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junho 12, 2010
Pausa no futebol para uma versãozinha...
Pálidos Olhos Azuis (Pale Blue Eyes)
(Lou Reed - Versão Sandino)
Às vezes me sinto tão leve
Às vezes me sinto tão down
Às vezes me sinto tão leve
Mas quase sempre você me deixa mal
É você quem me deixa mal
Eu insisto, em seus pálidos olhos azuis
Eu persisto, em seus pálidos olhos azuis
Vamos fugir para o alto da montanha
Podemos morar numa cabana
Penso em você em quase tudo
Você já foi minha, mas não está aqui
Foi minha, mas não está mais aqui
Eu insisto, em seus pálidos olhos azuis
Eu persisto, em seus pálidos olhos azuis
Se pudesse respirar um ar mais puro
Às vezes vejo coisas estranhas
Eu vejo você no meu espelho
Aqui na frente, brilhando...
Dançando na frente do espelho
Eu insisto, em seus pálidos olhos azuis
Eu persisto, em seus pálidos olhos azuis
É legal você não ligar pra dinheiro
Só que também não sabe o que quer
Gosta de contrariar e estriguinar
Se está calor você sente frio
Se é pra descer, você quer voar
Eu insisto, em seus pálidos olhos azuis
Eu persisto, em seus pálidos olhos azuis
Foi muito bom o que rolou ontem à tarde
E eu faria tudo de novo
O fato de ser casada
Não impede você de ser amada
Baby...estamos presos num delicioso pecado
Toca o barco, pálidos olhos azuis
Enfeitiçado nos seus lindos olhos azuis
Posted by Sandino at 05:29 PM | Comments (1)
junho 10, 2010
PERSONAGENS DA ÁFRICA DO SUL
Steve Bantu Biko (18 de dezembro de 1946 - 12 de setembro de 1977)
Personagem de destaque na oposição ao Apartheid sul-africano, durante a década de 60, Steven Biko é uma das figuras mais proeminentes do século XX, na defesa dos direitos humanos. Jovem ativista negro, foi dirigente estudantil e fundador do Movimento Consciência Negra . Nasceu a 18 de Dezembro de 1946, em King William’s Town, próximo da Cidade do Cabo, no extremo sul da África do Sul.
Fez uma importante e expressiva campanha em prol da recuperação da auto-estima de seus compatriotas ao liderar protestos que tinham como principal bandeira o slogan “Black is beautiful”.
Um 18 de agosto de 1977, Biko foi preso junto com o seu companheiro Peter Cyril Jones, sob a acusação de desobediência às leis do apartheid. Ficou detido por 24 dias e foi barbaramente torturado em uma prisão em Port Elizabeth. Em 11 de setembro, foi transferido para a prisão central de Pretória, onde morreu no dia seguinte, com 30 anos. O governo do apartheid apontou que ele havia morrido por conta de uma extensa greve de fome.
Posted by Sandino at 06:25 PM | Comments (0)
Maracanazo: a ferida indolor
Por Daniel Ilirian - originalmente publicado no Vermelho
A provocação irônica do curta-metragem produzido em 1988, por Ana Luíza Azevedo e Jorge Furtado, é a de que na tentativa do já maduro torcedor de voltar aos tempos de sua infância para mudar o resultado da final da Copa de 1950, acaba por desviar a atenção do arqueiro que não vê o chute do atacante uruguaio e a bola acaba por morrer em sua rede, da mesma maneira como ficou na História. O alento que a fantasia poderia trazer se choca com a frieza que os fatos não apagam.
A Copa do Mundo realizada no Brasil foi a primeira depois da Segunda Guerra Mundial e em especial ocorre no país após o Estado Novo, quando Getúlio Vargas implantara uma ditadura. A construção do estádio Mário Filho, o Maracanã, iniciada em 1948 e a sua inauguração em junho de 1950 foi um marco de grandes obras iniciado no governo Dutra, cuja intensidade aumentaria na volta de Vargas ao poder numa política que ficou conhecida como desenvolvimentismo nacionalista e provocou um grande crescimento industrial modificando consideravelmente a infra-estrutura brasileira, porém sem conseguir resolver os graves problemas sociais.
O desenvolvimentismo nacionalista foi em sua essência uma ilusão de progresso vendida à sociedade brasileira. E foi com esta mesma ilusão, vivida a partir dos anos cinquenta, que o torcedor brasileiro se dirigiu ao recém construído estádio carioca, na tarde de 16 de julho de 1950, para assistir ao último jogo da Seleção que até então aplicara duas goleadas contra Espanha e Suécia, que ao lado de Inglaterra, Suíça, Itália e Iugoslávia, foram os representantes do continente europeu, juntos ao EUA, México, Paraguai, Bolívia e Chile, para a realização do maior evento esportivo do planeta.
Brasil e Uruguai chegaram à partida decisiva sendo que os anfitriões jogavam por um simples empate para levantarem o caneco. O resultado todos já sabem. O Brasil era amplo favorito devido aos espetáculos que a equipe proporcionara até o jogo decisivo. O Uruguai, porém , não ficava para trás com um elenco de jogadores campeões nacionais em sua base. Friaça, jogador do Vasco da Gama, abria o placar que aumentaria a vantagem brasileira. Porém, a dupla uruguaia, Schiaffino e Ghiggia, tratou de enterrar o sonho da conquista do primeiro mundial. O bravo goleiro Barbosa, considerado como um dos maiores da história, ficou marcado pela derrota, acusado de falhar em ambos os gols. Certamente uma injustiça cujo desabafo Barbosa fez anos depois em entrevista. Porém, a questão levantada principalmente quando temos no horizonte próximo a realização de uma nova Copa do Mundo no Brasil em 2014, é de que com os parcos registros de imagens existentes sobre o Maracanazo, cuja esolução é muito ruim, considerando obviamente os recursos que havia na época, como ter alguma dimensão do que realmente significou a derrota para o Uruguai?
Se o futebol tem na paixão a sua essência, fica praticamente impossível, principalmente para quem não viveu este período, ainda mais considerando a grande parcela de jovens que hoje constitui a população brasileira, conseguir minimamente se sensibilizar com a enorme frustração sentida pelos torcedores durante aquele jogo. Os números, jogos, resultados e escalações das equipes são informações que soam apenas como conhecimento semelhante ao que uma criança possa ter sobre a Conquista da América, sem que haja qualquer identificação com o fato.
