do comandante, mas quadros do PSUV avaliam que, sem a polarização, não seria possível acelerar o processo de consolidação do poder popular e de incremento das forças bolivarianas. Ninguém pode prever o rumo das coisas por aqui, mas não há dúvida de que Chávez tem prestado uma ajuda decisiva às lutas dos povos latino-americanos.
*Luiz Ricardo Leitão é escritor e professor adjunto da UERJ. Doutor em Literatura Latino-americana pela Universidad de La Habana, é autor de Lima Barreto: o rebelde imprescindível (Editora Expressão Popular).
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Ditadores ditam dores...
Pela punição dos crimes da ditadura
Por Mário Maestri*
Em 22 de agosto de 1979, há trinta anos, era aprovada a Lei nº 6.683 que anistiou parcialmente os opositores à ditadura militar e concedeu perdão irrestrito aos crimes do regime militar. Além da luta em prol da proteção dos presos, condenados e perseguidos pelo regime militar, o movimento pela anistia esforçava-se para retroceder, a partir de reivindicação democrática, a ordem ditatorial imposta, em março de 1964, com o apoio do imperialismo; das classes proprietárias agrárias, industriais, comerciais e financeiras; da alta hierarquia da Igreja e da Justiça; da quase totalidade da grande mídia etc.
O movimento pela anistia constituiu importante momento da luta contra a ditadura que conquistara, nos anos 1970, após um qüinquênio de resistência popular, indiscutível hegemonia sobre o país, nascida sobretudo da repressão e do apoio das classes médias, seduzidas pelo chamado Milagre Econômico [1969-1973], obtido pelo confisco de conquistas sociais; superexploração do mundo do trabalho; empréstimos milionários; reorientação da produção do mercado interno para a exportação etc.
A derrota anterior dos trabalhadores e da população, em 1964 e em inícios dos anos 1970, explica o sentido restrito e contraditório da luta pela anistia, ou seja, da reivindicação, aos criminosos institucionalizados, da extinção da punibilidade de atos profundamente legais e necessários, já que realizados no combate da ilegalidade e da exceção.
Reconhecimento Social e Histórico
Na França, na Itália, na Iugoslávia etc, não houve anistia dos combatentes antifascistas, igualmente denominados de "terroristas", de "agitadores", de "comunistas" etc, sendo apenas reconhecido o sentido histórico e social de suas ações. Reconhecimento não geral devido à não extirpação social das forças que apoiaram a exceção. Ao contrário, os crimes do fascismo foram punidos, ainda que, não raro, tenham sido anistiados com liberalidade que a sociedade pagaria duramente.
No desenvolvimento de ação que buscava expandir-se na sociedade, o movimento pela anistia superava objetivamente a contradição que ensejava pedir o reconhecimento de fatos socialmente necessários aos criminosos de Estado. Efetivamente, ao negar o caráter de crime aos atos da resistência, legitimava-os e sacralizava-os, em forma mais ou menos explícita e plena, nos limites possíveis da época, ou seja, em plena vigência da ditadura.
A mobilização pela anistia constituía parte da reconstituição da oposição de massas ao regime ditatorial. Participava com destaque da difícil luta pela reconquista da hegemonia social, conquistada pela ditadura militar e pelo grande capital através da mídia, das escolas, da Igreja, etc; da pedagogia policial e militar do medo; do apoio de amplos segmentos médios, conquistados pela bonança econômica relativa e restritiva etc.
Derrota Política
As forças oposicionistas à ditadura militar e à ordem só foram derrotadas pela ação repressiva policial-militar devido ao vazio social que conheceram, em inícios dos anos 1970, com a repressão sofrida pelas classes populares e, sobretudo, com a adesão das classes médias que, após participarem da oposição, desde 1966, apoiaram, em grande parte, ativa ou passivamente a ditadura, quando do Milagre Econômico. Contribuiu a esse processo a incapacidade das vanguardas políticas de construir programa de resistência inteligível à população e aos trabalhadores.
A luta pela anistia não foi maná dos céus. Ela nasceu do aproveitamento, por destemidos velhos e novos lutadores, das rachaduras abertas, com a crise mundial do capital, em meados dos anos 70, no consenso imposto pela ordem militar. O retrocesso do mercado mundial e a expansão dos juros internacionais corroeram o padrão de crescimento econômico capitalista impulsionado a partir de 1964.
O Fim do Milagre
A inflação, o confisco salarial, os cortes nos investimentos impostos pelos governos militares para o pagamento da dívida externa e interna minavam o apoio das classes médias e criava condições para a retomada da luta dos trabalhadores fortalecidos pela expansão econômica. A alta oficialidade das forças armadas sabia que as baionetas "servem para tudo, menos para sentar-se sobre elas".
Assombrava as classes dominantes a possibilidade de redemocratização não controlada que permitisse a reconquista-ampliação dos direitos sociais confiscados; um novo equilíbrio da correlação de forças em favor do mundo do trabalho; a punição dos crimes cometidos contra os opositores e contra a população brasileira.
O movimento pela anistia era - como segue sendo - parte da luta permanente entre a democracia e o autoritarismo, entre o mundo do trabalho e o capital. Embate que se solucionara, em 1964, em favor dos grandes proprietários que se serviram da ordem militar para exacerbar sua dominação. Derrota dos trabalhadores e da cidadania com consequências históricas para o Brasil e o mundo que se mantém, substancialmente, ainda hoje.
Para que tudo seguisse igual
Para o governo militar e o mundo do capital, no fim da ditadura, havia que mudar muito, para que tudo continuasse como antes. A descompressão política devia permitir metamorfose institucional e dos protagonistas excelentes da ditadura que mantivesse, sob nova realidade, a dominação social tradicional, ampliada durante os anos de exceção. Havia que proteger de qualquer punição os criminosos das forças armadas e policiais, instituições estratégicas na defesa dos privilégios no país. A anistia devia apresentar-se como pacificação nacional, como perdão magnânimo dos crimes e excessos praticados contra as instituições, por militantes favoráveis à implantação do socialismo, filosofia contra o espírito das instituições brasileiras,
protegidas por militares e policiais. Para quebrar a frente da mobilização pela anistia, diferenciou-se entre crimes de opinião e de sangue. Ditava a lei da Anistia: "Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, seqüestro e atentado pessoal." Anatematizava-se o direito de lutar pelas armas contra aqueles que se impuseram e se mantiveram na ilegalidade pela força das armas. No momento em que se concedia anistia muito parcial aos ofendidos pela ditadura, sem esclarecimento dos assassinatos, das torturas e dos desaparecimentos, a lei ditatorial de 1979 anistiava, total e plenamente, todos militares e policiais, sem individualização, das ações criminosas, consideradas positivas e justificadas a partir do princípio implícito do caráter excepcional de "guerra justa" em defesa das instituições.
Sem Valor Legal e Moral
A correlação social de força entre o capital e o trabalho, entre a democracia e a exceção, determinada pelas derrotas anteriores, de 1964 e 1970-71, ensejou que a mobilização pela anistia ampla, geral e irrestrita dos perseguidos não reivindicasse a punição proporcional dos civis e militares responsáveis por crimes de Estado [torturas, assassinatos, desaparecimentos, etc] e pela própria ordem ditatorial. Ou seja, o castigo daqueles que agrediram em forma continuada os direitos da cidadania.
A ditadura militar conseguiu controlar o ritmo e determinar o conteúdo do processo de anistia. Organizou a libertação e reingresso gradativo dos presos políticos e refugiados, para não ensejar mobilizações de massa e reflexão geral sobre a repressão. Desde fins de 1977, permitiu a volta ao Brasil de refugiados que não tinham sido julgados e condenados. Dois anos mais tarde, concedeu anistia parcial e excludente. Mitigada, com picos de violência, a repressão seguiu até o fim da ditadura, em 1985. Foram muitos os fatores que contribuíram para que a mobilização pela anistia não se contrapusesse substancialmente ao cronograma ditatorial e das forças políticas tradicionais, na situação ou na oposição consentida. Entre eles, destacam-se a morte de lideranças como Carlos Lamarca [Rio de Janeiro, 23 de outubro de 1937 - Pintada, sertão baiano, 17 de setembro de 1971] e Carlos Marighella [Salvador, 5 de dezembro de 1911 - São Paulo, 4 de novembro de 1969]; a dissolução das organizações armadas, derrotadas orgânica e politicamente; a fragilidade das organizações políticas e sociais do mundo do trabalho.
O que é isso, companheiro?
Foi igualmente importantes nesse processo a aceitação da distensão controlada por lideranças populistas, como Leonel Brizola, que se esforçou para que seu retorno não motivasse grandes manifestações populares e a enorme midiatização do rompimento com os ideais socialistas e revolucionários anteriores de anistiados, em um verdadeiro desbunde voluntário, a seguir regiamente retribuído. Nesse último caso, destaca-se certamente Fernando Gabeira, através de seu best-seller O que é isto companheiro?.
A fragilidade objetiva do movimento social e operário, aprofundada pela vitória da contra-revolução neoliberal de fins dos anos 1980, ensejou que sequer as reivindicações limitadas do movimento pela anistia, de meados dos anos 1970, fossem cumpridas totalmente pela Constituição de 1899 ou pelos governos eleitos, a seguir, indireta e diretamente. O que não é de se estranhar, no que diz respeito aos governos de José Sarney [1985- 1990], ex-dirigente da ditadura reciclado à oposição tradicional, ou de Fernando Collor de Mello [1990 até 1992] , factóide dos grandes proprietários do Brasil.
Tem certamente significado diverso a guarda canina, pelas administrações Lula da Silva [2003-2009] até sob o manto do segredo de Estado, da informação sobre os crimes mais sujos e indignos praticados por membros da forças militares e policiais. Iniciativa que conta com o apoio de militantes e partidos que sofreram as violências ditatoriais, atualmente no governo. Uma ação que agride a memória daqueles opositores e o direito inviolável de seus parentes e da cidadania de conhecer suas sortes e o destino de seus restos mortais.
Movimento Necessário
Até hoje, jamais foi possível construir uma ampla frente política, sequer com os diretamente atingidos pelos atos ditatoriais, que lutasse para a generalização entre a população da consciência sobre a verdadeira essência da ditadura: ordem militar que impulsionou a reorganização das instituições do país em favor do grande capital. Ou seja, regime que empreendeu ataque direto e permanente aos diretos democráticos, sociais e econômicos da população. Agressão organizada por Estado, por instituições e por gestores que apenas se metamorfosearam, em 1985, mantendo a essência profunda do que foi realizado nas duas décadas de ditadura. A desorganização e a atomização da militância antiditatorial, quando não sua cooptação parcial para com a colaboração com o Estado e com os interesses dominantes nos anos de exceção, facilitaram que a luta pela punição plena dos crimes cometidos contra os resistentes e contra a população e os trabalhadores se restringisse sobretudo à concessão de indenizações individuais. Reparação justa, quando procedente, mas de dimensão e importância mínima, diante da necessidade histórica de punição e reparação dos direitos ofendidos.
A forte luta popular contra o esquecimento e pela punição geral dos responsáveis pela ordem ditatorial na Argentina levou à prisão, ao julgamento e à condenação, ainda que parciais e limitados, de altos oficiais militares, devido à anulação de anistias como "Obediência devida", "Ponto Final" e dos indultos concedidos por Carlos Menem (1989 - 1999). A mesma responsabilização judicial dos criminosos da ditadura se procede, atualmente, também em forma parcial, no Peru e no Chile.
Sem Valor Legal e Moral
Os indultos anulados na Argentina em tudo são semelhantes ao concedido, em 1979, aos crimes de Estado, no Brasil, pelos próprios criminosos, ainda plenamente vigente. Aqueles e outros sucessos facilitaram a retomada, nos últimos anos, da reivindicação da punição dos crimes congêneres praticados no nosso país, processo no qual desempenhou e desempenha meritório papel setores da Justiça brasileira e os comitês de familiares de desaparecidos, ainda em ação.
