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fevereiro 28, 2010
8 ponto 8
(Sandino)
Não chovia sobre Santiago
Não morava no exílio o poeta
Nem o general torturava no quartel
Numa madrugada pacífica
O rasgo desperta
Caiu o teto, engoliu o carro
Atravessou a cordilheira e subiu a maré
Até do outro lado sentiram o estrago
Cortou novamente o caminho
Fazer de novo... parece ser o destino.
Posted by Sandino at 01:37 PM | Comments (0)
MC5: aumenta que isso aí é mais do Rock and Roll
Formada em 1964 na cidade de Detroit por Wayne Kramer (guitarra), Pat Burrows (baixo), Rob Tyner (vocais), Bob Gaspar (bateria) e Fred "Sonic" Smith (guitarra), a banda MC5, foi precursora do garage rock e uma das primeiras a fundir a agressividade musical com idéias políticas.
O grupo iniciou suas atividades em 1964, tocando na escola e em festas, com o nome Motor City Five. O primeiro álbum do MC5, o clássico Kick Out the Jams, foi gravado ao vivo no Grande Ballroon, em Detroit, nos dias 30 e 31 de outubro de 1968. A banda celebrava a trindade sexo, drogas e rock and roll e seus shows eram totalmente incendiários, oferecendo uma resposta ao paz e amor dos hippies. No começo dos anos 2000 os remanescentes do grupo voltaram a se apresentar sob o nome de MC5 em São Paulo. Os MC5 ficam na história como um das bandas que mais influenciou a música punk,grunge, hard rock e o power pop. Obrigatório!
Posted by Sandino at 12:54 PM | Comments (0)
fevereiro 27, 2010
Posso escrever os versos mais tristes...
"...na noite do terremoto
quando no terror da terra
juntam-se todas as raízes
e ouve-se soar o silêncio
com a música do espanto..."
(Pablo Neruda)
Posted by Sandino at 06:25 PM | Comments (0)
Força Chile!
O chileno Suazo: autor dos dois gols da vitória do Zaragoza sobre o Getafe neste sábado de terremoto
Posted by Sandino at 05:40 PM | Comments (0)
fevereiro 26, 2010
Sandino Acústico (ao vivo) - "Ditadores, Putas e Doutores"
Sandino (voz e violão) numa composição própria.
Ao vivo na "Festa Rock - Jacutinga-MG 20/12/09.
Participação: Nikão (contrabaixo) e Marcelezza (Bateria)
Ditadores, putas e doutores
(Sandino)
Eu
não teria dito tudo que disse
se soubesse quem ditaria as regras
seriam os extraditados
ditas como os extraditadores!
Eu
não teria pichado aquele muro
se soubesse que meus versos
acabariam o inverso do que foi
dito pro povo!
Eu
jamais teria comido ela de novo
se soubesse que tomada
nunca foi e será
focinho de porco!
Posted by Sandino at 06:04 PM | Comments (2)
Sandino Acústico (ao vivo) - "Edmundo não joga mais aqui"
Sandino (voz e violão) numa composição própria.
Ao vivo na "Festa Rock - Jacutinga-MG 20/12/09.
Participação: Nikão (contrabaixo) e Marcelezza (Bateria)
Edmundo não joga mais aqui
(Sandino)
Eu preciso de um bom procurador
Pra vender o meu passe para o exterior
Vou jogar na Liga dos Campeões
Vender cerveja amarga e televisor
Eu preciso de um assessor de imprensa
Pra saber o que falar na hora da encrenca
Domingo eu vou na mesa redonda
Agradecer o professor e expor meu patrocinador
Edmundo... não joga mais aqui!
Edmundo... não joga mais aqui!
Vou fazer pré-temporada no Japão
Vai ter bola com a minha cara no Paquistão
Eu vou rachar o carro da Toyota
Rende mais a imagem de patriota
Posted by Sandino at 05:30 PM | Comments (1)
Las Malvinas son Argentinas
As Malvinas e a intromissão descarada
Por Bruno Peron Loureiro*
O conflito das Malvinas estimula a retomada do adágio "a união faz a força" pela irmandade da América Latina.
Em se tratando do desnível de capacidade bélica entre Argentina e Inglaterra, uma cotovelada nos vizinhos latino-americanos convoca-os a lançar o tema como de importância regional em foros vindouros.