Por isso, voltamos ao torcedor fictício que viaja no tempo, e assim fazemos justiça à dramaticidade que o curta nos oferece e permite aquilo que as imagens e registros reais não deixam: chorar pela derrota brasileira.
Na toada de sentimentos opostos como a alegria e a tristeza, tão intensos como o espetáculo do futebol é capaz de proporcionar ao torcedor, a Copa de 1950 se torna algo realmente insosso e indiferente. No entanto, fica para a geração atual, enquanto degusta a Copa de 2010, a possibilidade de testemunhar o evento em 2014, pensando em tudo o que já se disse sobre o Maracanazo e no significado que se procurou dar a ele e daí então poder de fato ressignificar a história e quem sabe, com um desfecho mais feliz.
A seleção do Uruguai de 1950: destaque para Schiaffino e Ghiggia
Posted by Sandino at 02:25 PM | Comments (0)
TOP 10
Os 10 maiores artilheiros em Copas do Mundo pela seleção
1. Ronaldo 15 gols
2. Pelé 12 gols
3. Ademir Menezes 9 gols
4. Jairzinho 9 gols
5. Vavá 9 gols
6. Leônidas da Silva 8 gols
7. Rivaldo (foto) 8 gols
8. Bebeto 7 gols
9. Careca 7 gols
10. Rivellino 6 gols
Os 10 maiores artilheiros da história da seleção brasileira
1. Pelé 95 gols
2. Ronaldo 67 gols
3. Zico 66 gols
4. Romário 56 gols
5. Bebeto 44 gols
6. Rivellino 43 gols
7. Jairzinho 42 gols
8. Leônidas da Silva 38 gols
9. Rivaldo 38 gols
10. Ademir Menezes 37 gols
Rivaldo brilhou na Copa do Mundo de 2002
Posted by Sandino at 02:16 PM | Comments (0)
O jogo mais polêmico das Copas
Argentina 6x0 Peru
(Jogango em casa, a Argentina precisava de 4 gols para ir a final e ganhou de 6x0)
Data: 21/06/78
Estádio: Rosário
Público: 37.315
Árbitro: Robert Wurtz.
Gols: Kempes (21); Tarantini (43); Kempese (46); Luque (50); Houseman (67) e Luque (72).
Argentina: Fillol, Olguin, Luis Galván, Passarella, Tarantini. Larrosa, Gallego (Oviedo), Kempes, Bertolini (Houseman). Luque e Ortiz. Técnico: Menotti.
Peru: Quiroga, Chumpitaz, Duarte, Manzo, R. Rojas. Cueto, Velásquez (Gorriti), Cubillas, Munante. Quesada e Oblitas. Técnico: Calderón.
Posted by Sandino at 01:50 PM | Comments (0)
O gol mais bonito das Copas
Um dos gols de Maradona contra a Inglaterra em 86 (o outro foi com a mão). Narração do histórico e folclório Victor Hugo Morales. Considerado o gol mais bonito das Copas.
Posted by Sandino at 01:35 PM | Comments (0)
Gigantes do futebol esquecidos pelos deuses da bola
Por Humberto Alencar
Na memória de muitos brasileiros está a Seleção do Mundial da Espanha, de 1982. Zico era um dos craques daquela equipe e disputava sua segunda Copa do Mundo, após jogar a da Argentina em 1978, na qual teve uma participação mediana.
Sócrates era um dos líderes da equipe. Um craque que foi um dos mentores da famosa Democracia Corinthiana, um movimento político dentro do futebol que marcou época no final do regime militar brasileiro.
Era um dos pilares de sustentação do meio campo do time mágico de 1982. O outro pilar era Falcão, meio campo do Internacional de Porto Alegre, que tinha personalidade forte e uma técnica apuradíssima.
Os três jogadores são elementos chaves do que ficou conhecido na história dos mundiais como "A Tragédia do Sarriá". Nome do acanhado estádio do Español (clube que na época ainda tinha um nome castelhano e não catalão, como hoje) que recebeu o último jogo do grupo 3 na segunda fase. Brasil e Itália jogavam por uma vaga na semifinal do torneio. Bastava um empate ao Brasil.
No seu primeiro jogo da segunda fase, o Brasil derrota a Argentina por 3 a 1 eliminando os rivais sulamericanos. O resultado lhe dá a vantagem de empatar o jogo contra a Itália para passar às semi-finais da competição. Os italianos haviam vencido a Argentina por 2 a 1.
Logo aos cinco minutos Paolo Rossi inaugura o placar. Em seguida, Zico é agarrado na área por um defensor italiano, tem sua camisa rasgada, mas o árbitro não vê o pênalti. Com um passe de Zico, Sócrates empata aos 12 minutos.
Desentrosado, Cerezo faz um passe trágico para o meio do campo, aproveitado por Paolo Rossi, que dispara livre rumo ao gol de Waldir Perez para acertar uma bomba e fazer 2 a 1 aos 25 minutos.
No segundo tempo brilha a estrela de Falcão. O astro catarinense é um dos raçudos com técnica e talentos de sobra. É dele que sai o petardo que quase fura a rede do pequenino estádio aos 23 minutos do segundo tempo.
Empate em dois gols classificaria o Brasil, mas o gostinho da calssificação só durou mais seis minutos. Paolo Rossi faz mais um, aproveitando um escanteio.
Oscar, um heroi de segundo escalão do panteão de craques brasileiros, desfere aos 42 minutos uma cabeçada à queima roupa que o veterano arqueiro Dino Zoff coloca para escanteio. A tragédia do Sarriá termina com um amargo 3 a 2 para a Itália.
Zico, Sócrates e Falcão tiveram mais uma oportunidade na Copa do México de 1986, mas o futebol mágico já não era tão mágico assim e os três estavam não muito bem fisicamente. Na eliminação do Brasil, Careca fez o gol inaugural contra a França aos 18 minutos. Platini empatou aos 40 minutos do primeiro tempo. Era o primeiro e último gol que Carlos, o arqueiro brasileiro, levava na Copa.
Zico, se recuperando de lesão, entra no jogo, toca na área para Branco, que sofre pênalti ao ser derrubado pelo goleiro Bats. Ainda frio, Zico perde o pênalti que classificaria o Brasil e ainda manteria a chama da conquista acesa para esses três gigantes.
Nas disputa de pênaltis, Júlio César bate para fora e o goleiro Bats defende o chute de Sócrates. Platini erra sua cobrança mas a França desintegra o sonho de Zico, Sócrates e Falcão, vencendo por 4 a 3..