Sob o permanente ataque da grande mídia e a ação de importantes forças políticas governamentais e conservadoras, o movimento pelo castigo dos criminosos da ditadura não consegue, porém, assumir a envergadura necessária, imprescindível à suspensão da anistia ilegal aos criminosos e à punição dos crimes de Estado. Punição que constitui sanção política, ideológica e histórica e exemplo didático e preventivo para ações idênticas no futuro. Impõe-se a materialização de movimento que exija o esclarecimento imediato e total da sorte dos assassinados e desaparecidos pela ditadura e a punição exemplar dos responsáveis diretos e indiretos, quando ainda vivos. Responsáveis que, em geral, não apenas continuaram suas carreiras civis, policiais e militares, como foram privilegiados pelos crimes cometidos. Podemos ainda encontrá-los nas forças armadas, nas polícias militares e civis, nas câmaras municipais, nos parlamento, no senado, nas universidades.
Que sua memória e luta seja honrada!
É necessário construir movimento que exija o resgate e a legitimação da memória da luta e dos opositores do passado. Que exija a sanção proporcional, pública e legal, dos criminosos civis e militares da ditadura, e de sua memória e obra, retirando-lhes, assim, o direito de reconhecimento, ao lado dos seus pares eleitos democraticamente, como ex-governadores, ex-prefeitos, ex-parlamentares, etc. Que determine, no mínimo, a anulação dos eventuais privilégios advindos do desrespeito dos direitos fundamentais da população brasileira.
Movimento que impugne legalmente a celebração dos criminosos políticos e civis através da denominação pública ou particular com seus nomes de pontes, de avenidas, de ruas, de colégios, etc. A denominação de uma importante avenida de Porto Alegre como Castelo Branco é ofensa direta e permanente aos resistentes da ditadura, às suas memórias, às suas famílias, a toda democrata e homem de bem, seja brasileiro ou não. E o que dizer de jovens frequentando escolas públicas batizadas com os nomes dos ditadores, comuns no RS e através do Brasil! A punição e a sanção dos criminosos da ditadura e a restauração plena da memória da resistência constituem exigências voltadas para o futuro. São partes fundamentais do programa de construção de sociedade onde, finalmente, o homem seja amigo do
homem. Ideal maior pelo qual tombaram, nas ruas, nos sertões, nas florestas e nas masmorras, nos vinte anos de ditadura militar, com os olhos cravados no horizonte, alguns dos melhores e mais dignos brasileiros e brasileiras. Que sua memória e luta seja honrada!
* Mário Maestri, 61, é historiador e professor do Curso e do Programa de Pós-Graduação em História. Foi preso e refugiado político durante a ditadura militar. E-mail: maestri@via-rs.net
* Conferência proferida no Seminário Lei da Anistia: 30 Anos, Plenário da Câmara Municipal de Vereadores, Passo Fundo, 2 de outubro de 2009.
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Sandino - "Edmundo não joga mais aqui"
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Purgatório da beleza e do caos
Tráfico, favelas e violência
Por Luis Carlos Lopes
A política de segurança adotada por sucessivos governos da cidade e do Estado comete equívocos e dialoga com público, através das mídias, de modo ainda mais equivocado. Ao não aceitar ajuda federal, o atual governador situou o problema na esfera local, dizendo que, por ora, tinha como resolvê-lo. As questões de fundo que são as verdadeiras causas de tudo isto foram, mais uma vez, para debaixo do tapete da política e da história.
Os últimos incidentes referentes à luta entre policiais-militares e o tráfico, ocorridos na cidade do Rio de Janeiro ganharam espaço nas grandes mídias do Brasil e de inúmeros países do chamado Primeiro Mundo. Como se sabe, o Brasil não está em guerra interna ou externa. Por aqui, não há motivo aparente, no atual contexto, para espetáculos de ações diretas, registrados e reproduzidos fartamente pelas mídias.
É estranho que um helicóptero tripulado por soldados da PM tenha sido abatido em pleno vôo, com duas mortes e dois feridos. A tragédia não foi maior porque foi possível o pouso forçado da aeronave em chamas, em campo aberto. As imagens de sua completa destruição física parecem cenas da Guerra do Iraque, da Colômbia ou do Afeganistão. Mas, não são. Tudo ocorreu em um outrora pacato bairro da Zona Norte – Vila Isabel. Este é ocupado por parcelas das classes médias da cidade, que são vizinhos de muitas comunidades faveladas e foi um dos berços do samba moderno brasileiro.
Jamais isto tinha ocorrido antes. Parece, que existiram tentativas, mas esta foi a primeira vez que se conseguiu concretizar a façanha. Acendeu-se uma lâmpada de alerta. O Rio de Janeiro é uma cidade conflagrada. Talvez, se isto tivesse acontecido antes de sua escolha para sediar as Olimpíadas de 2016, o resultado tivesse sido outro ou a vitória bem mais difícil.
A política de segurança adotada por sucessivos governos da cidade e do Estado comete equívocos e dialoga com público, através das mídias, de modo ainda mais equivocado. Ao não aceitar ajuda federal, o atual governador situou o problema na esfera local, dizendo que, por ora, tinha como resolvê-lo. As questões de fundo que são as verdadeiras causas de tudo isto foram, mais uma vez, para debaixo do tapete da política e da história.
Os problemas sócio-urbanos do Rio de Janeiro são muito graves e se arrastam desde o fim da escravidão, ou mesmo de antes. Tem-se uma cidade dividida entre uma parcela mais rica que mora no ‘asfalto’ e cerca de 600 ou mais comunidades faveladas construídas, em sua maioria, em morros, muitos deles de difícil acesso. Estas comunidades são, de há muito, usadas pelo crime como local de recrutamento e homiziamento. Obviamente, que nada disto é exclusivo à esta cidade, mas nela, esta situação ganha características especiais.
Mais do que um, em cada três cariocas, mora em uma das favelas da cidade. Diferentemente de outras, a geografia do Rio levou e continua levando os excluídos e os imigrantes para os morros e algumas regiões planas de baixo interesse imobiliário. Estas são, por vezes, distantes e periféricas. A origem destas comunidades remonta à época da escravidão. Nesta, negros fugidos – quilombolas – ou abandonados pelos seus senhores usavam os morros para morar e muitas vezes plantar e criar animais.
Quando do fim da Guerra de Canudos (1897), o Morro da Favela, nas proximidades da Central do Brasil, abrigou muitos retirantes do conflito, que vieram para a velha capital. Daí, a origem e a popularização do nome. No local, ainda existe uma impressionante favela, que parece debruçada sobre uma pedreira – o Morro da Providência – que é um dos locais de conflito na cidade. Sua antiguidade e pobreza testemunham anos e anos de descaso público.
Estas comunidades cresceram todas as vezes que houve ciclos de prosperidade no país. Parece paradoxal, mas o que ocorria e ainda ocorre é que imigrantes, vindos para trabalhar na construção civil e outras atividades urbanas, não tinham como morar nos prédios que levantavam e nos bairros onde trabalhavam. A opção era a de construir barracos, se possível, no morro mais próximo de onde labutavam.
Hoje, quase não existem mais barracos. A madeira ficou cara. O tijolo e o cimento são abundantes e relativamente mais baratos do que no passado. As habitações são, quase sempre, construídas em tijolos. Como nem sempre há dinheiro para o reboco externo, muitas favelas, vistas de longe, parecem jogos infantis avermelhados e amontoados. A alvenaria externa é mais facilmente encontrável nas favelas mais antigas e nas mais “ricas”, onde se concentram trabalhadores empregados com carteira assinada ou biscateiros bem-sucedidos. É lógico, que numa mesma favela é possível encontrar as duas situações, bem como se podem ver ainda barracos, agora, construídos com resto do lixo urbano.
O mundo favelado é altamente complexo e não cabe neste pequeno artigo. Nele existe uma estrutura social com imensas diferenças internas. A maioria dos seus habitantes são trabalhadores ou desempregados. Um pequeno percentual dedica-se às atividades criminosas. O preconceito do “asfalto” é antigo, até porque grande parte dos seus moradores e negra, quase negra, de origem nordestina, mineira e vindos de outros bolsões da miséria brasileira. Para as classes médias mais reacionárias, favela é lugar de marginal, de gente que não presta. Esta mesma gente não tem qualquer cerimônia em explorar o trabalho dos que lá vivem.
Entre os governos de Carlos Lacerda e de Chagas Freitas prevaleceu a idéia de que a solução para a questão favelada era a remoção para conjuntos habitacionais construídos pelo governo na periferia do Rio de Janeiro. Pouco a pouco, a proposta de remover perdeu terreno pela a da urbanizar. Aliás, o atual prefeito levantou a mesma questão da remoção, sem nada ainda ter feito de concreto nesta direção. Também, junto com o atual governador do Estado foi feita a polêmica proposta de algumas favelas serem ‘separadas’ por muros do resto da cidade. Os atuais PACs têm projetos engajados em algumas obras de urbanização básica dos mesmos locais.
Os casos de remoção conhecidos nada mudaram para os favelados, liberando terrenos valiosos para a especulação. Os mesmo problemas que existiam na origem foram remontados nos conjuntos habitacionais, rapidamente favelizados. Os projetos municipais urbanizadores, tal como o chamado Favela-Bairro, mudaram muito pouco a realidade destas comunidades. A questão central é que em nenhum destes projetos desenvolvidos ou propostos até hoje houve a preocupação com a distribuição de renda entre os habitantes. O problema do desemprego continuou a ser gravíssimo, afetando, com muita força, os jovens.
Existem milhares e milhares de jovens favelados sem emprego, escolas decentes, comida em casa, saneamento básico, tratamento médico necessário. Os que conseguem trabalho ganham mal e não raro não têm seus direitos respeitados. Neste quadro, fica fácil ao tráfico e a outras atividades criminosas fazer o recrutamento constante. A cada preso ou morto há uma fila de substitutos, de gente capaz e disposta a arriscar a vida para alguns momentos fugidios de glória e de ascensão. A política de matar, torturar e prender em massa nada muda. Ao contrário, cria heróis e mártires, estimulando novas adesões. Por isto, é difícil crer que se deseje, de fato, acabar com o problema.
De todas as favelas cariocas, em torno de dezoito, teriam bolsões mais nítidos do tráfico. O Rio não é Mendellin, na Colômbia. Por aqui, não existem cartéis e nem máfias muito organizadas. A droga vendida no Rio, como se sabe, ou vem do Nordeste (maconha), do Paraguai, da Bolívia, da Colômbia e do Peru. Logo, ela atravessa, certamente por terra, alguns milhares de quilômetros, até está disponível em um ponto de revenda local. Como passa desapercebida, é um ‘mistério’ a resolver. Parte destes carregamentos sai do Rio para a Europa e EUA. Logo, a cidade é também um entreposto.
Em parte das favelas, onde não existe tráfico ou ele foi banido, funcionam as famosas milícias – nova versão do crime social local, com a clara participação de pessoas de algum modo ligadas às forças repressivas. Quase em todas comunidades existem pequenos grupos de pessoas que se dedicam a vários tipos de atividades criminosas. É difícil que o número de criminosos em uma favela seja superior a um por cento de seus moradores. O número de desempregados ou de subempregados pode chegar a mais da metade do conjunto da comunidade.
Os grupos de traficantes mais comuns são pequenos bandos de, em torno, vinte pessoas, desarticulados e por vezes inimigos entre si que adotam siglas de organizações que só existem atualmente no universo nebuloso das mídias, sem muito respaldo no real. No Rio, felizmente, não há nada como o PCC paulista. É verdade, que uns atiram nos outros e/ou tentam tomar o território dos rivais. O capo, normalmente é alguém mais velho, com várias passagens policiais e com ligações com o crime mais ou menos organizado existente dentro dos presídios. Os soldados do tráfico são jovens, por vezes bem jovens, que têm uma esperança de vida média de dois anos nesta atividade para lá de perigosa.
As armas de guerra que conseguem por efeito da corrupção e do dinheiro acumulado pela venda de drogas, são as mais usadas nas lutas entre as facções. Muitas delas foram produzidas nos EUA, na Inglaterra, em Israel e em países do Leste europeu. Outras, sobretudo munições, se originam também em aquisições feitas no contrabando e as que são oficialmente compradas pelas forças armadas e policiais brasileiras. Sabe-se, que com dinheiro e contatos, não é difícil comprar um fuzil-metralhadora moderno, bem como a munição necessária. O problema está em se imaginar como circulam estes artefatos no mundo contemporâneo. Certamente, há muitos interesses em jogo.