A Inglaterra enviou a plataforma marítima "Ocean Guardian" na intenção de explorar gás e petróleo a 160 km ao norte das Malvinas, cujo arquipélago de três mil habitantes é disputado desde o século XIX pelos dois países, mas ficou sob domínio inglês desde 1833.
Os pujantes há muito controlam territórios latino-americanos e ilhas adjacentes. A Inglaterra controla as Malvinas assim como a Pangérica faz em Porto Rico e a França na Guiana Francesa. Discute-se a soberania da Argentina e o espaço de defesa da América Latina.
A estratégia do governo argentino tem sido a de dificultar a ação das empresas inglesas, que se aproximam em consequência da alta do preço de petróleo. A presidente argentina Cristina Fernández passou a exigir autorização oficial de todas as embarcações estrangeiras para que naveguem em águas do país sul-americano.
O esforço da Argentina de frear o apetite inglês é histórico. A guerra de 1982 rendeu a baixa de 649 argentinos e 255 britânicos e a derrota dos anseios de recuperação do território pelos argentinos. O governo do ex-presidente Néstor Kirchner, para citar uma ação mais atual, fez campanha pela retomada das Malvinas.
É legítima a defesa dos recursos naturais na área marítima por parte da Argentina, ao mesmo tempo em que surgem boatos inoportunos de que a presidente Cristina Fernández tentou desviar a atenção de problemas internos, como o aumento da inflação e o uso das reservas do Banco Central.
Qualquer crítica nesta direção desconsidera que os países latino-americanos estão sempre atolados nalgum impasse ou problema e que, a despeito deste diagnóstico, devem travar certames a favor da soberania e do resgate da dignidade de seus povos humilhados e avassalados.
A Argentina e a Inglaterra estão dispostas a dialogar sobre as Malvinas, apesar de a segunda dar por encerrado o debate sobre a legitimidade de sua posse sobre as ilhas, cuja renda provém boa parte da pesca.
Um conflito armado é pouco provável pelo desnível das forças envolvidas.
O litígio não impede que a Argentina alimente o seu desejo de restituição do território por meio da condução do tema a um foro latino-americano de debates envolvendo representantes políticos de tomada de decisões importantes, como o Grupo do Rio ou o Conselho Sul-Americano de Defesa, que ainda não se consolidou.
A montagem de uma estrutura própria de discussões e ações sobre temas latino-americanos por governos progressistas na região começa a surtir efeito e a chacoalhar a base que, por séculos, sustentou a ganância dos países pujantes.
A Argentina não vê opção melhor que a união latino-americana para expulsar os corsários destas latitudes de onde muito sangue jorrou sob os mandos de forasteiros. As Malvinas são uma mostra da permanência de práticas colonialistas e imperialistas.
Cercados por navios de guerra e bases militares da Pangérica, a saída do mais fraco é resistir. Em mais uma prática desestabilizadora, a Pangérica convida o Uruguai a firmar tratados de livre comércio enquanto este país é fundamental para a continuidade do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).
Embora a retórica seja a da paz, cujo prêmio Nobel foi estupidamente concedido ao estadista dúbio e infrutífero Barack Obama em função de mamulengo, a Pangérica militariza nossa região e a Inglaterra envia uma plataforma de prospecção de gás e petróleo como se fossem os donos do pedaço.
Basta de intromissão descarada.As Malvinas pertencem à Argentina.
*Analista de relações internacionais. Original ADITAL
Posted by Sandino at 05:25 PM | Comments (1)
fevereiro 13, 2010
Vancouver 2010
Pela primeira vez no Brasil a Olimpíada de Inverno está sendo transmitida em rede aberta de TV. Ontem vi a abertura dos Jogos de Vancouver- Canadá. Durante três horas, a cerimônia uniu momentos comoventes, como a entrada dos atletas da Geórgia, a outros descontraídos, como os shows musicais e as impressionantes projeções no chão do estádio. Quatro totens gigantes se ergueram no centro do estádio, e atores tomaram o palco representando os povos indígenas que habitavam o Canadá antes da colonização. Um urso polar gigante surgiu do chão iluminado, e baleias foram projetadas em telas que desciam do teto, quase tocando o chão. A lua, as árvores, os barcos... elementos diversos ajudavam a mostrar ao mundo a cultura do Canadá. Um dos momentos mais exuberantes foi quando, suspenso por fios, um garoto começou a voar pelo estádio. A platéia "virou" o céu, com nuvens projetadas sobre as arquibancadas, e o chão representava um enorme campo de trigo.