Johan Cruyff
Um dos casos mais cruéis de desdém dos "deuses da bola" para com esses gigantes foi o do holandês Johan Cruyff, astro mais brilhante da Laranja Mecânica, como ficou conhecida a equipe holandesa, que maravilhou o mundo na Copa da Alemanha de 1974.
A desilusão para Cruyff foi perder por 2 a 1 a final da Copa para o mediano mas forte time alemão, depois de ter eliminado em Dortmund os brasileiros tricampeões mundiais com um clássico 2 a 0.
O ex-jogador do Ajax e do Barcelona se recusou a participar do Mundial da Argentina em 1978, porque o país estava sob uma cruel ditadura militar. Sua seleção voltou a disputar o título e voltou a perder. "Cruyff era melhor jogador, mas eu fui campeão do mundo", disse o alemão Franz Beckenbauer, referindo-se aos comentários sobre a injustiça do título de sua Alemanha sobre a Holanda no campeonato de 1974.
Cruyff se recusou a participar do Mundial da Argentina em 1978, porque o país estava sob uma cruel ditadura militar
Michel Platini
Michel Platini e Marco Van Basten tampouco venceram um Mundial, mas tiveram um pequeno prêmio de consolo vencendo os Campeonatos Europeus de Seleções de 1984 e 1988, respectivamente.
Hoje presidente da federação europeia, a UEFA, Platini liderou uma fantástica seleção francesa, que chegou às semifinais dos mundiais da Espanha em 1982 e do México em 1986, mas que em ambas as ocasiões se deparou com um o moedor de carne alemão.
Muitos especialistas afirmam que as equipes francesas dessas duas copas do mundo eram muito superiores à que foi vitoriosa na Copa de 1998, na França.
Em 1982, na cidade de Sevilha, a França de Platini vencia a Alemanha por 3 a 1 na prorrogação, mas a Alemanha acabou empatando e vencendo a disputa nos penais. "Se o Mundial fosse disputado de dois em dois anos, entre 1982 e 1986 a França o teria vencido duas ou três vezes", lamentou tempos depois o astro francês.
A França venceu a Eurocopa de 1984, em Paris, derrotando na final a Espanha por 2 a 0, com gols de Platini e Bruno Bellone. O astro francês marcou nove tentos naquele torneio.
Platini liderou uma fantástica seleção francesa
Marco Van Basten
Van Basten, por sua vez, venceu a Eurocopa de 1988 na Alemanha, marcando um total de cinco gols, sendo que três deles foram contra a Inglaterra. Fez um gol nas semifinais e um outro na final contra a União Soviética.
Entretanto, no Mundial da Itália, em 1990, a pálida seleção laranja caiu diante da Alemanha, futura campeã, na segunda fase.
Van Basten, venceu a Eurocopa de 1988 na Alemanha
Paolo Maldini
Paolo Maldini jogou quatro mundiais pela Itália, entre 1990 e 2002, sem obter nenhum título, apesar do vice na copa dos Estados Unidos, perdendo para o Brasil nos pênaltis e sendo eliminado nas semifinais na Copa realizada em seu país. Em 1990, a Itália foi eliminada em Nápoli pela Argentina de Maradona, nos pênaltis. Maradona, na época, era jogador do time local e muitos napolitanos disseram ter torcido para os argentinos.
Em 1998 a Itália de Maldini também foi eliminada nos pênaltis, dessa vez para a dona da casa, a França, nas quartas de final. Em 2002, com a estranha e caótica arbitragem do equatoriano Byron Moreno, Maldini viu seu sonho de erguer a taça desfeito de vez, caindo diante da anfitriã Coreia do Sul, por causa de um controvertido pênalti.
Paolo Maldini jogou quatro mundiais pela Itália, entre 1990 e 2002
Outros gigantes que deixaram o futebol sem um título mundial foram o goleiro espanhol Ricardo Zamora, que nada pode fazer diante da Itália de Benito Mussolini em 1934, o soviético Lev Iáchin, considerado o maior goleiro de todos os tempos, o húngaro Ferenc Puskas, que perdeu a final de 1954 para a Alemanha Ocidental e os espanhois Paco Gento, em 1962 e Luis Suárez, em 1966.
Capítulo especial merece o hispano-argentino Alfredo Di Stéfano, que sequer disputou um Mundial. O então jogador do Real Madrid disputaria a Copa do Chile, de 1962, mas uma lesão às vésperas do torneio o impediu de trajar a camiseta vermelha da Fúria espanhola.
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Futebol, entre as torcidas e a guerra resta a grande arte
Por Enio Squeff - Originalmente publicado em Carta Maior
A Copa do Mundo vai começar e os bilhões de pessoas que irão assistí-la, talvez espantem o futuro: na hipótese de que ela não provoque uma hecatombe - uma guerra que se estenda do campo às torcidas; e delas às cidades e aos mundos - fica sempre a alternativa, também como suposição, de que o futebol dirima as dúvidas e algumas dívidas.
Lênin e Napoleão adoravam xadrez: nunca acolheram as possibilidades de que se satisfizessem com o jogo, antes de se jogarem às guerras reais; ou de que, em princípio, aceitassem as guerras dos jogos, como realidades e não simulacros das próprias. No tempo da ditadura aceitavam-se as duas. O ditador Garrastazu Médici era quase fanático pelo futebol; não se pode dizer que desprezasse a tortura, ou que não encarasse os tiros de verdade, como a outra forma de dirimir as dúvidas que a oposição consentida tentava lançar a sua política.
Mesmo assim, o futebol não é o pior que mobiliza tanta gente no mundo inteiro - dos israelenses aos palestinos, ou mesmo dos europeus da OTAN, aos afegãos talebans que se têm, mutuamente, como inimigos figadais. É de se perguntar se nos dias das partidas, os dois lados buscarão uma trégua para não terem de se incomodar com outra coisa do que torcer para seus respectivos times que estarão em campo. A maior parte dos homens responsáveis pelas guerras, ou senhores dela digamos, têm como certo que o futebol é uma loucura alienante, até perigosa: prefeririam que seus homens e mulheres estivessem a fazer coisas mais sérias do que berrar ao gol da sua equipe. Melhor seria, quem sabe, que pegassem nas suas armas e saíssem a cumprir sua obrigação. Com muito melhores razões, é o mesmo que dizem certos homens de negócios: há uma infinidade de automóveis, de calças jeans ou mesmo de cervejas e de camisetas (inclusive da seleção), a serem fabricados no período dos 90 minutos de cada jogo - eliminem-se, portanto, as disposições em contrário.