O episódio do helicóptero chama a atenção, porque jamais algo similar havia acontecido. Normalmente, os traficantes atiram na polícia somente quando estão encurralados, que é o que deve ter acontecido. Eles preferem guardar suas balas para seus iguais e para garantir seus reinados nas comunidades onde atuam. Eles evitam um confronto maior com as polícias, porque sabem que serão, no passo seguinte, perseguidos até o destino final.
A atual política de ocupações policiais permanentes de algumas favelas, três até o momento, funciona bem nos locais tomados pela polícia. Mas, tem como efeito colateral estimular os bandos a buscar a quem invadir outras criando guerras, como a que se viu no Morro dos Macacos em Vila Isabel.
Trata-se de uma situação complexa que precisa ser analisada a fundo e que sejam tomadas medidas que tenham efetivo poder de desmontar as bombas relógio sociais da atual fase da modernidade. Uma política de emprego, de divisão de renda, de escolarização real e não formal para todos, de respeito aos direitos humanos e, sobretudo, o exemplo de honestidade pública do poder poderiam fazer a diferença. A exclusão semeia a violência e o caos, levando à uma realidade sem saída.
Fonte: Agencia Carta Maior
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Sandino Acústico (Extra) - "História do Fogo"
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Sandino Acústico (Extra) - "Bolero"
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outubro 24, 2009
Clássicos do Cinema
PELLE, O CONQUISTADOR
(Pelle Erobreren, Dinamarca/Suécia, 1988)
Final do Século XIX. Um navio cheio de imigrantes suecos chega à ilha dinamarquesa de Bornholm. Entre os imigrantes estão Pelle (Pelle Hvenegaard) e seu pai Lasse (Max von Sydow), que dependem um do outro par sobreviver. Lasse, um velho viúvo com poucas chances de conseguir um bom emprego, em seu novo lar, uma fazenda na Dinamarca é forçado a trabalhar sob condições de camponeses, patrões e mulheres infelizes. Enquanto o jovem Pelle aprende a falar o dinamarquês e assiste as terríveis humilhações que sofre seu pobre pai, começa a perceber sua necessidade em ser independente. Ele precisa crescer mesmo antes de atingir a puberdade para não enfrentar o mesmo triste destino de sue pai. Mas, nenhum deles quer desistir de seu sonhos, e lutam para encontrar uma vida melhor do que aquela que deixaram na Suécia.
O filme consta da lista do The New York Times (EUA) dos 100 melhores filmes de todos os tempos. Foi o segundo filme dinamarquês a receber o Oscar de melhor filme estrangeiro (em 1988); o anterior tinha sido A festa de Babette, um ano antes.
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FHC + THC = D2
A liberação da maconha
Por Jarbas Reis
Seja no aperfeiçoamento das leis; seja no modo de viver; ao longo de sua sua trajetória a sociedade sempre esteve em continua evolução. E não seria diferente com o uso da maconha. Contudo, alguns princípios como à liberdade de escolha individual e o uso de substâncias químicas que causam hábitos devem ser especialmente regulamentadas, ou do contrário, teríamos problemas onde haveria solução.
Muitas autoridades rejeitam a descriminação da maconha por pensarem que poderiam contribuir com a violência, mas esquecem que a bebida e o cigarro são drogas liberadas e nem por causares maiores danos que a maconha, como apontam pesquisas cientificas, são proibidas e deixam de estar ao alcance de todos. O que configura essa possível legalização está ligado às normas que as regulam, sendo um delas, para o álcool, a famosa “lei seca” que entrou em vigor a poucos meses mas que já surte um ótimo efeito com a redução de acidentes de trânsito.
Manter um controle sobre os locais de consumo, venda, faixa etária para compradores etc, seria alguns dos caminhos para a discriminação da maconha. Assim acontece com as bebida alcoólicas vendidas em qualquer mercadinho enquanto para quem for dirigir é expressamente limitada. Do mesmo jeito também é com o cigarro o qual era totalmente liberado, mas hoje já sofre algumas restrições em hospitais, restaurantes, ônibus.
Deixar de garantir à escolha individual é ferir uma das maiores conquistas de qualquer sociedade que se diz democrática: a liberdade. É evidente que os vários usuários da droga têm seus direitos e assim como quem está sujeito às legislação poderiam usufruir de suas vontades dentro das regras acordadas.
É bem visto que na pior das hipóteses, o que poderia acontecer com a liberação da maconha seria um prejuízo aos traficantes. Esses perderiam seus clientes e conseqüentemente o poder através da droga. Logo se encontrariam enfraquecidos e o Estado já teria mais facilidades para controlá-los. Cabe agora a sociedade debater o assunto e dentro de um consenso estabelecer quais os melhores meios para a liberação da “erva”, tão solicitada por muitos, e não somente agir com prepotência ou ignorância.
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Desarmamento
Quatro anos após o referendo
Por Lindolfo Alexandre de Souza* (original ADITAL)
O noticiário dos últimos dias está repleto de assuntos relacionados à violência. Entre as notícias publicadas, umas delas refere-se à tragédia que envolveu a família do ex-governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, na cidade de Sorocaba. Após uma discussão familiar com o filho de 20 anos, um irmão do ex-governador tirou a vida do rapaz e, em seguida, diante da esposa, cometeu suicídio com a mesma arma de fogo. Além deste acidente familiar, também foram destaques nos meios de comunicação as mortes de policiais, traficantes e moradores nos conflitos ocorridos no Rio de Janeiro.
Ao ler essas notícias, várias idéias me vieram à cabeça. Relutei em colocá-las no papel, motivado por um sentimento de respeito à dor das famílias enlutadas. Tanto na tragédia de Sorocaba quanto no Rio de Janeiro, não foram apenas números nem estatísticas que se perderam, mas vidas humanas. E respeitar a dor do outro é sempre um gesto que nos humaniza.
Mas como a dor é inevitável à experiência humana, é sinal de sabedoria quando somos capazes de aprender com ela. E estes fatos, como exemplos das tristes coincidências que a história é capaz de reservar, acontecem num momento bastante provocador. Eles surgem às portas de 23 de outubro, data em que, em 2005, todo o Brasil foi às urnas para participar do referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições.
Como sabemos, o resultado final do referendo foi a vitória do "Não". Isso significou que, com o aval de 59.109.265 pessoas, o que correspondeu a 63,94% da quantidade de votantes, o Brasil optou pela continuidade da comercialização de armas de fogo e munições. O "Sim", que previa a proibição da comercialização, obteve apenas 36,06%, com 33.333.045 votos.
Resultado legítimo e democrático, sem dúvida. Entretanto, passados quatro anos, é possível questionar a eficácia da opção realizada naquele momento pela sociedade brasileira.
O episódio de Sorocaba ganha visibilidade em função de ter acontecido na família de uma pessoa pública. Mas, infelizmente, não é um fato isolado. Basta olhar com atenção as constantes notícias publicadas sobre desavenças familiares que acabam em tragédias, principalmente em situações em que os envolvidos estão sob o efeito de álcool ou drogas. Quanto à situação do Rio de Janeiro, ainda que seja de proporções bem mais complicadas, sem dúvida a facilidade ao acesso às armas de fogo é um elemento que potencializa as possibilidades de violência.
Na época do referendo, os defensores do "Sim" tentaram levar à sociedade a reflexão de que a posse de armas de fogo pelo cidadão comum não é garantia, em nenhum momento, de mais segurança. Como uma das organizações presentes na Campanha pelo Desarmamento, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou uma nota significativa, intitulada "Diga Sim à Vida", em 15 de agosto de 2005. No texto os bispos católicos alertavam que "o porte e o uso indiscriminado de armas de fogo transformam, muitas vezes, conflitos banais em tragédias". Ainda de acordo com a nota da conferência episcopal, somente no ano de 2002 foram mortas 38.000 pessoas, uma média 104 por dia. Isso significa uma vida ceifada a cada 14 minutos por arma de fogo.
Evidentemente que a questão do desarmamento é apenas uma dimensão entre as muitas que permeiam os complicados debates a respeito da segurança pública. Especialistas divergem sobre a eficiência de tal proposta, enquanto números divergentes e contraditórios, de um lado e de outro, disputam a opinião pública.
Mas o desarmamento é, de fato, uma proposta levada a sério por mais de 33 milhões de brasileiros que, há quatro anos, votaram por um novo modelo de sociedade, motivados pela idéia de que desarmar as pessoas é um passo importante para a construção de um mundo menos violento. Que essas pessoas não se sintam derrotadas, mas vivam este 23 de outubro com um novo entusiasmo em busca de uma sociedade pautada por uma cultura da paz. Se o "Não" ao desarmamento triunfou em 2005, em nenhum momento é possível dizer que por este resultado, e passados quatro anos, a sociedade está mais segura.
*Jornalista, é professor da PUC-Campinas. Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP)
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outubro 23, 2009
Che 2 - A Guerrilha
Lições que ficam
Por Cloves Geraldo* (original Vermelho)
A sequência final da segunda parte do épico do diretor estadunidense Steven Soderbergh, “A Guerrilha”, sobre o revolucionário comunista Ernesto “Che” Guevara de la Serna (1928/1967) projeta a imagem de um sonho. Ele está no Gramma, barco símbolo da vitoriosa revolução cubana, iniciando a trajetória cujo final o espectador acabou de ver. É como se ele, o diretor, e seus roteiristas Peter Buchman e Benjamin A. van der Veen quisessem manter acesa a chama alimentada pela história de um dos mitos do Século 20. O horizonte, no mar do Caribe, continua aberto, embora se tenha passado cerca de oito anos desde que o movimento liderado por Fidel Castro chegou ao poder. E Che, neste período, não desistiu de construir outras vertentes de sua visão revolucionária. Este final aberto, então, descola o filme da melancolia criada pelos instantes finais de sua trajetória na Bolívia do final dos anos 60.
Desde março de 1965 quando deixou o Ministério da Indústria cubana Che Guevara esteve no Congo e na Venezuela. Alimentava-o a urgência da revolução popular no Terceiro Mundo, no contexto da Guerra Fria que opunha os EUA à União Soviética. Como diz em sua carta, lida por Fidel Castro, na abertura do filme, ele achava que se não desencadeasse outras revoluções naquele momento, “teria que esperar mais 50 anos”. Havia todo um contexto que o fazia pensar assim: guerras contra o colonialismo português na África e o imperialismo estadunidense no Vietnã e no Camboja e a resistência armada contra as ditaduras militares na América Latina, para ficarmos nestes três exemplos. Mas se impunha, principalmente, a simbologia da Revolução Cubana para os movimentos de libertação nacional, existentes nos países subdesenvolvidos. Sua frase: “Criar cem, mil vietnãs” para derrotar o imperialismo e o colonialismo, sintetiza seu pensamento.
Filme reforça posição do Che revolucionário
São referências que o espectador vai contextualizando enquanto rolam as cenas na tela. A história que se desenvolve diante dele tem múltiplos significados, dado que as partes que formam o mito Che Guevara são sempre menores do que todo. Nunca é demais lembrar que, nos últimos anos, muito de sua herança revolucionária foi esvaziada em nome de uma mitologia pop, que não se sustenta. E Soderbergh e seus roteiristas escaparam a esta armadilha ao dotar esta segunda parte de um andamento mais lento, quase didático. Ela está dividida em quatro “blocos-sequenciais” que o ajudam a ir em frente: montagem do exército revolucionário, alianças políticas, apoio financeiro e solidariedade no exterior. Em cada uma dessas sequências o Che que aparece é um líder entregue a sua experiência de estruturador de movimento revolucionário. Está menos impetuoso e mais voltado para criar o ambiente necessário ao desenvolvimento da luta, sem deter-se por demais em detalhes.