Recordo vagamente do ursinho Micha da olimpíada moscovita de 1980 - que entrou para a história pela grandiosidade de suas cerimônias de abertura e fechamento. Desde então, vi diversas cerimônias - oportunidade única para conhecermos a cultura e a história das nações. A festa de Vancouver foi impressionante. Memorável...
Um urso polar gigante surgiu do chão iluminado: o mundo pode conhecer um pouco mais sobre o Canadá
Posted by Sandino at 05:51 PM | Comments (0)
A 1ª de 100
Logo mais a noite, a Gaviões da Fiel fará a primeira grande homenagem ao centenário do Corinthians. Penso que não é preciso fazer parte de uma facção de torcida para ser um torcedor, porém sempre fui adepto a proposta de “organização” e “grupo” (quem agrega fortalece!). Mas essa é uma outra discussão...
Guardada a sete chaves, a homenagem deve ir além da paixão do torcedor, com atenção a arte e técnica. “Além de contar a história do Corinthians, vamos falar da ligação do time com a torcida, para que todos os torcedores se vejam na avenida”, explica Igor Carneiro, diretor de carnaval da escola.
Segundo o diretor, a escola, que deve levar ao Anhembi de 3,8 mil a 4 mil integrantes, teve de ser mais rigorosa nas participações. "Como é um ano especial, dava para ter mais de 10 mil pessoas desfilando. Mas daí não íamos conseguir apresentar um desfile dentro do tempo", afirma.
Carneiro explica também que o desfile irá abordar a história do Corinthians e citar eventos marcantes extra-campo, como a Semana de Arte Moderna de 1922 (ano em que o Corinthians conquistou o Campeonato Paulista que ficou conhecido por ser o do centenário da Independência do Brasil), a ligação do clube com a fé e com a democracia (representado pelo movimento da Democracia Corintiana de 1982 e 1983, quando o vitorioso time liderado por atletas como Sócrates, Wladimir e Casagrande se destacou também por defender a volta das eleições diretas e da democracia no País nos derradeiros anos de Regime Militar).
Também serão lembrados no desfile grandes conquistas da história do clube, como a Invasão do Maracanã (1976, o maior movimento de torcedores de um clube a outra cidade para acompanhar uma partida), a conquista do Campeonato Paulista de 1977 (que encerrou um jejum de 23 anos sem títulos) e o retorno à elite do futebol brasileiro, em 2008.
Para conquistar o quinto título do carnaval paulista (a escola ganhou em 1995, 1999, 2002 e 2003), a Gaviões investiu em torno de R$ 2,5 milhões no desfile. O Corinthians ajudou a escola ao destinar para o desfile parte da renda da partida contra o Flamengo, na penúltima rodada do Campeonato Brasileiro do ano passado.
Destaques
Entre os destaques do desfile da Gaviões estão ex-jogadores que marcaram época na história do clube, como Sócrates, Wladimir, Neto e o ex-goleiro Ronaldo. Do atual time, garantiram presença 11 jogadores, mas até agora não há nenhuma confirmação sobre a presença do atacante Ronaldo. Escolhido como "senhor centenário" pelo Corinthians, o ex-jogador do clube Marcelinho Carioca foi convidado, mas não deve participar do desfile.
Fundada em 1975, a Gaviões começou a desfilar como bloco. A escola tem 4 títulos no grupo especial.
"Corinthians... Minha Vida, Minha História, Meu Amor"
(Luciano Costa, Araken Quedas, Flávio Rocha, Gustavo Henrique e Junior Fionda)
Corinthians é o meu amor
Seu manto é raça e tradição
Eu bato no peito e digo pro mundo
O meu orgulho de ser Gavião
É mais que um caso de amor
Na alegria ou na dor, religião
Um sentimento que invade
A alma e não tem explicação
Nasceu da humildade, a união
De um "Bom Retiro", a inspiração
Do povo a fé para lutar
Hei de cantar
Daria a vida a você timão
Manter acesa a luz do lampião
Pra te eternizar
A bandeira a tremular
Na loucura da arquibancada
Eu sou Gavião, sou superação
Corrente forte que jamais será quebrada
Derrubou barreiras, questionou
E quem diria?