No entanto, os EUA talvez sejam o único país da terra que nem sonham em dispensar empregados para verem a Copa. O mesmo não se pode dizer de outros países, muito menos do Brasil. O fenômeno tem suas razões sociais ou de loucura coletiva como se queira, mas deve haver explicações para a loucura do futebol.
Anos atrás, ainda no tempo da Ditadura, o jornal "O Estado de S.Paulo" tentou uma explicação para o fenômeno; chegou a reunir alguns intelectuais, em entrevistas, como o comentarista esportivo gaúcho, Ruy Carlos Ostermann - que na época era também professor de filosofia, autor de livros - Luis Fernando Veríssimo, e alguns mais. O resultado não chegou a lugar nenhum- mas o compositor Gilberto Mendes, que há anos mora em Santos, e que lecionou durante muito tempo na Universidade de São Paulo, em vez de dar uma resposta, escreveu uma música "Santos Football Music". Não teve sucesso em campos de futebol, mas foi amplamente aplaudido em salas de concerto.
O uso de gravações de locutores esportivos, a irradiarem partidas, além da participação do público a aplaudir ou a vaiar, foram sempre apreciadas nas muitas apresentações que sua obra mereceu. Só em Varsóvia, durante um dos mais importantes festivais de música contemporânea do mundo, obteve um sucesso estrondoso. No final da peça, o regente empunha uma bola que está no pódio, e dá um cabeçada em direção aos músicos da orquestra - coisas do teatro musical, mas que, para os estrangeiros, que se divertiram ( e ainda se divertem a cada execução da peça), passou, de qualquer forma, como "coisa de brasileiro".
O professor José Miguel Wisnick, da USP, escreveu, há pouco, um livro a respeito do futebol. Menciona-se o mestre, porque a sua inteligência deve ter respondido em parte à pergunta sobre esse sucesso de uma modalidade esportiva que, de qualquer forma, continua um mistério.
Igualmente importante, mas bem anterior, foi um livro escrito por um filósofo alemão; título da obra:"O futebol como ideologia", Não chegava a ser uma diatribe contra o esporte que ele, já então, sabia ser o mais popular do mundo, mas discutia a relação entre o futebol e o mundo capitalista: o "ludopédio" como o inventou um filólogo brasileiro de gosto duvidoso- para o qual o jogo (ludo, do latim ludus), a ser disputado com o pé ( do latim, pes, pédis) seria a tradução mais adequada para a expressão inglesa, "football - traduziria, na paixão das massas, a completa submissão ao mercado, para aquilo que haveria de mais oficialesco e alienante.
É uma discussão que dá muito pano pra manga. De um esporte jogado com os pés e não com as mãos, o que avulta é, sobretudo, a habilidade artesanal. Num mundo onde o artesanato é cada vez mais relegado, graças aos computadores que levantam máquinas, que desenham o mundo por nós, que corrigem nossos erros ou empurram robôs, o fascínio por um esporte que exige um enorme desforço físico - um domínio sobre uma esfera que erra por sua condição de bola de couro- parece ter o dom de inflamar os corações mais que tudo o que se possa imaginar.
No mais, o número de atletas nele envolvidos, torna-o o esporte mais próximo da vida, justamente por mais democrático: não vence o mais forte- e se o vigor tem importância, não tem o suficiente para poder se sobrepor ao mais fraco. As regras são claras e equânimes: vale para todos a punição aos atos mais violentos. E não se descarte o muito de balê que o futebol guarda em si: os passos milimetricamente calculados, imbuem-se, de fato, de uma precisão de dança. Não há como fugir ao embate, completar o drible ou mesmo a disputar uma bola - sem que a elegância do gesto se construa nos pródromos das regras. Há muito mais, enfim, o que, em última análise, não desvenda muito. "A música diz por mim" teria explicado um compositor aos que lhe cobravam uma relação com a sua obra. Na grande jogada, o futebol explica-se por si mesmo. E fala pelo jogador ou por alguns deles em conjunto.
Paráfrase da vida? Pode-se, realmente, voar ao infinito. O homem que joga com uma bola nos pés, tem a seu favor a sua humanidade: só o homem dispõe-se ao lúdico, ao jogo pelo jogo. Liszt ao piano e Paganini ao violino, esses virtuoses que levaram o domínio dos instrumentos a exigências incríveis, inimagináveis, julgavam, com razão, que a posteridade os agradeceria por poderem demonstrar o quanto um mote - a justificativa da música, digamos - lograva o tudo que eles faziam, a deixar em aberto que outros poderiam até superá-los, mas só depois de fazerem o mesmo que eles. Prestidigitadores da música, dizia-se. Não era bem assim, já que a música persistia. O mesmo se pode dizer dos jogadores de futebol: há uma meta a ser atingida, o gol, a vitória - essas coisas que os torcedores querem para a sua equipe: mas quem disse que o homem aqui dispensa o mero virtuosismo?
Houve um anticlímax no anúncio da lista de jogadores brasileiros para a copa do mundo deste ano na África do Sul. Ambos os participantes da equipe técnica do Brasil falaram em "patriotismo". Deram às torcidas o nome que a sua paixão justificaria. Tem o jeito de, afinal, ser isso mesmo: se as razões que nos fazem torcedores da equipe de nossos países, são diferentes daquelas que impulsionam milhões a gritar os nomes de seus times de preferência - que outra palavra define a mobilização de bilhões, com as respectivas bandeiras a pular e a gritar, quando não a soltar rojões, promover buzinaços e sair às ruas em euforia a cada vitória? Um grande jornal, em contraposição ao que disseram os técnicos, chegou a sacar as tirada de Samuel Johnson sobre o patriotismo: como dizia e repetia o falecido jornalista Paulo Francis, a citar o grande historiador e lingüísta inglês, o patriotismo seria a última justificativa dos canalhas. É uma boa tirada - mas é difícil definir de outra forma a paixão a que são levados os homens do mundo em torno da paixão pelo futebol. Parece preferível o patriotismo num pacífico jogo de futebol, do que aquele a que não fogem os soldados, com armas ensarilhadas, a invadirem países e a se matarem nem sempre de maneira explícita, em nome da pátria, mas sempre a terem o tal patriotismo como bordão.