O espectador o vê rodeado dos militantes cubanos que o seguem, os camponeses recrutados em Nanchahuazo, onde o movimento se inicia, e as lideranças comunistas locais, com os quais se estabelecem profundas divergências. A começar pela concepção de luta revolucionária. Mário Monje, secretario-geral do Partido Comunista Boliviano, hesita em apoiá-lo por achar que as condições sociais eram insuficientes para levar as camadas populares à revolução e a luta armada, assim, não sairia vitoriosa. Sua resposta, centrada na experiência cubana, o faz responder que as mortalidades infantil e materna e a falta de assistência médica para os desfavorecidos criavam as condições sociais e históricas para impulsionar o movimento revolucionário. “(...) levantamento popular sem o apoio da luta armada não tem nenhuma possibilidade de tomar o poder” – sentencia, sem se deter em mais argumentações.
Resistências quase esvaziam movimento
Monje, que podia ser um aliado poderoso, se transforma desta forma num empecilho para a construção da resistência aos ataques das forças de segurança boliviana, que iriam se intensificar com a entrada em ação dos EUA. Num dado momento, ele se articula contra o movimento dizendo que ele é dirigido por um estrangeiro. “Vocês vão morrer heroicamente”, esbraveja com os militantes do partido que tinham aderido à liderança de Guevara. Portanto, uma base importante, a do movimento popular operário-camponês organizado, não poderia fortalecê-lo. E, além disso, algumas lideranças entendiam que o centro irradiador do movimento deveria ser Alto Beni, onde estavam os mineiros, e não Nanchahuazo, local previamente escolhido. Monje, porém, seguia orientação da União Soviética, não disposta a abrir outra frente de luta, para além do sudeste asiático e dos países africanos. Che teve, assim, de encontrar alternativas de apoio para levar adiante a estruturação do movimento de libertação boliviano.
Para levar adiante sua visão revolucionária de apoiar-se no campesinato, a partir de um centro irradiador (o foquismo), passa a recrutar os guerrilheiros entre os jovens da região. Há exemplo do que fizera em Sierra Maestra, ele os treina com extremo realismo. Numa de suas preleções prepara-os para o que é ser guerrilheiro, agente revolucionário, sem mostrar-se condescendente. Diz-lhes que terão de enfrentar o clima adverso, a fome e a morte em combate. Um pequeno núcleo guerrilheiro emerge nas montanhas bolivianas, enquanto ao redor, outras ações eram empreendidas, centrando-se nas alianças políticas, no apoio financeiro e nas ajudas do exterior. Para não dizer, que passa a se sustentar, como dizia Mao Tse Tung, em suas próprias pernas. Dado que lhe é feito um cerco mortal pelas forças militares bolivianas.
Mas, diferente da “Parte 1 – O Argentino”, quando dividia várias sequências com Fidel Castro e a ação se alternava entre um e outro, em “Che 2 - A Guerrilha”, ele é o centro das ações. É quem lidera o movimento numa região inóspita, cercado de todas as adversidades. A câmera de Soderbergh o acompanha pelas montanhas nubladas, deslocando-se pela mata fechada com dificuldade, abrigando-se em cavernas ou ficando ao relento. Em determinado momento, os contatos com o exterior são cortados, os ataques dos inimigos aumentam e, mesmo assim, ele leva a luta adiante, indo de povoado em povoado. São lugares quase desertos, que a narrativa pontua, detendo-se numa e noutra figura. Assemelham-se aos cenários de faroeste, remetendo em dado momento aos casebres de “Viva Zapata”, dirigido por Elia Kazan, nos anos 50, com Marlon Brando personificando o líder camponês mexicano. Estar neste ambiente, apenas confirma seus prognósticos de que faltava tudo ao povo, porém a estrutura social ali é ainda feudal. As condições de sobrevivência são mínimas.
Contexto dos anos 60 favorecia Guevara
Em 1959, o contexto da Guerra Fria era de competição tecnológica (corrida especial), divisão de áreas de influências (Leste Europeu) e militar (Pactos de Varsóvia e Otan) entre as superpotências. E, ainda que houvesse choques militares (Guerra da Coréia), os confrontos diretos eram evitados. Oito anos depois, o mundo estava em completa ebulição. Os movimentos de liberdades civis (afrodescendentes, mulheres, estudantes), a expansão das ditaduras militares no Terceiro Mundo, a crise dos mísseis em Cuba, o recrudescimento da Guerra do Vietnã e a emergência das lutas de libertação na África (Moçambique, Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde), tinham ampliado o campo de luta contra o imperialismo. Os Estados Unidos, então predominantes, estendiam seus tentáculos por todos os continentes para sustentar seu poder.
A presença de Che Guevara na Bolívia, como não poderia deixar de ser, era um complicador a mais para a preservação de sua área de influência. A reunião do presidente boliviano, René Barrientos Ortuno (1920/1969), com o representante dos EUA reflete esta preocupação. Um encontro que o filme encena em grande plano, distante dos interlocutores, em que se ouve apenas a voz de ambos. Há uma trama, flagra a câmera de Soderbergh, muitas vezes negada, de que o governo estadunidense estivesse por trás do combate a Che Guevara. Havia sempre a declaração de que apenas o Exército boliviano o tinha capturado e levado para La Higuera, no 340º dia, de sua presença naquele país. Indiferente às mentiras urdidas por décadas, o diretor e seus roteiristas encenam a evolução do envolvimento dos EUA. Diversos agentes em ação no Vietnã foram deslocados para as montanhas bolivianas. Ali montaram acampamento, treinaram soldados e assumiram o comando da frente de luta contra o Movimento de Libertação da Bolívia. Numa sequência forte para os padrões da época, o representante estadunidense orienta Barrientos sobre a tática a ser adotada. E este a executa.
Ação do filme está centrada em Che
Ao contrário da primeira parte – “O Argentino” -, em que Soderbergh pôde exercitar-se na direção de um épico, em “A Guerrilha” predomina o tom de documentário. A encenação segue passo a passo os “Diários da Guerrilha”, no qual se baseiam as duas partes. O Che romântico, destemido, de antes cede lugar ao comandante centrado, maduro. A câmera conserva-se distante dele, são raros os closes, os tons psicológicos. Ele está sempre dominado pelo cenário – a grandiosidade de montanha atesta a dificuldade de domá-la, saber seus detalhes, como indicaria Clausewitz (Carl von, 1780/1831). Deve-se conhecer o terreno, escreveu ele em “Da Guerra”. Quando o foca, ele está em meio ao tiroteio desencadeado pelas forças bolivianas e seus instrutores estadunidenses. Soderbergh quer mostrá-lo nos instantes finais de sua trajetória às novas gerações, sem se desviar de suas dificuldades operacionais, inclusive. É sua ação, enfim, que faz o filme andar.
Os demais personagens circulam ao seu redor. Apenas Tânia Bunke (Franka Potente), responsável pelos contatos com o exterior, entra na história. Um descuido a faz ser punida por Che Guevara – justo ela que tinha orientação de não mais regressar ao acampamento. Mas se regenera durante os combates com as tropas bolivianas. Ele, Guevara, termina por reforçar sua célebre frase de que: ”É preciso endurecer, sem perder a ternura jamais”, ao presenteá-la num momento agudo da luta em plena selva. Um belo gesto, num filme de poucas sequências de evasão, de deleite puro e simples. Soderbergh e seus roteiristas com este andamento, tornam o filme mais vívido, intenso. Retrata os 341 dias de Che na Bolívia, fazendo emergir o contexto histórico ditado pela Guerra Fria. Tira dele todo o heroísmo e o viés do revolucionário romântico da primeira parte – “A Guerrilha” é, assim, trágico.
Diretor o projeta para a história
Diversas imagens brotam na elipse que o projeta da cena de combate na selva para a casa de piso de terra em que visto no povoado de Higuera. Ali, recostado à parede, perna ferida, cabelos pelos ombros, barbado, ele conserva os olhos acesos. Tem um diálogo ríspido e um gesto violento com o coronel boliviano Zentero, que o aprisionou com a ajuda dos agentes dos EUA. Depois o diálogo inteligente e sensível com um soldado e outro agressivo com o capitão cubano-estadunidense Ramirez. Mantém a fibra e o equilíbrio. Dá para sentir que se projeta para a história. Não vacila, nem clama por complacência. No contexto histórico em que viveu e forjou seu mito, a avaliação que o espectador, ao sair do cinema, pode fazer é que os EUA foram derrotados no Vietnã, os portugueses perderam suas colônias na África, a União Soviética cedeu lugar à China, as ditaduras militares sucumbiram aos movimentos de resistência e Cuba permanece como exemplo de resistência ao imperialismo.
O que se pode dizer a favor de “A Guerrilha” é que o Steven Soderbergh, que trafega entre o espetáculo hollywoodiano (“Onze Homens e Um Segredo”), filmes de denúncia (“Traffic”) e de arte (“Sexo, Mentiras e Vídeotape”) e policial (“O Desinformante”, em cartaz) equilibrou-se entre o épico e o drama político sem perder o tom. Usou os recursos do grande espetáculo na 1º Parte e do documentário, como já mencionado, nesta 2ª Parte. Evitou os discursos, comuns neste tipo de filme, que, muitas vezes, não ajudam a ação andar e fica tedioso assistir a falação. Quando há diálogos em que a política e a ideologia são o centro, os personagens expõem seus pontos de vista de maneira simples e direta, como ocorre na conversa entre Monje e Che, e a maneira como o faz leva o espectador a se situar. E, em se tratando de um personagem complexo como Guevara, este recurso só ajuda a entendê-lo. Os fatos que o cercam são por demais conhecidos para se fazer diferente.
Paisagem completa a ação do filme
Sem dúvida, Soderbergh e seus roteiristas usaram esta técnica com eficiência. Mesmo recurso usado por ele, que também foi diretor de fotografia, ao optar pelo tom esmaecido, para tornar o clima mais denso, áspero e ameaçador. A paisagem, assim, não rouba o espaço dos personagens, não sobressai mais que eles; não leva o espectador a admirá-la em vez de vê-la integrada à montanha inóspita, que cerca os guerrilheiros. O que sobressai daí é a história, o mover dos personagens, às vezes com enquadramentos característicos de John Ford, em seus westerns (veja “Forte Apache”). Ou nas cenas de guerras, em que os soldados são acuados pelo ambientes, notadamente quando chove. Isto ajuda o espectador a entrar no clima e ser atraído para o dilema vivido pelos guerrilheiros. Notadamente quando tem como centro o Guevara personagem. Desta maneira, dá para viajar no tempo quando a elipse o transporta do helicóptero que leva seu corpo para o início de toda a história.
O jovem Che está no Gramma, navegando para Sierra Maestra. Uma regressão de oito anos, para firmar na mente do espectador sua trajetória, até aquele momento. A partir dali, sua história vem sendo construída de outra forma, por outros parâmetros. O filme, idéia do ator que o interpreta, o portoriquenho Benício Del Toro (impecável, no papel, pelo qual recebeu o Prêmio de Melhor Ator, no Festival de Cannes, de 2008), tem a capacidade de mostrá-lo em sua inteireza. As novas gerações a partir do filme podem vê-lo longe das manipulações dos grupos neonazistas alemães, que o idolatram, por razões que só eles entendem (veja o documentário “Personal Che”, de Douglas Duarte e Adriana Mariño). E, deste modo, situá-lo no contexto histórico real, com lições que estão longe de esgotar, devido aos efeitos danosos do capitalismo e de seus agentes, ainda que abalados pela crise político, ideológica e financeira que atravessa. Isso, para dizer o mínimo.
(“Che 2 – A Guerrilha”). ( “Che: Parte Two – Guerrilha”). Drama político. EUA, França, Espanha. 2008. 133 minutos. Roteiro: Peter Buchman/Banjamin A. van der Veen, baseado no “Diário da Guerrilha”, de Che Guevara. Fotografia: Steven Soderbergh. Direção: Steven Soderbergh. Elenco: Benício Del Toro, Franka Potente, Demián Bichir, Lou Diamond Phillips, Catalina Sandino Moreno.
* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis, "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".