Surgiu no futebol um ideal, democracia
Explode num grito de gol
Não posso conter a emoção
Cem anos dentro do meu coração
Eu sou a garra de uma nação
Trago o sonho de ser campeão
De Jorge a força que vem lá do céu
A ti serei Fiel
Samba-enredo: Corinthians... Minha Vida, Minha História, Meu Amor
Intérprete: Ernesto Teixeira
Presidente da escola: Eduardo Fontes
Carnavalesco: Zilkson Reis
Mestre-sala e porta-bandeira: Bozó e Gi
Rainha de Bateria: Tati Minerato
Alas: 26
Componentes: 3500
Carros Alegóricos: 5
Já incluso na história do Corinthians, Ronaldo esteve prestigiando os ensaios e será um dos destaques do desfile
Posted by Sandino at 05:12 PM | Comments (0)
fevereiro 09, 2010
Na Curva do Senna...
É nóis na curva do Senna mano! O Corinthians terá mais um carro nas pistas. Depois da Formula Superliga, agora tem carro do Timão na Stock Car, em parceria com a equipe RZ MotorSport, do piloto Ricardo Zonta. Nessa temporada, serão 12 corridas, claro, com o número 100! Zonta que tem experiência e se não tivesse entrado em treta com o Villeneuve teria ido longe na F1. Na F-Superliga quem guiará na temporada será Antonio Pizzonia - outro grande piloto. Nunca antes um clube de futebol esteve na Stock Car. A estréia será em Interlagos, no dia 28 de março. Certeza!
Timão na Stock Car: mais uma novidade na comemoração do centenário
Posted by Sandino at 06:22 PM | Comments (0)
Fernando Henrique Cardoso precisa de amigos
Por Gilson Caroni Filho, na Carta Maior*
Em seu texto Luto e Melancolia, Freud diz que manifestações melancólicas assumem várias formas clínicas, se caracterizando, entre outros sintomas, "por uma depressão profundamente dolorosa, uma suspensão do interesse pelo mundo externo, diminuição do sentimento de auto-estima e inibição de todas as atividades." A identificação com o objeto perdido é inevitável e, na medida em que não consegue incorporação simbólica, o que sobra ao sujeito é a identificação com o vazio de um pai ausente.
Se a psicanálise sofre hoje contestações de diferentes ordens, as palavras do seu criador sobre o comportamento melancólico se encaixam como uma luva para o amontoado de sandices que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu e disse no último domingo (7), tentando deter e repudiar a impopularidade que o persegue desde o segundo mandato.
Há alguns anos, Carlos Heitor Cony, em artigo na Folha de S.Paulo, não poupou palavras para melhor definir o “príncipe dos sociólogos: "Diziam seus admiradores que FHC era uma cabeça, um intelectual, um produtor de coisas inteligentes. Sua exposição no cargo mais alto do país rebaixou-o à dimensão de um demagogo banal, incapaz de articular um argumento alem do insulto aos que não acreditam nele e o acusam inclusive de improbidade."
Isso é FHC. A exigência egóica de ser admirado o torna, paradoxalmente, um líder sem liderados. Um prócer a ser evitado em anos eleitorais. Para quem acredita que fez um grande favor ao mundo nascendo, sua irritabilidade é permanente e justificada. Afinal, deve ser duro para quem esteve no poder durante oito anos, constatar que o resto do mundo político não reconhece sua importância. Pior, o que ganha realce são os erros grosseiros de um dirigente que governou de acordo com os humores do capital financeiro.
Seu governo passou para a história como um modelo que acentuava a exclusão social e penalizava as classes de menor renda. A estratégia de estabilização de preços baseada na captação de capital externo de curto prazo, através da sobrevalorização da moeda e da manutenção de elevadas taxas de juros, levou o país a níveis de desemprego sem precedentes, à desarticulação da estrutura produtiva e à Deterioração do tecido social no campo e na cidade.
O mau desempenho do comércio brasileiro na época foi minuciosamente construído pela equipe de FHC que, realizando uma abertura irresponsável da economia, pôs em prática políticas monetárias e cambiais que minaram em grande parte nossa capacidade de competição internacional.
Mostrando a miopia fiscalista que o orienta até hoje, Cardoso escreveu em seu artigo (Sem medo do passado), publicado no Globo: "Esqueceu-se [Lula] dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal."
A entrega do patrimônio público ainda é apresentada como fórmula eficaz de fazer caixa. O que FHC faz questão de esquecer faz parte de sua história: grande parte do programa de privatização brasileiro foi financiada pelo BNDES. No cassino tucano, muitas empresas privatizadas não queriam fazer investimento aqui e se aproveitavam de polpudos créditos que também beneficiavam transnacionais já instaladas no país. O argumento utilizado era o de que a vinda desses setores permitiria agregar elementos de financiamento ao desenvolvimento nacional.