Admira, aliás, que a palavra não tenha sido usada durante a ditadura militar. Parece que a má consciência dos militares que nos encilharam, guardava-se de não cair num lugar-comum - na obviedade, na verdade - de que um jogo de futebol pode ser um substitutivo de muitas coisas - entre elas a de considerar inimigos de morte aos que não pensam como nós. Ou que, por ventura, nasceram em outros países. E que se animam com a idéia de verem desfraldadas as suas bandeiras nos finais de um torneio mundial de futebol.
Em 1969, Honduras e El Salvador foram à guerra depois de uma partida de futebol entre as seleções dos dois países. O episódio ficou conhecido como "Guerra do Futebol" e tudo teria começado depois que a seleção de El Salvador venceu a de Honduras por 3 a 2. Houve protestos, fechamento de fronteiras, declaração de guerra e alguns milhares de mortos, de ambos os lados. Aparentemente uma guerra entre duas torcidas que envolveram os respectivos exércitos. Na verdade, em função da repressão dos militares que deram um golpe de estado em seu país, os salvadorenhos vinham há muito disputando empregos em Honduras, já que não tinham terras para trabalhar em El Salvador. O futebol foi apenas o pretexto que faltava para uma tensão entre duas comunidades pobres. Que além de tudo, tiveram de amargar o que, na época era uma novidade tragicômica: morrer por causa do futebol.
Hoje isso é corriqueiro - mas há que se admitir, que falar de patriotismo a propósito de uma copa do mundo, talvez não tenha nada de refúgio de canalhas - é isso mesmo. Ou será que quando sãopaulinos matam corintianos e esses aos palmeirenses, e colorados que matam gremistas e vice-versa, nessas disputas de morte entre torcidas têm esses torcedores outra razão do que... do que é mesmo?
A propósito, um dos treinadores da seleção brasileira, disse na coletiva em que anunciou os convocados, que não sabia se a ditadura brasileira tinha sido má ou ruim. Explicou que era menor de idade na época, e que, como admitiu aos jornalistas, é um homem que não tem cultura. Supõe-se que parece ter levado ao pé da letra o ditado de que ao sapateiro não convém ir além das sandálias. Talvez lhe devessem esclarecer que ler apenas o noticiário esportivo dos jornais e revistas (mesmo que brasileiros), não absolve ninguém da pecha de iletrado, muito menos o justifica como inconseqüente - o que é gravíssimo para alguém que lida com o inconsciente de milhões ou até de bilhões de pessoas.
Insólito, para dizer pouco.
Em 1969, Honduras e El Salvador foram à guerra depois de uma partida de futebol
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Futebol e política
Por Idelmar de Paiva*
Este ano promete ser festivo e agitado. Além de copa do mundo tem eleições. Mas vale salientar que os brasileiros, mesmo a despeito da carranca e da teimosia de Dunga, preferem de longe o futebol à política, cada vez mais repetitiva e inócua. Dunga é deveras chato – andar de orangotango, cabelo de porco espinho e cara de Schwarzeneger. Mas política anda mais intolerável ainda, se bem que fundamental.
É de se perceber que o primeiro semestre de cada ano é mais pródigo em acontecimentos e feriados, para a felicidade de nosso povo afeito às comemorações e às folgas. No serviço público, chegamos a criar um novo instituto, passível de ser denominado “emendação”, qual seja o ato de transformar um dia útil em inútil quando certo feriado cai na terça ou na quinta feira. Feriado caiu na terça, emenda-se com a segunda; caiu na quinta, emenda-se com a sexta.
No segundo semestre parece que tudo se aquieta, exceto nos anos de eleições, quando a mídia só fala em tendências e os candidatos vociferam os lugares comuns à procura de votos dos eleitores desinformados, acostumados principalmente com a mediocridade da programação televisiva. Chega a enjoar. Mas não desdenhemos: o processo é mais importante do que a copa.
Quanto à copa do mundo, penso que nossa burocrática e esforçada seleção poderá até chegar ao título. Se assim acontecer, teremos títulos de mais para futebol de menos, pois a arte e a improvisação andam cada vez mais rarefeitas sob a camisa canarinho. Quanto aos adversários, além da unânime Espanha, tenho receio de duas outras: Inglaterra e Costa do Marfim. A primeira porque há tempos não reunia tantos jogadores de boa qualidade, a começar pelo perigosíssimo Roney. A segunda porque parece chegar a hora de uma seleção africana colocar a mão na taça, e Costa do Marfim é a mais apta.
Se para os brasileiros, no futebol manifesta-se o patriotismo, na política resta o conformismo, mesmo com os discursos vazios, o pipocar dos foguetes, os enjoativos jingles, os maquiados rostos dos candidatos, todos sorridentes (não se trata de sorriso comercial, mas eleitoral). O brasileiro é antes de tudo um conformado, acostumado a olhar para trás na hora de escolher os novos mandatários, já que para frente não costuma mirar nada mesmo. Para um povo sem metas, resta escolher as alternativas nas prateleiras do passado.
O patriotismo brasileiro é sempre manifesto no futebol. Lembro-me de, quando criança, no pequeno grupo escolar do interior, todos nós tínhamos que cantar o hino nacional antes das aulas. Hoje isso só acontece no início das partidas de futebol (até as do campeonato goiano) e durante o recebimento de medalhas olímpicas, mesmo assim com os espectadores tirando titica do nariz ou coçando alguma parte do corpo. Capaz que a maioria não sabe se o “berço esplêndido” fica antes ou depois do “retumbante”. Fico pensando: cada um de nós deveria aproveitar as bandeiras verde-amarelas que sobram da copa e conduzi-las até a eleição como uma atitude de amor pelo Brasil, a exigir mulheres e homens públicos que se comprometam ao menos com a educação das crianças e dos jovens.
Futebol e política têm mais a ver do que imagina nossa vã filosofia.
* Idelmar de Paiva é auditor fiscal e escritor.
Posted by Sandino at 12:57 PM | Comments (0)
junho 09, 2010
O grande trauma de 82
Por Bruno Padron
Desde 70 o Brasil não conquistava a Copa do Mundo, e aquele escrete era apontado como um dos grandes favoritos ao título na Espanha. Afinal, um time que contava com um meio-campo formado por Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico não poderia ter outro tratamento.
A primeira fase da competição confirmou as expectativas. Após jogo duro contra a União Soviética, vencida pelo Brasil por 2x1, duas goleadas sobre a Escócia (4x1) e a Nova Zelândia (4x0).
Na etapa seguinte, devido às campanhas irregulares dos adversários, o grupo triangular do Brasil incluía Itália e Argentina. A Itália classificou-se com 3 empates na fase anterior e a Argentina havia perdido no jogo de estreia para a Bélgica.