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outubro 06, 2009
Morte no Velho Chico
Votorantim continua causando morte no rio São Francisco
(Por Frei Gilvander Moreira*)
No dia 02 de outubro de 2009, dia do nascimento de Gandhi, antevéspera do dia de São Francisco de Assis, patrono do Velho Chico, cerca de 350 pescadores, Sem Terra, sindicalistas e representantes de Movimentos populares e da Via Campesina - membros da Articulação Popular em defesa do rio São Francisco - promoveram manifestação na cidade de Três Marias, MG, às margens do Velho Chico e no portão de entrada da Votorantim Metais.
Às 6:00h da manhã, após concentração na beira do rio São Francisco, iniciamos uma marcha, atravessando a ponte da BR 040, que está logo abaixo da barragem de Três Marias. Em frente à Votorantim Metais a BR 040 foi bloqueada durante 30 minutos. Após, aconteceu um Ato Público durante duas horas no portão de entrada da Votorantim Metais, onde com faixas, gritos de luta e através de pronunciamento de muitas lideranças e pescadores foram denunciadas as agressões que a Votorantim vem provocando no rio São Francisco há 40 anos. O MANIFESTO é assinado por 22 movimentos populares e sindicatos e foi distribuído à população.
Pescadores denunciam mortandade de peixes
a) - A Votorantim é uma das principais empresas responsável pela poluição do rio São Francisco com metais pesados. Desde o final de 2004 já morreram 200 toneladas de peixes, principalmente surubins adultos contaminados por rejeitos tóxicos lançados pelo processamento de zinco da Votorantim Metais. Só de óxido de Zinco a produção chega a 110 toneladas por dia com 600 dólares de lucro por tonelada. A empresa vende esse produto, principalmente, para Pirelli, Michelin e outras indústrias de pneus que infestam as cidades de automóveis, prestando culto à automovelatria (carrolatria). Além de matar, diretamente, os peixes e, indiretamente, pescadores, causar devastação ambiental e social, a Votorantim infernaliza a vida nas cidades.
b) - A Votorantim Metais começou a operar em 1969 e por 14 anos lançou seus rejeitos minerários diretamente no rio São Francisco. Somente em 1983 foi construída uma barragem de contenção de rejeitos. Mas para facilitar a vida da empresa, a barragem foi construída na barranca do rio na cidade de Três Marias! Os metais pesados, através da infiltração, continuaram a se acumular no leito do rio. Hoje existe no fundo do rio um metro e meio de lama tóxica. Quando as comportas da barragem de Três Marias são abertas essa lama é revolvida contaminando ainda mais a água e os peixes. A poluição industrial da Votorantim Metais sempre esteve no cerne da contaminação das águas do Rio São Francisco. Por isso, os órgãos ambientais - os que não se vendem - exigiram a desativação da primeira barragem. Uma segunda foi construída pela empresa, mas de forma irregular, desrespeitando normas técnicas exigidas pelos órgãos ambientais. Continuou ocorrendo infiltração e a segunda barragem também foi reprovada. Em 2005 a empresa comprometeu-se em construir uma terceira barragem e cumprir mais 25 TACs - Termo de Ajuste de Conduta. A poluição continua, e não se tem informação sobre o cumprimento dos termos.
c) - Relatórios e análises químicas de órgãos ambientais mostram que água, sedimentos e peixes apresentam índices alarmantes de contaminação por metais pesados, muitas vezes acima dos permitidos pelo CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente: zinco - 5.280 vezes; cádmio - 1.140; cobre - 32; chumbo - 42.
d)- A CEMIG também foi denunciada pela abertura das comportas da usina de Três Marias para possibilitar os passeios turísticos do barco a vapor Benjamin Guimarães, e em época de outros eventos para camuflar a realidade do rio poluído, degradado e minguante. Com a súbita liberação das águas, muitas plantações dos vazanteiros são destruídas, a consequência é mais fome.
A manifestação foi ostensivamente acompanhada pela Polícia Militar que seguia a cartilha que lhe ordena agir com truculência. Parou os 4 ônibus e revistou todas as pessoas e os pertences. Até os paus que serviam de suporte para as faixas foram apreendidos. No momento do trancamento da BR 040 policiais empurraram pescadores e Sem Terra, gritando e ameaçando com cacetetes. Tiveram que ouvir que a Constituição de 1988 assegura o direito de manifestação e de luta e que a PM deveria cuidar da segurança pública e não cuidar da segurança da Votorantim Metais. No Portão da empresa a polícia impediu que fosse feito um piquete para tentar impedir a entrada dos trabalhadores. Já quase ao meio dia, após percorrermos muitas ruas da cidade de Três Marias, fomos "escoltados" até à sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde ficamos por um certo tempo "sitiados" pela polícia militar de Minas Gerais que, sob comando do Tenente Valdeci, insistia em prender uma liderança que no carro de som tinha denunciado os desmandos da polícia. Após intensa negociação tivemos que entregar a identidade do militante. O tenente repetia insistentemente que tinha que fazer um Boletim de Ocorrência contra Samuel. "Eu vocês não me entregarem a identidade dele os 4 ônibus serão presos".
Foi alertado que quem deveria ser preso era a Votorantim, pois está contaminando com metais pesados o rio São Francisco.
* Mestre em Exegese Bíblica, professor de teologia Bíblica, assessor de CEBs, CEBI, CPT, SAB e MST
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Na linha: FIFA pode testar sistema eletrônico utilizado no tênis
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, admitiu nesta terça-feira a possibilidade de testar o sistema hawk eye no futebol para poder comprovar se uma bola realmente entrou ou não no gol, a fim de evitar costumeiros erros de arbitragem nesta situação, segundo informou o site esportivo espanhol Sport.es.
"O inventor do sistema 'hawk eye', Paul Hawkins, disse publicamente que seu sistema poderia funcionar. Vamos analisar com prazer para poder demonstrar como funciona o sistema", disse Blatter durante uma entrevista coletiva em Copenhague, na Dinamarca.
O hawk eye (olho de falcão, em português) é utilizado em partidas dos principais torneios de tênis do mundo, tendo sido adotado em três dos quatro torneios de Grand Slam, no Aberto da Austrália, no Aberto dos Estados Unidos e em Wimbledon, com Roland Garros sendo a única exceção.
Nos esportes em que já foi testado, o sistema de hawk eye tem boa aceitação entre esportistas e o público. A Fifa vem se negando a utilizar alguma tecnologia em vez de colocar árbitros atrás dos gols para saber se uma bola cruzou ou não a linha.
Segundo Joseph Blatter, o assunto deverá ser discutido novamente pela Fifa uma vez que ainda não se encontrou alguma forma de resolver definitivamente o problema.
Na prorogação da final da Copa de 66, Geoff Hurst ganhou seu lugar na história dos mundiais pelo gol mais discutido de todos os tempos
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La Negra: a voz da América Latina
A cantora argentina Mercedes Sosa, de 74 anos, morreu neste domingo dia 4, em Buenos Aires, segundo o hospital em que ela estava internada. Ela morreu em consequência de uma doença hepática complicada por problemas respiratórios. Sosa foi uma das intérpretes mais conhecidas da música regional latino-americana, e uma das artistas mais famosas na Argentina depois de Carlos Gardel e Astor Piazzolla.
Ela havia sido internada em 18 de setembro, depois de ter sofrido uma complicação renal, mas seu estado piorou nos últimos dias por causa de uma falha cardiorrespiratória.
La Negra
Nascida na cidade de San Miguel de Tucumán em 1935, Sosa teve uma atuação marcante durante a ditadura militar argentina, entre 1976 e 1983 e acabou exilada na Europa.
"La Negra", como ela era conhecida carinhosamente por seu cabelo escuro, foi apontada como "a voz da maioria silenciosa", por sua defesa dos pobres e sua luta pela liberdade. Ela ficou fora de cena por algum tempo anos atrás por um problema de saúde, mas retornou em 2005. Neste ano, ela lançou um disco em dois volumes denominado "Cantora", em que canta em parceria com artistas como Joan Manuel Serrat, Caetano Veloso e Shakira, razão pela qual estava indicada a três prêmios Grammy Latino.
Militante ativa
Em 1979, um show na cidade de La Plata é interrompido e Mercedes e o público são presos. No mesmo ano, exila-se em Paris e depois se instala em Madri. Ela regressou à Argentina em 1982.
Militante ativa contra a ditadura militar nos anos 70 e 80 - quando se celebrizou como "a voz" da canção de protesto latino-americana -, Sosa apoiou a eleição dos Kirchner recentemente.
Nos últimos anos, antes do agravamento de seu estado de saúde, excursionou por diversos países da América Latina e Europa, se apresentando com grande sucesso. Em 2007, cantou em São Paulo.
Mercedes Sosa: militante ativa contra a ditadura militar
Discografia
Canciones con Fundamento (1965)
Yo no Canto por Cantar (1966)
Hermano (1966)
Para Cantarle a Mi Gente (1967)
Con Sabor a Mercedes Sosa (1968)
Mujeres Argentinas (1969)
Navidad con Mercedes Sosa (1970)
El Grito de la Tierra (1970)
Homenaje a Violeta Parra (1971)
Hasta la Victoria (1972)
Cantata Sudamericana (1972)
Traigo un Pueblo en Mi Voz (1973)
Niño de Mañana (1975)
A que Florezca Mi Pueblo (1975)
La Mamancy (1976)
En Dirección del Viento (1976)
O Cio da Terra (1977)
Mercedes Sosa Interpreta a Atahualpa Yupanqui (1977)
Si se Calla el Cantor (1977)
Serenata para la Tierra de Uno (1979)
A Quién Doy (1980)
Gravado ao Vivo no Brasil (1980)
Mercedes Sosa en Argentina (1982)
Mercedes Sosa (1983)
Como un Pájaro Libre (1983)
Recital (1983)
Será Posible el Sur? (1984)
Vengo a Ofrecer Mi Corazón(1985)
Corazón Americano (1985), com Milton Nascimento e León Gieco
Mercedes Sosa "86" (1986)
Mercedes Sosa "87" (1987)
Gracias a la Vida (1987)
Amigos Míos (1988)
En Vivo en Europa (1990)
De Mí (1991)
30 Años (1993)
Sino (1993)
Gestos de Amor (1994)
Oro (1995)
Escondido en Mi País (1996)
Alta Fidelidad (1997), com Charly García
Al Despertar (1998)
Misa Criolla (2000)
Acústico" (2002)
Argentina Quiere Cantar (2003), com Víctor Heredia e León Gieco
Corazón Libre (2005)
Cantora (2009)
"...Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el cielo que en todo su ancho
graba noche y dia grillos y canarios
martillos, turbinas, ladridos, chubascos
y la voz tan tierne de mi bien amado..."
(Mercedes Sosa em Gracias a la vida)
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Minha garota foi pra Manágua...
Acho que todos os dias eu ouvia os “Replicantes’. Isso lá no meio dos anos 80. Ainda ouço demais e acredito que será sempre mais. De Porto Alegre, a banda deu seus primeiros “3 acordes” em 1983. Logo depois foram incluídos na coletânea gaúcha “Rock Garagem” (Acit) com a faixa “Princípio do Nada”. Em 1985, produziram e lançaram um compacto. Formada por Wander Wildner (vocais), Claudio Heinz (guitarra) Heron Heinz (baixo) e Carlos Gerbase (bateria) – a banda chamou a atenção logo de cara com letras ácidas, politicamente incorretas e divertidas. O primeiro LP, “O Futuro É Vórtex”, foi editado em 1986 pela BMG Ariola. Depois lançaram pela mesma gravadora os LPs “Histórias de Sexo e Violência” (1987), que causou impacto de mídia e público, e “Papel de Mau” (1989). Wander deixou o grupo em 1990. O baterista Gerbase assumiu os vocais e a ex-baterista do grupo Defalla, Biba, foi recrutada para substituí-lo. Lançaram mais um LP, “Andróides Sonham com Guitarras Elétricas”, em 1991. Depois de suspender os trabalhos durante boa parte da década de 90, o grupo retornou com um disco ao vivo lançado em 1995. Já Wander Wildner é um assunto a parte. O cara é batalhador, criativo, poeta marginal dos bons...Avesso a tietagem, declarou ser apenas um “artista amador, popular e brega”. Porém, é muito mais. Wander possui uma qualidade nata aos grande artistas, que é o dom de “trair” com muita coerência...sempre novo de novo.