Quando se lê um artigo assim, descontextualizado, mal costurado em seus argumentos, é que nos damos contas da importância de olhar pelo retrovisor. É ele que sinaliza as perspectivas do futuro. Nesse ponto, o texto de Cardoso é didático, quase leitura obrigatória.
FHC sabe que a grande mídia corporativa exercerá o prestimoso papel de guiar suas mãos na hora de legitimar a irrelevância dos seus escritos. Somente os exércitos de colunistas destacados pelas famílias que controlam os meios de comunicação garantem sua vida política vegetativa.
Quando compara a ministra Dilma Rousseff a um boneco manipulado pelo presidente Lula não faz qualquer ponderação política, apenas evidencia que sua cabeça está longe de ser privilegiada. É uma mente que destila bile (que está na raiz da palavra melancolia) para desqualificar seus adversários. É o menestrel da política pequena buscando a facilidade da ribalta midiática.
Antes de dizer que “o PT “tenta desconstruir o seu mandato”, o ”príncipe” deveria dedicar mais tempo à leitura do que andaram falando sobre seu governo as principais lideranças do seu partido, em especial o governador de São Paulo. Uma boa sugestão seria o livro “Conversas com Economistas Brasileiros II", que a Editora 34 lançou em 1999. Lá ele encontraria o seguinte trecho:
“A política cambial do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso foi um desastre gratuito e total. Foi resultado de pouca reflexão analítica de seus condutores. Suas conseqüências foram devastadoras em muitas áreas da economia, inclusive comprometendo as metas fixadas no processo de privatização."
Essa crítica, das mais contundentes feitas por um economista que participou dos dois mandatos do governo FHC, é de José Serra em entrevista a dois professores da FGV, Guido Mantega e José Márcio Rego. E agora, quem é o boneco de quem? Nem mesmo um governador que submergiu com as enchentes em São Paulo, levando com ele a suposta capacidade gerencial do tucanato, pôde endossar a política arrasada do ex-presidente. O que esperar da oposição? A compaixão que deve ser concedida aos incapazes?
As palavras do ex-presidente devem ser vistas como movimentos de descompressão da realidade. Quando, a partir da melancolia e solidão de sua maturidade, um ator político faz a volta à infância, o ridículo se apodera do cenário. Fernando Henrique precisa de amigos.
* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.
Posted by Sandino at 12:38 PM | Comments (1)
Em defesa dos Direitos Humanos
Por Margarida Genevois*
Há uns anos atrás, na década de 90, ouvi na TV, durante campanha eleitoral, um candidato a deputado dizer: "Se eu for eleito, vou combater os direitos humanos". Este absurdo inacreditável, que em qualquer sociedade democrática seria repudiado, aparentemente não causou maiores comoções; entre nós, Direitos Humanos (DH) eram - e ainda são - lamentavelmente mal entendidos, por desinformação ou má fé. Para muitos, DH eram considerados como "direitos de bandidos" ou artimanhas dos "subversivos". No período da ditadura militar, a repressão (assassinatos, torturas, "desaparecimentos") atingiu opositores membros das classes médias, como professores e estudantes, advogados e jornalistas, artistas e religiosos, além dos suspeitos de sempre, como ativistas e sindicalistas da cidade e do campo. A maioria, que nunca tinha visitado prisões, passou a sentir na pele a situação desumana dos ditos "presos comuns", estes oriundos das classes populares. Passou também a constatar a tragédia do sistema prisional e a inoperância dos órgãos do judiciário. A partir daí, a defesa dos direitos humanos passou a ser confundida como luta pelos direitos dos presos, e não em nome da dignidade de toda pessoa humana, conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a grande conquista moral do século XX diante das atrocidades cometidas durante a segunda guerra mundial.
Os defensores dos DH foram testemunhas da forma como foram torturados os opositores do regime de exceção, instaurado em 1964, e os presos políticos. Ficamos conhecendo o pau de arara, a cadeira do dragão, sufocamentos, queimaduras com cigarros, afogamentos. Evidentemente, tais notícias não saíam nos jornais, eram contadas pelos advogados, por parentes das vítimas. Mas a maioria das pessoas simplesmente se recusava a acreditar e dizia: "Isso é mentira, coisas de extremistas. O brasileiro é profundamente bom - nunca faria essas barbaridades".