O Brasil estreava com uma grande vitória sobre a Argentina. Com um espetáculo oferecido pela nossa seleção, cravamos 3x1 no time de Maradona, com direito à expulsão deste aos 40 minutos do 2º tempo. Com a vitória da Itália sobre nossos vizinhos continentais por 2x1, a vaga para as semifinais seria disputada no último jogo com a Squadra Azzurra, tendo o Brasil a vantagem do empate.
O jogo, que ficou conhecido como a Tragédia do Sarriá, foi um divisor de águas na história do futebol brasileiro. Os três gols de Paolo Rossi sobre uma seleção que não abdicou, mesmo com a vantagem que o regulamento lhe dava, do direito de praticar um futebol muito bem jogado, provocaram enorme reflexão sobre a falta de competitividade do nosso futebol.
Ali iniciou-se um intenso debate que envolveu dirigentes, treinadores e jornalistas sobre a necessidade de tornar nosso futebol novamente vencedor. Os jogadores, tratados como escravos da bola, pouco espaço tinham para opinar.
Enquanto para alguns o jogo do Sarriá foi uma fatalidade e a bela essência do futebol brasileiro não poderia ser alterada, pois vencemos três Copas exibindo um futebol de gala; para outros o futebol mundial já não era mais o mesmo, e necessitávamos nos adaptar às mudanças promovidas no mundo da bola.
Era a famosa pergunta: jogar bonito e perder ou jogar feio e ganhar?
Citavam-se como exemplos as derrotas da Hungria, em 54, de Portugal, em 66 e da Holanda, em 74. Estas três seleções encantaram o mundo, mas perderam. O Brasil somava-se ao grupo das grandes seleções que não venceram.
A questão pareceu resolver-se em 94, com o tetra do Brasil. Futebol burocrático e campeão. Inaugurava-se ali um novo paradigma para o nosso futebol.
Inúmeros volantes de qualidade discutível passaram a vestir a camisa da seleção brasileira. Enquadravam-se no novo perfil buscado pelos comandos técnicos brasileiros que se sucederam: homens fortes, com excelente condição física, capazes de perseguir adversários durante 90 minutos. Alguns deles até sabiam passar a bola para o lado, não muito mais do que isso.
Até nas peladas de hoje em dia exige-se marcação forte e, quem diria, até aplicação tática. Amador ou profissionalmente, proliferam-se carrinhos, empurrões, pancadas.
Partir para cima do adversário com dribles virou crime hediondo. Quem o faz é severamente punido com faltas violentas. Afinal de contas, no futebol de hoje impera a seriedade. Driblar é antiprofissional, ou até antiético!
Vez por outra o futebol brasileiro dá alguns gritos de liberdade. Com pedaladas, lençóis, carretilhas, canetas, alguns jogadores nos fazem lembrar como era bonito o nosso futebol. Mas basta alguém driblar mais do que deve, lá vem um zagueiro disciplinador impor a nova moral do futebol. A moral da força.
Se por acaso sobram dúvidas sobre a competitividade do futebol bem jogado, fica uma adaptação de uma canção de Chico Buarque: “Mirem-se no exemplo daqueles Meninos da Vila...”
A seleção de 82: "Tragédia do Sarriá" foi um divisor de águas na história do futebol brasileiro
Posted by Sandino at 05:43 PM | Comments (0)
Vitórias inesperadas do futebol mais "feio"
Por Rodrigo Vianna, de Johanesburgo para o Vermelho
O corpulento Gentile grudou feito carrapato em Zico, chegou a rasgar a camisa do “galinho” na área. A TV mostrou, só o juiz não viu o pênalti. Verdade que o Brasil também tinha Sócrates, Falcão, Junior, Leandro. Era um timaço. Mesmo assim, acabou batido pelo futebol feio dos italianos. A derrota, por 3 a 2, ficou conhecida como “A Tragédia de Sarriá” (nome do estádio espanhol onde se deu a malfadada partida).
Aquela foi uma derrota tão marcante como a de 1950 no Maracanã. Depois de Sarriá, os brasileiros nunca mais ousaram jogar “pra frente”, com liberdade total para os craques. Desde então, o Brasil aprendeu que – pra ganhar – muitas vezes é preciso jogar “feio”. Mais ou menos como Lula fez com os juros do Banco Central no primeiro mandato!
Mas não precisamos exagerar (nem nos juros, nem no futebol). Na lamentável Copa de 1990, por exemplo, o Brasil jogou um futebol tão burocrático e previsível como a política de Meirelles no BC.
As conquistas de 94 e de 2002 mostram bem isso.
Depois de abandonar o “complexo de vira-lata” em 1958, o Brasil aprendeu - com a derrota de 1982 - a não apostar tudo no futebol “cordial” (a expressão “homem cordial”, cunhada por Sergio Buarque de Holanda, designa uma tendência brasileira à informalidade, ao predomínio do coração, a colocar as relações pessoais acima e à frente de considerações coletivas).
Pode ser uma boa lição. Desde que o “coletivo” não funcione como uma camisa de força, desde que se abra espaço para a criatividade surgir aqui e ali. Foi assim com a genialidade de Romário em 94, e com a categoria de Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo em 2002.
O Brasil aprendeu, com as lágrimas derramadas após a derrota de 1982, a mesclar o coletivo e o individual. Sinal de amadurecimento. Por mais que muitas vezes tenhamos saudades do futebol mais “solto” e “irresponsável” de outros tempos.
Mas o tema desse artigo não é o Brasil. Voltemos aos nossos adversários de 82...
A Itália, além do brutamontes Gentile, tinha a firmeza de Zoff no gol, e o oportunismo de Paolo Rossi na frente. Ele fez os três gols da vitória contra o Brasil. Nunca mais jogou tanto, como naquela Copa, em que a Itália seria campeã de forma surpreendente – depois de se classificar para a segunda fase jogando um futebol medíocre, com três empates e apenas dois gols marcado!
Não foi a primeira vez que o time que joga “feio” leva a taça.
Nas últimas décadas, os italianos ficaram com a fama de retranqueiros (justa, aliás); mas os especialistas em ganhar sem ter o time mais vistoso são os alemães.
Foi assim em 1954. A máquina do futebol mundial era a Hungria de Puskas. Meu avô sempre contava que os húngaros eram tão bons que, no começo dos anos 50, clubes paulistas importavam treinadores de futebol da Hungria – para ensinar técnica aos brasileiros (como bater na bola, como dominá-la, como chutar com efeito, usando o lado do pé).