Sandina
(Replicantes)
Sábado todo
Eu chorei de mágoa
Minha garota
Foi pra Manágua
Lutar pela revolução
Lutar pela revolução
Todo mundo vai embora
Todo mundo tem sua hora
Ela me deixou
Ela me trocou
Por um sandinista especialista
Em granada de mão.
Click e veja no Youtube um clipezinho de Sandino (voz e violão) para “Sandina”. Gravado sem pretensão alguma no velho PC de combate. Minha pequena e modesta saudação aos Replicantes.
Posted by Sandino at 05:17 PM | Comments (0)
Diario de Che Guevara será distribuído por governo boliviano
O governo da Bolívia publicará o diário que o famoso guerrilheiro Che Guevara escreveu durante sua campanha de 12 meses na selva boliviana. A edição em fac-símile de mil exemplares dos diários escritos de próprio punho pelo guerrilheiro será lançada na VII Cúpula da Alba (Aliança Bolivariana para Nossa América), que acontecerá nos dias 16 e 17 de outubro, em Cochabamba.
O ministro da Cultura, Pablo Groux explicou que a publicação será idêntica ao diario original e que será distribuída sem nenhum custo, a instituições culturais e bibliotecas públicas do país e de membros da Alba. "Este documento se encontra em qualidade de segredo de Estado desde o ano de 1985, nos cofres do Banco Central da Bolívia e agora será posto à disposição dos cidadãos", disse o ministro.
O diário começa a ser publicado 43 anos após a primeira das anotações realizadas por Che em 7 de novembro de 1966, quando ingressou na Bolívia para encabeçar um movimento insurgente revolucionário no sudeste do país. O manuscrito foi confiscado pelo Exército da Bolívia quando Che foi capturado e fuzilado em outubro de 1967. Os originais escritos pelo próprio Che foram resgatados pelo ministério das Relações Exteriores da Bolívia de uma casa em Londres. Não se sabe como os textos foram parar na Grã-Bretanha. As memórias de Che estão registradas em um caderno escolar com espiral, em uma agenda de origem alemã com o ano de 1967 escrito na capa e uma caderneta de anotações.
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O poeta desconectado...
Internet mais pobre sem Saramago
(Por Carlos Pompe*)
No dia 1º, José Saramago se despediu dos leitores de seu Caderno — o blog que inaugurou no dia 15 de setembro de 2008. Nele opinou um pouco sobre tudo e reafirmou posições e compromissos. Inclusive, reafirmou suas convicções marxistas e seu compromisso leninista com o Partido Comunista Português.
Uma seleção do que ele postou no blog foi coletada em livro, O Caderno, que sua editora italiana, Einaudi, pertencente ao direitista primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que se negou a publicar a versão italiana do livro em sua editora devido às críticas que Saramago fez em seus artigos ao governante da Itália.
Além de dizer que seus livros proporcionavam lucro ao dono da editora, o escritor ainda o chamou de “coisa” e delinquente: “Os valores básicos da convivência humana são espezinhados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre os seus múltiplos talentos, tem uma habilidade funambulesca para abusar das palavras, pervertendo-lhes a intenção e o sentido, como é o caso do Pólo da Liberdade, que assim se chama o partido com que assaltou o poder. Chamei delinquente a esta coisa e não me arrependo”. (A coisa Berlusconi, 8/6/09)
Saramago abordou, ao longo desses meses, temas os mais variados das artes – inclusive a literatura, seu ofício – e da sociedade. Expressou seu repúdio ao terrorismo do Estado de Israel contra os palestinos e também condenou ações terroristas contra civis, ocorressem onde fossem. Clamou pela paz e pelo fim das discriminações. Depôs sobre artistas, ativistas e políticos que admira ou conheceu – e também os que deplora.
Seu estilo e sua visão e cultura amplas proporcionaram (e proporcionam, pois os textos continuam abertos à visitação) reflexões como esta, sobre a necessidade de os homens também se rebelarem contra a agressão às mulheres: “Talvez 100 mil homens, só homens, nada mais que homens, manifestando-se nas ruas, enquanto as mulheres, nos passeios, lhes lançariam flores, este poderia ser o sinal de que a sociedade necessita para combater, desde o seu próprio interior e sem demora, esta vergonha insuportável. E para que a violência de género, com resultado de morte ou não, passe a ser uma das primeiras dores e preocupações dos cidadãos. É um sonho, é um dever. Pode não ser uma utopia”. (Problema de homens, 28/7/09)
Sua abordagem sobre seu papel como artista e cidadão é um caminho a seguir para os que zelam pela coerência: “Como escritor, creio não me ter separado jamais da minha consciência de cidadão. Considero que aonde vai um, deverá ir o outro. Não recordo ter escrito uma só palavra que estivesse em contradição com as convicções políticas que defendo, mas isso não significa que tenha posto alguma vez a literatura ao serviço directo da ideologia que é a minha. Quer dizer, isso sim, que ao escrever procuro, em cada palavra, exprimir a totalidade do homem que sou”. (Do sujeito sobre si mesmo, 7/7/09)
Materialista confesso, pronunciou-se inúmeras vezes contra as duas principais seitas monoteístas do Ocidente: “Se Alá não toma conta da sua gente, isto vai acabar mal. Já tínhamos a Bíblia como manual do perfeito criminoso, agora é a vez do Corão, que o xeque Al Nayan reza todos os dias”. (Torturas, 11/5/09) Este outro seu argumento é atualíssimo neste nosso Brasil, quando governo e Vaticano se unem para perpetrar mais um atentado contra o Estado laico: “Seria de agradecer que a Igreja Católica Apostólica Romana deixasse de meter-se naquilo que não lhe diz respeito, isto é, a vida civil e a vida privada das pessoas. Não devemos, porém, surpreender-nos. À Igreja Católica importa pouco ou nada o destino das almas, o seu objetivo sempre foi controlar os corpos, e o laicismo é a primeira porta por onde começam a escapar-lhe esses corpos, e de caminho os espíritos, já que uns não vão sem os outros aonde quer que seja. A questão do laicismo não passa, portanto, de uma primeira escaramuça. A autêntica confrontação chegará quando finalmente se opuserem crença e descrença, indo esta à luta com o seu verdadeiro nome: ateísmo. O mais são jogos de palavras”. (Laicismo, 4/6/09)
As convicções comunistas do autor também não ficam escondidas em jogos de palavras. Quando um político foi agredido, no 1º de Maio deste ano, Saramago pediu a expulsão dos agressores, se fossem militantes do partido (ele o é há mais de 40 anos), e provocou: “A Vital Moreira chamaram-lhe ‘traidor’, e isto, queira-se ou não se queira, é bastante claro para que o tomemos como o cordão umbilical que liga o desprezível episódio do desfile do 1º. de Maio à saída de Vital Moreira do Partido Comunista há vinte anos. Que espero que não seja por me considerarem a mim também traidor, pois embora militante disciplinado, nem sempre estive de acordo com decisões políticas do meu partido”. (Expulsão, 2/509)
Saramago deixa em aberto a possibilidade de ainda postar textos eventuais no seu blog. Como ele próprio escreveu numa homenagem ao mais conhecido comunista português, Álvaro Cunhal (em 31/7/09)
– “Envelhecer é não ser preciso. Ainda precisávamos de Cunhal quando ele se retirou”.
Ainda precisamos de Saramago, que não envelhece. Disse que se retira da internet para se dedicar mais e melhor aos seus livros. Pois que venham os livros!
*Jornalista e curioso do mundo.
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Marina e os Tucanos
Marina e os Tucanos: o dia que a terra parou
(Por Regina Abrahão*)
Depois do programa do Partido Verde - PV, assisti o filme "O Dia que a Terra Parou". Concluí, então, que os verdes do Brasil não consideram o ser humano com caracteríscas viróticas, portanto não pensam em varrer a humanidade da face da Terra. Aliás o PV brasileiro está mais para PV alemão. O que me leva a pensar na reação que terá a ex-ministra durante a campanha eleitoral de 2010, caso tenha que, em algum momento, compartilhar palanque com o tucanato, como fez até agora seu líder Gabeira.
Adoro ficção. Antes tinha certo encabulamento para dizer isto; Hoje, do alto de meu meio século, assumo ser fã incondicional da boa ficção científica. Tenho coleções de Star Trek, Lost in Space, Star Wars, e filmes, como Star Gate, A máquina do Tempo, Os Doze Macacos e outros, que costumo rever de tempos em tempos.
Conto isto porque lembrei da refilmagem de "o dia em que a Terra parou". Belos efeitos, etc. O filme resume-se em apontar o comportamento virótico e destrutivo da humanidade no planeta. Portanto, quem precisa ser salva é a Terra, não o homem. Destruindo-se o homem, a Terra estará salva. São os setores que se dizem da vertente naturalista, mas que na verdade poderemos classificar como fundamentalistas ecológicos. Ao condenarem veementemente o antropocentrismo, todas e quaisquer medidas que possam causar alterações no ambiente natural, esquecem que a pior de todas as poluições, a miséria humana, que degrada homem e ambiente é a primeira a ser combatida.
E talvez desta postura que em princípio e para alguns possa ter beirado a ingenuidade surgem os desvios dos "verdes" no mundo, e agora, no Brasil. Porque deste naturalismo quase indígena de discurso inflamado é fácil pular para ações que não precisem de justificativas anti-capitalistas. O movimento destes "verdes" dispensava até agora referências ideológicas mais consistentes, já que seus líderes, de militância errática e confusa, a exemplo de Cohn-Bendit na Europa, ex- esquerdista, ex-anarquista, ex-Sourbone, atual direitista, e Gabeira, ex-esquerdista, ex-petista, atualmente verde-aliado-do-PSDB, não seriam nenhum modelo de seriedade ideológica.
A confusão estabelecida no seio do movimento ambientalista não é casual. Enfrentar a degradação ambiental e propor um novo modelo de sociedade significa repensar e remodelar toda a sociedade, acabar o modelo capitalista de produção e consumo. Por isto a ingerência o capital nesta área. Nada pode ser tão assustador ao capital quanto ameaçar seu modo de produção, seus excedentes, seus desperdícios. Hoje, além de comprar um produto, o consumidor compra também o sentimento de felicidade e o status de possuidor que este produto lhe confere. Quanto mais produtos, mais felicidade, mais status, mais lucro para o produtor, mais renda na cadeia toda envolvida de uma ponta até a outra.
Obviamente o capital não deixaria por menos. Ao partidarizar o movimento, fez com que ele se distanciasse dos partidos de esquerda. Ao invés da luta interna, isolou-se em disputas eleitorais e depois na vida partidária, perdendo o foco central. Os lobbies, as pressões, os acordos e eis o Partido Verde Alemão apoiando inclusive as Guerras humanitárias de Bush. No Brasil, Gabeira aliando-se ao PSDB. E o meio ambiente? A ministra Marina, quando viu-se contrariada, pediu para sair. Nascida no Acre, deveria ela saber que não é fácil lidar com o latifúndio, com o capital internacional, que Lula ganhou o governo mas o poder não veio inteiro de brinde.
E como o capital não brinca em serviço, eis aí nossa ex-ministra, quem sabe concorrendo em 2010, com seu discurso verde- cintilante, ao lado daqueles que ela mesma combateu por trinta anos. Assisti ao programa partidário do PV na TV para ter certeza. Não, Marina não estava deslocada. Ao contrário, estava maravilhada com a festa oferecida, mostrando o que restou do Acre, as fotos com Chico Mendes, contando sua trajetória de vida miserável de cabocla amazônica. Algumas tímidas palavras sobre a necessidade de saneamento básico, exaltações à floresta e muitas queixas. Muito mais promessas do que queixas. Quase uma plataforma. Lembrou, de leve Heloísa Helena. Pequena, magra, firme, contundente. O discurso um pouco mais leve, a menos agressiva. Marina, efetivamente, é melhor. Desta vez, a direita escolheu melhor.