Com o processo de democratização em andamento, as entidades da sociedade civil mais atuantes no campo dos DH, assim como ex-presos políticos e familiares - movidos por convicção de justiça, por sentimentos cristãos ou por ambos - passaram a concentrar sua luta na defesa dos direitos de todos, sobretudo daqueles "que não têm voz", a começar por aqueles esquecidos e mal tratados nas delegacias e nas prisões. O reconhecimento da dignidade da pessoa humana, independentemente do crime e do julgamento moral, é o fundamento da defesa. Os que cometem crimes devem ser julgados de acordo com a lei e, se condenados, devem cumprir a pena, mas não podem ser torturados e humilhados.
Passadas mais de duas décadas - e já 10 anos no novo século - a questão dos direitos humanos ressurge com a polêmica provocada pelo PNDH 3. Hoje não mais se diz cruamente que DH são direitos de bandidos; de certa forma, é sabido que DH são exigência da democracia, são direitos amplos para uma vida digna a todos, e não apenas para uma minoria privilegiada: direitos civis e liberdades individuais, direitos sociais e econômicos, direitos culturais e ambientais. Isto é, saúde, educação, moradia, segurança, trabalho, seguridade social, lazer, participação política, informação e comunicação.
O Programa Nacional de Direitos Humanos 3 abrange o conjunto desses direitos, dando ênfase a situações específicas dos grupos mais vulneráveis na sociedade, como crianças e adolescentes, deficientes físicos, idosos, indígenas, trabalhadores rurais, migrantes, negros e as demais vítimas de preconceitos por orientação sexual ou condição social.
Ao que parece, as propostas do Programa -na sua maioria já afirmadas na Constituição de 1988!- incomodam, pois provocaram reações raivosas até mesmo de algumas pessoas bem informadas, no meio jurídico, na academia, na política, nos meios de comunicação. Ficamos com a impressão de que certas pessoas ou grupos temem ser prejudicados se os direitos dos outros forem respeitados.
Na verdade, pouca gente leu o Programa, o que não impediu que o acusassem de ser "ditatorial". A maioria dos opositores não sabe ou continua sem querer saber que a preparação do texto decorreu do processo de 27 encontros em 20 estados, com diferentes segmentos representativos da sociedade civil. As conclusões desses encontros, exaustivamente discutidas, foram levadas à 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos em Brasília, em dezembro de 2008.
É importante lembrar que este novo Programa dá continuidade aos dois primeiros, publicados e iniciados no governo de Fernando Henrique Cardoso (1996 e 2002), mas pouca gente por eles se interessou. Hoje, em ano eleitoral, a questão dos direitos humanos entra no jogo das disputas partidárias. Ora, Direitos Humanos estão acima de partidos e interesses particulares, são a base da paz, da justiça e da democracia.
A criação da Comissão da Verdade vem sendo duramente criticada. Durante a ditadura militar cerca de 400 brasileiros foram mortos ou estão desaparecidos. Suas famílias procuram, até hoje, onde eles foram sepultados. Esses crimes não podem ser esquecidos. Se a verdade não vier à tona ficará a idéia de que os militares têm medo e preferem proteger um grupo extremado que torturou e matou. As respeitáveis Forças Armadas, das quais nos orgulhamos, não podem ser respingadas com crimes de alguns, a verdade tem que aparecer.
Comissões da Verdade foram criadas nos países irmãos, onde também imperaram ditaduras militares; aqueles responsáveis pelas violações de direitos humanos foram identificados, muitos foram julgados e condenados. Por que só no Brasil não podemos conhecer a verdade? Não se trata de "revanchismo" - como a crítica alega - pois cabe à Comissão apenas conhecer os fatos e não retribuir o mal que foi feito, sendo que eventuais punições, rigorosamente dentro da lei, caberão ao Poder Judiciário.
O PNDH é um programa para alcançarmos "uma sociedade livre, justa e solidária", como afirma o art. 3º de nossa Constituição. Suas propostas se coadunam com as metas do milênio propostas pela ONU, visando diminuir a miséria do mundo. O PNDH identifica e enfrenta problemas sérios da nossa sociedade, com coragem e determinação. É obrigação moral de todo cidadão brasileiro, que quer o bem do seu país, conhecer, debater, ampliar essas propostas e lutar pela sua execução.
* Socióloga e ex-presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo
Posted by Sandino at 12:24 PM | Comments (0)