Na primeira fase, a Hungria massacrou os alemães: 8 a 3! Quem viu os húngaros jogar (não é o meu caso) garante que era um futebol tão bonito quanto o brasileiro entre 1958 e 1982. Havia espaço para a criatividade dos craques, comandados por Puskas.
O time germânico não tinha nada disso. Mas tinha o esforço coletivo. E tinha a vontade sobre-humana de conquistar o título para mostrar ao Mundo que – após a barbárie na Segunda Guerra – o país era capaz de se organizar e vencer.
Húngaros e alemães foram pra final. E a eficiência germânica derrotou a genialidade de Puskas: 3 a 2.
Em 74, a história se repetiu. O esquadrão da moda era a Holanda de Cruyff. Na “laranja mecânica”, não havia posíções fixas. Os jogadores tinham liberdade para girar pelo campo, sem grandes amarras. Os holandeses eliminaram o Brasil, e foram à final contra a Alemanha, como favoritos.
Mas a Alemanha tinha o esforço coletivo. E tinha mais que isso: a
categoria de Beckenbauer, a segurança de Zepp Mayer no gol, e o oportunismo de Gerd Muller. Na final, Vogts grudou em Cruyff (como Gentile faria com Zico em 82). Vitória alemã, em casa, por 2 a 1.
Muito antes do Brasil, a Alemanha já tinha aprendido que talento e jogo coletivo podem entrar juntos em campo. E, normalmente, trazem vitórias.
Em 2010, será que essa será a tônica?
Quem joga mais “bonito”, mais “solto”? A Espanha, sem dúvida, seguida talvez pela Argentina de Messi.
Do lado da eficiência estão Brasil e (como sempre) Alemanha.
Será que a eficiência brasileira vai embotar e tolir o talento de nossos jogadores. Pelo que vi nos treinos por aqui, temo que sim.
Temo que a vitória possa vir de um time que fica no meio do caminho, como a Inglaterra: aposta no coletivo, mas abre espaço para o individual – com Rooney, Lampard e Gerrard (sem falar no ótimo zagueiro Terry).
Para vencer, a (favorita) Espanha terá que aprender a dura lição: é preciso dar espaço para a criatividade, sim, mas sem esquecer que no futebol um brutamontes como Gentile pode sempre barrar o talento de um Zico.
Para vencer, é preciso mais do que craques – como mostram os exemplos de 1954, 1974 e 1982.
Zico e Gentile no mundial de 1982: vitória da marcação
Posted by Sandino at 05:23 PM | Comments (0)
A Copa de 2010 e a segunda libertação dos sul-africanos
Por Fernando Damasceno
Havelange seria eleito em 1974 e só deixaria o cargo em 1998, depois de organizar seis mundiais. O principal trunfo dessa vitória seria devidamente reconhecido ao longo de seu mandato: a valorização de países que até os anos 1970 eram relegados a meros coadjuvantes do futebol mundial, como aqueles reunidos em torno das federações da Oceania, da Ásia e, principalmente, da África.
A primeira das retribuições de Havelange a essas nações periféricas se deu na Copa de 1982, na Espanha, quando o número de seleções participantes foi aumentado de 16 para 24 — permitindo, assim, que africanos, asiáticos e eventualmente algum país da Oceania participasse da competição. Dezesseis anos depois, no Mundial da França, esse número chegaria aos atuais 32 competidores.
A Copa de 1978, realizada na Argentina, ilustra muito bem como era feita a divisão entre as 16 seleções participantes do torneio: dez europeus, quatro americanos, um africano e um asiático. Quatro anos depois, com 24 equipes, a Fifa cedeu 14 vagas para a Europa, seis para a América, dois para a África, uma para a Ásia e uma para a Oceania.
Rodízio
A retribuição política de Havelange, no entanto, não se limitaria ao acréscimo de seleções presentes nos mundiais — ela se daria também na possibilidade de organizá-los e sediá-los. Até 1998 (ano em que Havelange transfere a presidência para seu fiel secretário-geral, o suíço Joseph Blatter), 16 mundiais haviam sido disputados: sete no continente americano e nove na Europa.
Antes de deixar o cargo, Havelange já havia acertado com federações de todo o mundo que a organização das copas passaria por um rodízio de sedes entre diferentes continentes. O Mundial de 2002, co-organizado por Japão e Coreia do Sul, foi a primeira ação concreta de tal acordo. Em 2010 o planeta verá a continuidade desse processo.
Por que a África do Sul?
O desejo de Havelange e Blatter de ver uma copa do mundo ser organizada na África se dará, na realidade, com quatro anos de atraso. Pelos planos dos dirigentes, o Mundial de2006, realizado na Alemanha, já deveria ter feito parte do esquema de rodízio iniciado com a escolha de Coreia do Sul e Japão para o evento anterior.
Ao longo da última década, a Fifa tem definido a sede de cada copa do mundo com seis anos de antecedência. Assim, em 2000 esperava-se que algum país africano emergisse como o vencedor do processo de escolha, mas, na última hora, a Alemanha garantiu mais apoios nos bastidores e desbancou justamente a África do Sul.
A vitória de um país europeu repercutiu muito mal entre as federações dos países considerados periféricos. Como consequência, a Fifa determinou que os mundiais seguintes viriam a ser realizados por algum país africano, em 2010, e por um americano, em 2014. Caberia às nações de cada continente definir quais seriam seus candidatos.
Dessa forma, quatro anos depois, além da preterida África do Sul, também se apresentaram como candidatas ao Mundial de 2010 as confederações de Egito e Marrocos — dois países com histórico futebolístico superior à dos sul-africanos.
Apesar da pouca tradição, a África do Sul, que disputara apenas os mundiais de 1998 e 2002, venceria por 14 votos a 10 a eleição final no comitê-executivo da Fifa, contra o Marrocos. De antemão, já se sabia que somente uma sucessão de tragédias poderia tirar dos sul-africanos o direito de sediar a Copa de 2010. O mal entendido de quatro anos antes e a favorável condição econômica do país perante seus concorrentes eram elementos suficientes para evitar uma nova surpresa.
Passado vergonhoso
O modus operandi da política mundial e as grandes mazelas socioeconômicas explicam a pouca tradição do continente africano no que diz respeito à organização de grandes eventos esportivos. A África do Sul, de modo mais específico, ainda apresentava, até 1990, outro empecilho: o apartheid (“separação”, no idioma africânder).