Depois do programa do PV, assisti outra vez o filme O Dia que a Terra Parou. Concluí, então, que os verdes do Brasil não consideram o ser humano com características viróticas, portanto não pensam em varrer a humanidade da face da Terra. Aliás o PV brasileiro está mais para PV alemão. O que me leva a pensar na reação que terá a ex-ministra durante a campanha eleitoral de 2010, caso tenha que, e provavelmente terá, em algum momento, compartilhar palanque com o tucanato, como fez até agora seu líder Gabeira. Que cena...
*Funcionária pública, direigente municipal do PCdoB de Porto Alegre, estudante de ciências sociais da UFRGS. Dirigente da Semapi - RS
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Budapeste: mantendo o olhar brasileiro
“Budapeste”
(Por Cloves Geraldo*)
Baseado no livro homônimo de Chico Buarque, filme do brasileiro Walter Carvalho trata do universo dos que escrevem para que os outros ganhem a fama e eles continuem na obscuridade. E termina por discutir a falta de identidade no mundo globalizado.
Trafegando no mundo das falsificações e imposturas
Muitos espectadores ao assistir a “Budapeste”, de Walter Carvalho, baseado no livro homônimo de Chico Buarque, irão trafegar por universos incomuns para o cinema brasileiro. Mais acostumado ao realismo terceiromundista, a exceção, talvez, dos filmes de Fernando Meirelles (“Ensaio sobre a Cegueira”, “O Jardineiro Fiel”), que a mergulhar em temas igualmente significativos. Isto porque existem inúmeras vertentes para se captar a realidade imediata; num mundo que se pretende globalizado, mas que busca desesperadamente construir uma identidade que o tire da uniformidade. Haja vista a quantidade de pequenas nações surgidas nesta pós-Queda do Muro de Berlim. Todas elas insubmissas, tentando tornar-se um país, que ao mesmo tempo busca se integrar aos grandes blocos político-econômicos.
Ainda que escape à temática há muito ditada pelo Cinema Novo, “Budapeste” tem como matriz a afirmação de um escritor/poeta nativo neste planeta onde a identidade é mais o que consta no passaporte do que a cultura e o fazer que construam o cidadão. Mas, por contraditório que pareça, as mazelas pátrias estão todas no filme – da insubmissão ao que oprime o indivíduo a busca incessante de espaço mesmo em condições adversas. O que amplia, sem dúvida, seu olhar para além da geografia latinoamericana, através de um personagem que trafega entre o sistema e suas fronteiras. E fortalece desta forma a visão que a roteirista Rita Buzzar e o diretor Carvalho buscaram transmitir neste “Budapeste”: o da luta contra a falsificação e a impostura, o da luta pela visibilidade e a identidade.
Se a maioria dos filmes nacionais busca hoje ampliar a visão que se pode ter do país, sem deixar de lado a herança do Cinema Novo, ao incluir o povo como personagem (“Cidade de Deus”, “Linha de Passe”, “Mutum”) ou a denunciar as estruturas viciadas e corruptas do país “Tropa de Elite”, “Budapeste” centra-se nas mazelas subreptícias da autoria e, por extensão, da identidade. Usa para isto uma cidade, Budapeste, como símbolo de um mundo em mutação, e o poeta brasileiro, José Costa (Leonardo Medeiros), que sobrevive escrevendo livros para outros assinarem. Enquanto nas palavras do também poeta Puskás Sándor, “Fora de Budapeste nada existe” – dada sua identificação com o ser anônimo, aquele que enaltece a criação não subscrita, que viverá apenas através da obra – Costa trava uma luta desesperada pelo reconhecimento. Existe um momento em que a transição de um mundo para o outro, de uma estrutura sócio-histórica para a outra, é vista por ele numa configuração incomum: a gigantesca estátua de Lênin deslizando pelo Danúbio numa balsa. Algo se foi, algo precisa ser reconstruído.
No submundo húngaro, o poder da palavra, da construção do sentido...
Costa escreve mantendo seu olhar brasileiro
Esta apreensão de Budapeste se dá pelo aprendizado – “o Húngaro não se aprende nos livros” – diz a amante de Costa, Kriska (Gabriela Hámori), ela também numa lexicólografa. E por sua integração ao meio ao qual está acostumado: o da produção de obras para outros assinarem. Costa o faz, desenraizado, destoando da voz húngara, fato reconhecido por Kriska, dado que seu olhar continua a ser de um brasileiro que constrói versos e estrofes de acordo com sua cultura. Trata-se, sem dúvida, de tema árido, de difícil tratamento imagético, pois a identificação do espectador com esta área é quase nenhuma. Rita Buzzar, como roteirista/produtora, e Carvalho, como diretor, conseguiram, no entanto, transpor a obra de Chico Buarque com uma clareza e sensibilidade suficientes para que ele, o espectador, consiga acompanhar, entender as dificuldades de Costa para se desfazer das amarras do anonimato e aprender as nuanças do novo idioma.
As aflições e frustrações de Costa são elucidadas em suas próprias reflexões, feitas na primeira pessoa. Ele se debate, se deprime por ver outros conquistarem uma glória que deveria ser dele. Quando justo ele, um ghostwriter, escritorfantasma, não deveria passar por estes dilemas: é de sua profissão escrever para os outros assinarem. Como o é do escritor de discursos políticos e do portavoz. Ambos sabem que seu papel é o de servir de sombra à visibilidade de quem o contratou. Não é o de portar-se ao lado do subscritor da obra para que se identifique o autor real. Bem o diz Puskás Sándor, que seu papel é o de ser anônimo. Na própria Budapeste há, no filme, uma estátua louvando-o, por não querer vir ao sol, preservando sua contribuição impressa em livro. O próprio Costa chega a Budapeste, vindo da Índia, depois que seu avião teve de fazer um pouso forçado na capital húngara. E lá se enreda numa busca infernal por identidade. Dando, assim, ao espectador a chance de entender suas tentativas de reconhecimento. Pilhas e pilhas de livros, coquetéis de lançamento, coberturas da mídia, autógrafos. Tudo o deprime.
Escrita de Costa usa corpos humanos
Nestas sequências não há em que o espectador se apegar, principalmente porque a narrativa não é linear – ela vai a Budapeste e regressa ao Rio de Janeiro. Está na primeira pessoa (Costa refletindo sobre seus dilemas) e na terceira (o diretor situando o espectador na trama). Porém, assume o caráter real ao se deter na vida amorosa de Costa, mostrando sua mulher, Vanda (Giovanna Antonelli), e em sua vida profissional, via reuniões na editora. São as imagens, belas, bem estruturadas, com a ação rápida, que vão, aos poucos, levando ele, espectador, ao universo do poeta/sombra. Carvalho o envolve na trama usando espectros, claro/escuro, cortes rápidos - Costa andando pela desconhecida Budapeste, de ruas desertas, gélidas, envolvendo-se com o submundo húngaro, vivendo situaçõeslimite. Discute o poder da palavra, da construção do sentido, da escrita se grudar ao corpo, à pele, de forma a ser permanente. Na linha de Peter Greenaway, em “O Livro de Cabeceira” (veja abaixo). De o homem ter sua história escrita no próprio corpo – e dela não poder mais se despregar.
Nestas sequências predomina o sensorial. Os corpos ao terem inscrições assumem o caráter de instalações – montagens de objetos que traduzem uma realidade imediata. E o filme seria hermético se nisso ficasse. A dupla Buzzar/Carvalho consegue escapar a esta armadilha: o do filme voltado apenas para o sensorial, com códigos fechados, para iniciados. Quando Costa começa a se integrar ao universo húngaro, a pensar e escrever em húngaro, a narrativa se abre, surge outra vertente: a da falsificação e da impostura. Tema não distante dele, espectador. Principalmente porque a mídia tem denunciado, sem se aprofundar, a escrita de monografias para conclusão de cursos superiores, por meio de ghostwriters profissionais que as vendem por altos preços. Tema recorrente também discutido em “O Poeta da Vila”, cinebiografia de Noel Rosa, ao mostrar compositores vendendo suas músicas a outros que assumem sua autoria. Ou, nos caso mais comuns, o de ghostwriters especialistas em biografias de celebridades ou nem tanto. Um mundo por demais amplo – sem contar o da falsificação de obras de arte, tratados por Orson Welles, em “Verdades e Mentiras”. Há sempre alguém querendo usar os “préstimos” deles para ter visibilidade, reconhecimento, identidades às suas custas.
Kriska, húngara, traduz seu universo para Costa
Quando o filme chega a estas sequências o espectador já foi tragado para sua trama central. A tentativa desenfreada do homem moderno de se despregar da massa, de ter seu “eu” próprio, de ter voz e poder ser reconhecido em sua inteireza. Costa o consegue depois de muito sacrifício – de denunciar, ser expulso da Hungria, de perseverar nessa trilha, de regressar. Não o faz por si, há Kriska a ajudá-lo. Portanto, há em quem se escorar; que o proteja, e ele se deixa orientar, ainda que resista à suas orientações. Adverso de Vanda, sua mulher, brasileira, mais interessada na badalação, para quem a autoria não conta, sim quem está sob os holofotes. Nada ajuda a construir. Diferente de Kriska, mãe do garoto Pisti, que irá traduzir Budapeste, seu universo particular para ele, abrindo-lhe novos caminhos. Uma parceria, enfim. O espectador vê, assim, as vertentes se entrecruzarem e fazerem sentido. E o levar à abertura desta escrita – de o filme abrir outra vertente para o cinema nacional: o de ler o Brasil a partir do exterior. Costa é o espectador lutando para ganhar visibilidade, se reconhecer ou ser reconhecido como autor de sua própria história.
O meio em que Costa transita é o das megalivrarias, verdadeiros hipermercados, onde se dá tanto a venda da obra, o real, multiuniversos, como a impostura, o lançamento da obra escrita pelo ghostwriters. Um símbolo do hipercapitalismo, da globalização da cultura, que contradiz a afirmação de Puskás Sándor, de que “fora de Budapeste, nada existe”. Enquanto ele se amolda, trafegando entre a impostura e a conivência, Costa se insurge. A voz terceiromundista em pleno espaço da Comunidade Européia. Lembra Jardel Filho, denunciando o ditador do fictício Eldorado, em “Terra em Transe”, e clamando por justiça, liberdade, democracia. Talvez estas junções, leituras e projeções só evidenciem a proximidade das temáticas: a políticosocial, a terceiromundista e as que trafegam pelo universo da falsificação e da impostura. Espaços, portanto, distantes do povo, porém projetados no personagem, no caso Costa, que, como profissional, tenta construir sua identidade e tê-la reconhecida.
Desfecho recompensa o espectador sem o frustrar
O interessante neste “Budapeste” é que se as primeiras sequências são intrincadas, Carvalho e sua roteirista Rita Buzzar não se aventuraram pelo final fechado, enigmático. O espectador mais exigente talvez o esperasse. Contudo, eles não o frustram. O recompensam com a possibilidade de a impostura ser denunciada e a autoria restituída a quem de direito. De uma forma, elucidativa. A tenacidade de Costa não poderia redundar em fracasso. A própria construção de sua dignidade de poeta, escritor; exige um desfecho diferente. Aponta, com isto, uma série de possibilidades, de caminhos e vertentes – o de o brasileiro não ser um inadaptado no estrangeiro. E de sua contribuição deixar de ser anônima, submersa, sendo ele mesmo um fantasma terceiromundista em países cujas identidades estão sendo reconstruídas. Um belo exercício de estilo, clima e temática, para quem se interessa por um cinema adulto e voltado para questões tão imediatas quanto a simples sobrevivência.
“Budapeste”. Drama. Brasil/Hungria. 2009. 113 minutos. Roteiro: Rita Buzzar, baseado no romance de Chico Buarque. Fotografia: Lula Carvalho. Direção: Walter Carvalho. Elenco:Leonardo Medeiros, Gabriela Hámori, Giovanna Antonelli,Antonie Kamenling.
*Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis, "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".
Posted by Sandino at 04:37 PM | Comments (0)
COPA 2012 - Morumbi
Morumbi: mistura de futebol e política
(Por Bruno Padron "Porpeta"*)
O estádio do Morumbi, em São Paulo, recebeu inúmeras críticas do Secretário-Geral da FIFA, Jérôme Valcke, e do Presidente da entidade, Joseph Blatter, a respeito das condições para sediar o jogo de abertura, ou até mesmo qualquer jogo, da Copa 2014. Só nos resta saber quais interesses se escondem atrás disso.