O vergonhoso regime sul-africano, ao contrário do que pensam alguns, não era composto por meros costumes culturais ou opções de determinados grupos do país. O apartheid era uma política implementada por meio de uma legislação específica, resultado da vontade de uma elite branca, minoritária e racista.
Somente em 1990, com o fim do regime que, entre outros absurdos, proibia aos negros o direito ao voto e a determinados direitos (como o acesso a certos hospitais, escolas e empregos), a África do Sul deixou de ser condenada internacionalmente por organismos como a Organização das Nações Unidas, por exemplo. Esse avanço também seria repercutido no âmbito esportivo mundial.
A primeira demonstração da capacidade sul-africana de organizar e sediar um evento esportivo de caráter mundial se deu em 1995, durante a Copa do Mundo de Rúgbi, realizada no segundo ano do governo de Nelson Mandela — o filme “Invictus”, de Clint Eastwood, retrata esse episódio histórico. Oito anos depois, em 2003, o país receberia a Copa do Mundo de Críquete.
Nenhum desses eventos, no entanto, se compara à grandeza e à importância de um mundial de futebol, que tradicionalmente é mais acompanhado dos que os Jogos Olímpicos. Alguns números ilustram a tarefa que os sul-africanos estão enfrentando: em 2006, a Copa da Alemanha foi vista por 3.353.655 de pessoas nos estádios e por cerca de 27 bilhões de pessoas em todo o mundo, na audiência televisiva acumulada dos 64 jogos, transmitidos por 376 emissoras de todo o planeta.
Legado
O ex-presidente Nelson Mandela prestigiará a abertura do Mundial, em 11 de junho, na cidade de Johanesburgo. Sua presença certamente será a mais aplaudida entre as personalidades presentes e simbolizará o fim de um ciclo, iniciado 20 anos atrás, com o fim do apartheid: a de que seu país, após décadas de reacionarismo político, conseguiu dar um passo à frente e é capaz de, unido, organizar um evento da magnitude de uma copa do mundo de futebol.
Além disso, a organização da Copa deixará um importante legado para a nação, tanto na área esportiva quanto no que diz respeito à infraestrutura. Governo e iniciativa privada investiram pesado em áreas como telecomunicações, transportes, turismo e segurança para atender às exigências impostas pela Fifa ao país-sede de cada torneio. Após o mês de festas e disputas, essa herança será usufruída pela população.
Com o exemplo recente do Brasil, que em um curto período de tempo foi capaz de garantir a organização da Copa seguinte, em 2014, e dos Jogos Olímpicos, em 2016, o continente africano vê no Mundial de 2010 uma oportunidade única. Dirigentes esportivos africanos já especulam que em 2020 será a vez de seu continente abrigar uma edição das Olimpíadas. Membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) já admitem a existência de um lobby nesse sentido.
Americanos, asiáticos e europeus talvez não tenham a exata noção do que significa para um africano organizar eventos de tal porte. Uma frase do sul-africano Danny Jordan, presidente do comitê organizador da Copa do Mundo de 2010, é singular para essa compreensão: “O direito de realizar o Mundial foi tão importante para a África do Sul quanto a libertação de Nelson Mandela e o fim do apartheid. Acho que foi quase uma segunda libertação para nós”, resumiu.
Mandela prestigiará a abertura do Mundial: "realizar o Mundial de futebol é tão importante para a África do Sul quanto o fim do apartheid"
Posted by Sandino at 05:19 PM | Comments (0)
As maiores "goleadas" em Copas
15/06/1982- Hungria 10 x 1 El Salvador
18/06/1974- Iugoslávia 9 x 0 Zaire
17/06/1954- Hungria 9 x 0 Coréia do Sul
01/06/2002- Alemanha 8 x 0 Arábia Saudita
02/07/1950- Uruguai 8 x 0 Bolívia
12/06/1938- Suécia 8 x 0 Cuba
20/06/1954- Hungria 8 x 3 Alemanha
19/06/1974- Polonia 7 x 0 Haiti
20/06/1954- Turquia 7 x 0 Coréia do Sul
19/06/1954- Uruguai 7 x 0 Escócia
03/07/1950- Brasil 7 x 1 Suécia
27/05/1934 - Itália 7 x 1 Estados Unidos
23/06/1954- Alemanha 7 x 2 Turquia
08/06/1958- França 7 x 3 Paraguai
26/06/1954- Áustria 7 x 5 Suíça
Em 1982, mesmo eliminada a Hungria fez 10 gols numa única partida
Posted by Sandino at 04:06 PM | Comments (0)
As maiores "zebras" das Copas
Coreia do Norte 1 x 0 Itália (1966)
Após perder da URSS e empatar com o Chile, a Coreia do Norte deveria se despedir da Copa perdendo da Itália de Rivera e Facchetti, uma das grandes favoritas ao título. Mas faltou avisar isso aos norte-coreanos. Em um ambiente inóspito (o país não tinha relações diplomática com o Reino Unido), o time asiático fez 1 a 0 com Pak Doo Ik e eliminou a Azzurra.
Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra (1950)
Os ingleses se achavam os melhores do mundo e, por isso, só foram disputar sua primeira Copa em 1950. E depois de vencer o Chile por 2 a 0, apanharam da fraca seleção dos Estados Unidos, em um jogo histórico, que virou o filme The Game of Their Lives (abaixo) Na rodada seguinte, o English Team perdeu também da Espanha e saiu humilhado do mundial.
Argélia 2 x 1 Alemanha (1982)
A Alemanha (vice-campeã) chegou com um time fortíssimo à Espanha, com Rummenigge, Schumacher, Breitner e Littbarski, mas logo na estreia ficou paralisada. Com gols de Madjer e Belloumi, a Argélia conseguiu a primeira vitória de um africano sobre um europeu na história das Copas do Mundo.
Em 66, os norte-coreanos eliminaram a Itália
Posted by Sandino at 04:01 PM | Comments (0)
A Copa do Mundo é nossa...
E a África do Sul era logo ali mesmo. Para celebrar o mundial, vou publicar uma série de artigos, vídeos, músicas e fatos que marcaram a competição. Confesso que sou mais “corinthiano” do que “canarinho”. Em Copas, torço para quem apresenta o melhor futebol. Nesta Copa do Mundo, vou torcer (pela ordem) para que o vencedor seja um país africano, Brasil (seleção do Dunga), Argentina, Espanha ou Chile. Apita o árbitro...Que vença o melhor!
Posted by Sandino at 03:57 PM | Comments (0)