Sabe-se que a FIFA possui uma extensa lista de exigências para adequação de estádios ao seu padrão para sediar jogos da Copa do Mundo. Dentre elas estão a existência de assentos e sua respectiva cobertura, amplas áreas VIP e de imprensa, estacionamentos capazes de recepcionar uma multidão de carros, e outras.
Que o torcedor brasileiro é maltratado em todo e qualquer estádio não é novidade alguma. Mas porque não adequar os estádios já existentes às tais normas e evitar o desperdício de milhões de reais que, conforme as últimas declarações do capo da CBF, Ricardo Teixeira, sairão dos cofres públicos?
Já que alguns dos estádios a ser utilizados são privados, os próprios clubes deveriam arcar com tais despesas. E isto era uma das promessas da campanha Brasil 2014, que os investimentos em reformas de estádios seria privado, ficando a cargo do poder público as obras de infraestrutura das cidades. Já está virando balela.
Os dirigentes do futebol brasileiro não perdem tempo em jogar nas nossas costas o custo da Copa. E nós, coitados de nós!
A última polêmica em torno do assunto foi o “veto” ao Morumbi por parte da FIFA. Se inicialmente Valcke dizia que não haviam condições do estádio receber qualquer jogo da Copa, Blatter atenuou o discurso, afirmando que somente as finais e a abertura não poderiam ser realizadas.
O Secretário-Geral sugeriu que se apresentasse um projeto para outro estádio em São Paulo, e como nenhum outro poderia se enquadrar nas tais exigências, um novo deveria ser construido.
O estádio do Morumbi recebeu inúmeras críticas da FIFA
Além de tal ideia sair muito mais cara, também coloca em questão quais interesses podem estar submersos, tanto na escolha das cidades como na escolha das sedes dos jogos.
A Copa no Brasil será a primeira com 12 cidades-sede. As anteriores apresentavam 10 cidades, mas o número é muito pequeno para satisfazer a sanha de prefeitos e governadores Brasil afora.
Outra de difícil compreensão é a escolha das cidades. Onde algumas tem pouca tradição no futebol nacional e devem necessariamente construir estádios novos, cuja possibilidade de tornarem-se “elefantes brancos” é muito grande. Enquanto outras, que foram preteridas, já possuem estádios que necessitariam apenas de amplas reformas para adequação dos seus padrões.
No caso de São Paulo, não só é importante que o Morumbi receba jogos da Copa como também é fundamental que um destes seja o da abertura. Devido a grande tradição que o futebol paulista possui no cenário nacional, além do histórico do estádio do São Paulo FC, onde grandes decisões nacionais foram disputadas.
Mas ao mesmo tempo que a FIFA faz duras críticas ao Morumbi, uma legião de empreiteiras está a espreita para levantar um novo estádio, ou algumas campanhas eleitorais. Diz-se sobre um novo estádio na Marginal Tietê, que seria repassado ao Corinthians após sua utilização na Copa. Este golpe já vimos no Rio de Janeiro, onde o estádio do Engenhão foi construído para o Pan 2007 e posteriormente repassado ao Botafogo.
Segundo a entidade, além de acomodações internas, o Morumbi padece de falta de espaço para a construção de um gigantesco estacionamento nas proximidades. Mas se uma das propagandas do projeto Brasil 2014 era uma Copa sustentável, não faz sentido um estacionamento tão espaçoso. Assim como um novo estádio em um endereço onde praticamente só é possível o acesso com o uso do carro. Não bastam estádios sustentáveis, a vida dos habitantes deve também melhorar.
O estacionamento do estádio que sediou a final da Copa da Alemanha em 2006 ficava a 2 km de distância do mesmo. A França em 1998 utilizou estádios construídos para a Copa de 1938. Não se justifica em um país pobre como o Brasil a construção de mais estádios, temos outras prioridades que servem tanto à Copa quanto ao nosso cotidiano.
Para uma Copa realmente sustentável precisamos de altíssimos investimentos em transporte público coletivo. Com um sistema eficiente poderíamos conduzir os torcedores confortavelmente, a menor custo para o habitante/turista e menor agressão ao meio ambiente. Isso além de saneamento básico, atendimento de qualidade na saúde pública, dentre outros benefícios que o evento pode nos trazer.
Mas anda muito difícil continuar acreditando nas maravilhas que a CBF promete.
Cabe ao governo federal e governos municipais e estaduais envolvidos fiscalizar todo este percurso daqui até a Copa. Se farão, não se sabe.
A população ansiosa aguarda, quer seja o espetáculo, ou o tamanho da facada!
*É bancário e, diante da inabilidade para praticar esportes, passa sua vida falando deles.
Posted by Sandino at 04:24 PM | Comments (3)
outubro 02, 2009
Rio 2016: sim, nós podemos
(Editorial - Vermelho.org.br)
O Brasil viu a realização, nesta sexta-feira, 2 de outubro, de um sonho de mais de 20 anos: o sonho olímpico. A cidade do Rio de Janeiro será a sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Os jogos da paz, da confraternização universal, terão, pela primeira vez, uma cidade da América do Sul como sede. A escolha do Rio não é uma conquista apenas dos brasileiros, mas um reconhecimento de que os países pobres e em desenvolvimento podem sediar grandes eventos.
O bordão "sim, podemos", com o qual Barack Obama marcou sua vitoriosa campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos, agora foi entoado pelo presidente Lula durante a defesa do Brasil em Copenhague.
Reconhecimentos justos são importantes, e nessa hora de grande júbilo para o povo brasileiro, não se pode deixar de reconhecer que essa conquista coroa um trabalho árduo para que o Brasil pudesse apresentar uma candidatura competitiva. Os atuais governos do Rio, tanto da cidade quanto do estado, o Comitê Olímpico Brasileiro, as federações esportivas, atletas, personalidades, empresários e, especialmente, o Ministério do Esporte, comandando pelo jovem ministro comunista Orlando Silva e sua equipe, merecem todas as congratulações.
O presidente Lula também foi um ator importantíssimo, senão o mais destacado, desta boa briga pelo direito de sediar a Olimpíada. Lula empenhou-se pessoalmente na conquista de votos dos membros do Comitê Olímpico Internacional. Colocou todos os ministérios para ajudar neste esforço. O próprio Itamaraty mergulhou de corpo e alma neste desafio. Até mesmo uma parte da mídia grande, sobretudo a Rede Globo, que nos últimos anos tem se dedicado a atacar qualquer iniciativa do governo Lula, desta vez deu as mãos aos brasileiros para formar a corrente que redundou na vitória da candidatura brasileira.
Nem podia ser diferente. Pesquisa do Comitê Olímpico mostra que 85% dos cariocas aprovam a candidatura do Rio. Os outros 15% que a desaprovam --não é difícil imaginar, deve estar concentrada na mesma elite mesquinha que sente-se alijada do poder e alimenta o já caduco "complexo de vira-lata" que já não tem mais lugar num país que a cada dia se afirma como uma grande nação disposta a cumprir o presságio popular de que somos, sim, o país do futuro. São derrotistas que agora irão roer unhas e apontar uma série de obstáculos para que o Brasil possa cumprir o projeto que defendeu em Copenhague.
Mas enquanto esses derrotistas isolados lambem suas feridas, o Brasil inteiro comemora. Passada a comemoração, é mão à obra para cuidar, desde já, dos preparativos para 2016. Parte do esforço será antecipado para a realização da Copa do Mundo que iremos sediar em 2014. Mas há muita coisa para ser feita. E não será obra de um só governo, nem apenas do setor público. O desafio de fazer o Rio brilhar em 2016 é de todos os setores. O Brasil inteiro vai entrar no jogo.
Como bem registrou o ministro Orlando Silva, é um jogo que vai trazer desenvolvimento, emprego e renda, com impactos positivos em todo o País. E os jogos de 2016 vão mostrar ao mundo um País moderno, democrático, dinâmico e empreendedor. É isso que a nação espera. É para isso que iremos trabalhar. Parabéns Brasil.
Posted by Sandino at 06:40 PM | Comments (0)
Rio eu gosto de você
Sediar uma Olimpíada! Uma experiência única, culturas diferentes, diversos povos, grandes atletas, técnica... Para o mundo ver, o maior momento da história do Brasil! Naturalmente virá também mais motivação para os nossos atletas (investimentos - até mesmo pela necessidade de fazer bonito em casa e competitividade – com o aumento no número de praticantes e pleiteantes às vagas). No Pan, até a impactante bala perdida sumiu das manchetes dos jornais. O esporte já parou guerras, os Jogos podem contribuir para ações, obras e paz! Digno de registro a atitude da Arquidiocese do Rio, que convidou representantes de várias religiões para rezarem próximo ao Cristo Redentor. Durante a celebração, foram lidos trechos do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, da Bíblia e uma oração judaica. O Pai Nosso foi rezado com todos de mãos dadas. Segundo o arcebispo Dom Orani João Tempesta, uma celebração pela vitória e pela união que representa uma Olimpíada. Enquanto isso, teve gente misturando as bolas, torcendo contra o Rio de Janeiro sob o argumento que haverá desvio de dinheiro público. São coisas distintas: fiscalização e esporte. A sociedade deve fiscalizar, exigir transparência na prestação de contas. Já as Olimpíadas fazem parte da história da civilização, vamos ser contrários à realização do evento em nosso país porque não sabemos fiscalizar? Ajudaria até neste sentido, cidadania plena. Sem síndrome de vira-latas, zicando, ziquezira... Viva Rio de Janeiro! Que bacana, podes crer!
Posted by Sandino at 06:32 PM | Comments (1)
COI consagra Rio como sede da 1ª Olimpíada na América do Sul
A cidade do Rio de Janeiro alcançou um dos maiores feitos de sua história, ao ser aclamada como sede da Olimpíada de 2016. De forma consagradora, a mais famosa cidade brasileira derrotou Madri (Espanha) na disputa final, por 66 votos a 32, e foi anunciada como vencedora, na tarde desta sexta-feira (2), pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge.
Antes de Madri, o Rio já havia deixado para trás as candidaturas de Chicago (Estados Unidos) e Tóquio (Japão). “É a hora e a vez do Brasil”, vibrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que, em meio à comitiva brasileira em Copenhague, chorou com a vitória carioca. É a primeira vez que COI designa uma cidade sul-americana para abrigar os Jogos Olímpicos da Era Moderna.
Num discurso que foi considerado como trunfo para o êxito do Rio, Lula sustentou que o COI tinha o desafio de compensar uma injustiça histórica. “Essa candidatura não é só nossa. É também de um continente com quase 400 milhões de homens e mulheres e cerca de 180 milhões de jovens. Um continente que nunca sediou os Jogos Olímpicos. Está na hora de corrigir esse desequilíbrio.”
A defesa da candidatura brasileira em Copenhague foi feita em quatro idiomas. Além de Lula, também discursaram o ex-presidente da Fifa João Havelange; o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman; o governador Sergio Cabral (PMDB-RJ); o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes; o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles; e a ex-atleta Isabel Swan. O ex-jogador Pelé, o ministro do Esporte Orlando Silva, e o escritor Paulo Coelho compareceram à cerimônia.
Palco da maior final das Copas do Mundo (1950) e cidade-sede dos últimos Jogos Pan-Americanos (2007), o Rio se prepara agora para abrigar o maior dos eventos esportivos internacionais. O projeto olímpico para 2016 está orçado R$ 25,9 bilhões. “Entre as dez maiores economias do mundo, o Brasil é o único país que não sediou os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos”, disse Lula.
O presidente enumerou, ainda, os benefícios da escolha do Rio para sede dos Jogos de 2016. “Para os outros, será apenas mais uma Olimpíada. Para nós, será uma oportunidade sem igual. Aumentará a autoestima dos brasileiros, consolidará conquistas recentes, estimulará novos avanços.”
De São Paulo, André Cintra
Posted by Sandino at 06:30 PM | Comments (0)